Oi (OIBR3): como nova recuperação judicial impacta nas ações?

De acordo com especialistas, futuro da companhia tende à falência e, por isso, o mais indicado é não comprar papéis

A companhia de telefonia Oi (OIBR3;OIBR4) entrou com um novo pedido de recuperação judicial (RJ) na noite de quarta-feira (1º) e, segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, esse pedido levanta um alerta sobre o futuro da companhia, já que ela acaba de sair de uma primeira RJ, iniciada em 2016, e se mostra incapaz de quitar suas dívidas. Por conta disso, os analistas recomendam que os investidores não comprem papéis da empresa.

“A verdade é que, uma empresa que passou tanto tempo em recuperação e não conseguiu fazer nada, a tendência dela é a falência. Muitas empresas que entram em RJ vão à falência e a Oi, provavelmente, vai ser um desses casos. Primeiro porque a gente não sabe se [o pedido] vai ser aceito. Isso tudo é muito ruim, o mercado não vê com bons olhos”, disse o analista chefe e sócio da Harami Research, Fábio Sobreira.

O que deve acontecer a partir de agora, é que muitos acionistas irão querer sair da empresa e, por conta disso, irão vender por um preço abaixo do preço de face, como explica o sócio da consultoria Excellance-Gestão de Turnaround e Reestruturação, especializada em reestruturação de empresa, Max Mustrangi.

“Você abaixa o preço para ver se alguém tem coragem e compra. então a tendência é desvalorizar a ação pelo risco apresentado pela empresa. Aqui, a perspectiva é de falência”, disse.

De acordo com Mustrangi, o valor da ação é composto pelo fundamento da empresa, ou seja, pelos resultados que ela apresenta, como lucro, retorno sobre o capital, rentabilidade do negócio e perspectiva de crescimento futuro. Neste caso, a Oi é uma empresa que está apresentando um resultado decrescente e a perspectiva futura não é boa. “Então alguém vai comprar algo que está com tendência de falir?”, questionou.

O assessor de investimentos na WIT Invest, Eduardo Ruviére, concorda com essa visão. Para ele, a empresa não demonstra base fundamental para ser objeto de investimento, pelo contrário, é a empresa mais endividada da bolsa de valores, ocupando a posição de segunda maior RJ do Brasil, ficando apenas atrás de Odebrecht. Por conta disso, quem quer ter papeis da Oi, segundo o especialista, está apostando.

“Para o pessoal que continua apostando nisso, é literalmente a palavra ‘apostando’. Se você ver, a ação vale centavos. Então é especulação, porque base fundamental não tem, ela não tem números, não tem indicadores, não tem nenhum sinal de melhora. Pelo contrário, é um sinal que ela não tem para onde ir e que essa é a única chance dela”, disse.

Sobreira completa a visão dos especialistas e recomenda aos investidores que eles “se afastem desse tipo de empresa”.

Contudo, para aqueles que ainda querem especular, ele avisa para terem muita ciência que as chances do dinheiro virar zero são grandes.

“Hoje, a Oi é uma empresa com muita dívida e com pouca estimativa de recuperação. Essa RJ é um folêgo final, mas está cada vez mais difícil acreditar que ela vá conseguir se recuperar”, completou.

As ações da Oi (OIBR3;OIBR4) passaram a quinta-feira (2) inteira em baixa e fecharam com queda de 21,7%, a R$ 1,59. O preço das ações ordinárias da Oi variou entre R$ 1,59 e R$ 1,94 ao longo do dia e o volume movimentado foi de R$ 53,6 milhões, ante os R$ 49,6 milhões negociados na quarta (1º).

Já os papéis preferenciais, que são menos líquidos e caíram 13%, a R$ 3,09, hoje, variaram entre R$ 3,09 e R$ 3,46 e movimentaram R$ 1,06 milhão, o dobro dos R$ 524 mil negociados antes.

Oi: Dívidas em R$ 43 bilhões e recuperação judicial

A Oi atualizou suas dívidas, que estavam no valor de R$ 35 bilhões, sendo que R$ 29 bilhões eram devidos às instituições financeiras. Agora, o montante já soma R$ 43,7 bilhões. Dessas, R$ 1 bilhão é categorizado como classe 1, como são chamadas as dívidas trabalhistas.

Segundo explicam os especialistas, essa dívida é antiga, existente desde a primeira recuperação judicial.

“A Oi entrou com o primeiro pedido de RJ em 2016 e finalizou em dezembro de 2022. Nessa primeira, ela tinha R$ 65 bilhões [em dívidas] e sobraram R$ 35 bilhões. Trata-se de uma dívida antiga que eles não conseguiram pagar. Desta forma, a RJ é uma alternativa para a Oi conseguir negociar com os credores e ter mais prazo para reestruturação financeira”, explicou Ruviére.

Contudo, de acordo com Sobreira, essa nova recuperação judicial tem como problemática o curto espaço de tempo.

“Teoricamente, ela só poderia entrar novamente com esse pedido daqui há cinco anos, porque ela acabou de sair da sua outra recuperação judicial, que levou mais de seis anos [para finalizar]”, disse.

O documento foi ajuizado, na quarta-feira (1º), após o fechamento do pregão, em conjunto com suas subsidiárias Portugal Telecom International Finance B.V. e Oi Brasil Holdings Coöperatief U.A., perante a 7ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, em caráter de urgência – e ainda precisa ser aceito pela Justiça.

“Se ela não conseguir o aceite da RJ, é falência imediata, não existe outro caminho a seguir. O tamanho da dívida é brutal, não vai surgir ninguém colocando esse valor na mesa para fechar o buraco”, completou Mustrangi.

Especialistas falam sobre insustentabilidade

Para os especialistas ouvidos pelo BP Money, a Oi aparenta não ter condições de operar e de conseguir se reestruturar de forma que faça ela quitar suas dívidas e passar a dar lucro. Sendo assim, um possível caminho seria a venda delas para terceiros que iriam assumir suas dívidas. 

 “Apesar de tudo o que ela fez nesses seis anos, vendendo ativos, vendendo toda a parte de telecom, mesmo assim ela não conseguiu se livrar da dívida. E, agora, ela é uma empresa menor, não tem muito mais o que vender, não tem mais o que fazer para poder conseguir se livrar tão fácil”, disse Sobreira.

O especialista em reestruturação de empresas, Mustrangi, ressalta que a RJ no Brasil se mostra mais como um instrumento de postergação de falência.

“O que vai, de fato, fazer a empresa no futuro sair de uma recuperação judicial e seguir viva, é a atuação operacional, mercadológica, estratégica e financeira da empresa, bem menos que a parte jurídica. Esse é o grande problema das recuperações judiciais no Brasil, e por isso o índice de sucesso é tão baixo entre elas”, concluiu.