A frustração com o desempenho da economia da China não ficará restrita ao país asiático e os efeitos já podem ser sentidos na Bolsa brasileira. Isto porque, o cenário chinês lança pressão também sobre as receitas e rendimentos das mineradoras, especialmente da Vale (VALE3).
A China teve o pior ritmo de crescimento econômico dentro do período de 5 trimestres. O PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu 4,7% no 2º trimestre de 2024. Esse resultado ficou aquém dos 5,1% projetados por economistas.
Os dados do Gabinete Nacional de Estatísticas mostraram um varejo mais fraco, uma crise prolongada no setor imobiliário e insegurança no mercado de trabalho.
Com isso, para as mineradoras brasileiras, cujo maior comprador do minério de ferro é a China, o quadro representa menores vendas, menores lucros e queda no valor dos ativos globalmente. Todavia, analistas consultados pelo BP Money veem esse efeito mais forte no longo prazo.
“Isso impacta significativamente, porém, esse impacto não vai começar a ser sentido agora […] Desde que a China não entre em uma profunda crise, não vai criar nenhuma grande crise global, setorial ou não”, avaliou Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.
No fechamento da véspera, as ações da Vale (VALE3) estiveram em queda durante toda a sessão, pressionando o Ibovespa, desvalorizando 1,05%.
Nos demais setores de exportação, os efeitos da desaceleração da economia chinesa não deve ter tantos impactos, segundo Corano. No caso do petróleo, o reflexo pode ser pela queda no consumo da commodity por uma grande economia, que puxa os preços para baixo.
“Isto, neste momento, é bom, em razão de quase todos os países do mundo estarem lidando com uma pressão inflacionária”, disse Corano.
Já as empresas do agronegócio e pecuária não devem acompanhar o declínio, visto que a demanda por alimentos na China segue crescendo, disse o economista.
No entanto, o endividamento ainda preocupa os consumidores, que tem alterado seus padrões de consumo. Com isso, esse setor tem demonstrado sinais de desaceleração na China, explicou Frederico Avril, sócio fundador da Septem Capital.
O que explica a crise imobiliária na China?
Os negócios do setor imobiliário na China vivem um panorama crítico. Armazéns e parques industriais, por exemplo, atraiam investimentos internacionais durante o boom do comércio eletrônico, porém, agora, estão perdendo inquilinos e vendo sua atividade comercial cair drasticamente.
Os proprietários de edifícios industriais, torres de escritórios e outros imóveis para uso comercial, estão tendo que reduzir os aluguéis e diminuir os prazos de locação. Ao passo que os FIIs (fundos de investimentos imobiliários) desse segmento despencaram.
O excesso de capacidade e o endividamento elevado da maioria das empresas do setor são problemas críticos, bem como as vendas de imóveis, que seguem fracas.
“O governo chinês reconhece a necessidade de uma reforma estrutural nesse setor e está trabalhando para estabelecer um novo modelo de desenvolvimento imobiliário que equilibre melhor oferta e demanda por lá”, indicou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Mesmo com o governo chinês reafirmando constantemente que medidas serão tomadas para reestruturar as dívidas e estabilizar o setor, o percurso é desafiador.
“A confiança do mercado permanece baixa, mas a recuperação plena do setor imobiliário será crucial para a saúde econômica do país”, disse Lima.
Pensando na recuperação econômica, espera-se que o governo da China implemente uma série de políticas fiscais e monetárias, assim como um aumento no investimento em infraestrutura e estímulos ao consumo.
“É esperado também que a China acelere a abertura de sua economia, facilitando o investimento estrangeiro através de medidas de estabilização e isenções de vistos para negócios”, frisou Lima.
Além dos imóveis, consumo está debilitando economia
O enfraquecimento econômico do país, que é considerado a 2ª maior economia do mundo, vem por meio de alguns fatores como a demanda interna ainda fraca e uma recuperação mais lenta que o esperado no consumo.
“Vale citar também a confiança do consumidor, que permanece baixa, com muitas famílias ainda cautelosas em gastar devido a incertezas econômicas e um mercado de trabalho desafiador, caracterizado por altas taxas de desemprego entre os jovens”, explicou Lima.
Frederico Avril complementou a lista de causas ao baixo desempenho chinês, citando os impactos das políticas de contenção de crédito, devido às medidas de controle no acesso, visando os riscos financeiros.
Não apenas isso, mas a guerra comercial e as tensões geopolíticas que a China enfrenta, pelas disputas com os EUA, impactam de forma negativa o comércio externo e investimento estrangeiro.
“Para estimular a economia, o governo chinês pode adotar medidas como: redução das taxas de juros, aumento dos gastos públicos em infraestrutura e investimentos em setores de alta tecnologia para promover o crescimento sustentável e a competitividade global”, comentou Avril.