A tarde de 8 de janeiro ficou marcada na história brasileira. Em um dia de fúria, inúmeros manifestantes bolsonaristas invadiram os prédios públicos de Brasília e promoveram uma quebradeira geral. Apesar da polícia e o exército terem prendido vários vândalos, esses atos terroristas continuam sendo vistos com muita tensão desde então. Em um contexto de crise, os analistas consultados pelo BP Money acreditam que esse período de instabilidade política no Brasil irá afetar alguns setores essenciais da economia brasileira, como varejo e construção civil.
A crise política impacta quais setores da economia brasileira?
Na visão do economista Rica Mello, ao promoverem atos terroristas, os manifestantes bolsonaristas acabaram aumentando a percepção de risco do Brasil e criando um clima de incerteza, cenário que afeta a confiança dos investidores.
“Uma crise política acaba impactando a economia brasileira como um todo. E por que? Porque a crise política traz incerteza e insegurança. Uma crise política geralmente começa do nada, pois existe alguma insatisfação de algum lado do eleitorado e essa insatisfação vai crescendo até eclodir, gerando greves”, disse.
“Quando isso acontece, o mercado inteiro fica na expectativa se essa crise vai se desenrolar por mais tempo ou vai conseguir ser abafada rapidamente. Enquanto a crise não é debelada, todos os grandes investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, de médio e longo prazo são travados”, complementou.
Ao passo que traz grande incerteza ao mercado, Luan Alves, analista Chefe da VG Research, alerta que uma instabilidade política brasileira tem potencial para afetar negativamente todos aqueles setores que dependem da confiança dos empresários.
“Esses atos terroristas acabam atrapalhando as empresas que dependem mais da confiança dos empresários e consumidores, como setores de varejo, educação, construção civil, aviação e turismo”, afirmou.
Para Idean Alves, chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, um período de grande crise política acaba por prejudicar aqueles setores que são mais voláteis, visto que um contexto de instabilidade pode mudar a expectativa de crescimento e juros, afetando o mercado de ações.
“Os setores mais impactados são os mais voláteis, como varejo, tecnologia, educação e construção civil, pois qualquer mudança na expectativa de crescimento e mudança na taxa de juros afeta eles de forma drástica no intraday. Isso significa muitas vezes variações de 5% no mesmo dia, sendo realmente um teste para “cardíaco” pensando nos investidores mais desavisados”, explicou.
Instabilidade política irá atrapalhar estatais, apontam analistas
Além de atacarem os prédios do Congresso e do STF, um grupo terrorista de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou atacar as refinarias da Petrobras (PETR3;PETR4). Ação essa que foi reprimida com a atuação conjunta da FUP (Federação Única dos Petroleiros), sindipetros e poder público.
Apesar de não conseguirem atacar o patrimônio da estatal, um grupo de vândalos bolsonaristas conseguiram derrubar a torre de transmissão de Furnas que interliga a hidrelétrica de Itaipu ao sistema elétrico brasileiro.
Saulo Abouchedid, coordenador do Núcleo de Estudos de Conjuntura Econômica (NEC) da FACAMP, afirma que as estatais são extremamente afetadas com essa crise política brasileira, pois futuros atos terroristas podem atrapalhar o funcionamento de suas atividades, afetando posteriormente seus resultados.
“No caso das estatais, uma crise política pode ameaçá-las por meio do terrorismo. Nós vimos as tentativas de invasão nas refinarias, então acredito que o terrorismo pode estender para as demais estatais. Com essas ameaças, as atividades dessas empresas acabam sendo afetadas, impactando seus resultados”, explanou.
Na análise de Mello, a crise política, provocada por bolsonaristas, acaba contaminando também o Congresso Nacional, sobretudo aqueles partidos que não estão no poder. Com isso, as estatais acabam sendo afetadas.
“A crise política acaba afetando bastante as estatais. Por que? Quem toca as estatais são indicados pelo Executivo, que tenta conseguir apoio no Congresso. Quando há uma crise política, os partidos que não estão no poder acabam fazendo um escrutínio muito maior sobre essas pessoas que estão à frente das estatais. Então isso acaba chegando no mercado e na imprensa”, afirmou.
“Ao chegar no mercado, a vida das estatais acaba sendo afetada, pois muitas delas estão na bolsa de valores. Com essa crise, os investidores acompanham o que está acontecendo em Brasília, afetando bastante os preços das ações das estatais no mercado”, completou.
Como a crise política pode afetar o Ibovespa?
Um dia após os ataques terroristas de Brasília (09), os investidores não se abalaram e o Ibovespa acabou fechando em leve alta de 0,15%. Apesar do pouco impacto, Alves crê que, se essa crise política se agravar, o principal índice da bolsa brasileira poderá perder os 100 mil pontos, afastando tanto o agente financeiro local quanto o estrangeiro.
“Como o Ibovespa representa a expectativa das principais e mais negociadas empresas da bolsa brasileira, ele seria fortemente afetado, muito provavelmente perdendo o seu suporte mais relevante hoje, na casa dos 100 mil pontos, e ficaria sem referência de preço, podendo corrigir ainda mais o preço, o que, além de afastar o investidor local, afastaria em grande medida o investidor estrangeiro”, relatou.
“As ações de estatais e as mais voláteis teriam uma correção maior, muito provavelmente com a contribuição do efeito manada, por meio de investidores assustados que fariam o preço das ações caírem rapidamente, com destaque para Petrobras, Banco do Brasil, Magazine Luiza, Enjoei, Méliuz, Via Varejo, Gafisa, Cogna”, complementou Alves.
Para Mello, as incertezas e inseguranças trazidas pela instabilidade política provocada em 8 de janeiro podem fazer com que os agentes financeiros saiam da bolsa e busquem investimentos mais seguros, como renda fixa. No caso dos estrangeiros, esses investidores podem buscar mercados emergentes mais politicamente estáveis.
“A crise política acaba afetando o Ibovespa porque traz insegurança e incerteza para o investidor. Então quando o investidor está inseguro, ele geralmente corre para títulos que são mais seguros, como títulos de renda fixa. Ele não vai ficar na bolsa. E o investidor estrangeiro ainda mais, pois existem vários mercados emergentes mais tranquilos, nos quais não existam grupos políticos brigando pelo poder”, disse.