Credit Suisse não está no mesmo caminho de Lehman Brothers, segundo analistas

Especialistas consultados pelo BP Money destacaram até possível fusão como solução para o banco de investimentos suíço

O Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, tem passado por turbulências desde 2021. No último final de semana, entretanto, o banco internacional chamou a atenção do mercado, após o CEO Ulrich Koerner pedir aos investidores um “voto de confiança” e citar a necessidade de uma reformulação na estrutura da instituição financeira. Com indicadores ruins, o mercado começou a especular a possibilidade de calote e falência do banco, como ocorreu com o banco de investimentos Lehman Brothers, em 2008. 

Para analistas consultados pelo BP Money, mesmo com o Credit Default Swaps (CDS) – indicador de seguro contra risco de calote – de cinco anos do Credit Suisse atingindo o maior nível desde 2009, o banco não apresenta um risco significativo sobre isso. 

De acordo com Guilherme Zanin, analista da Avenue, o Credit Suisse tem sofrido com diversos fatores, inclusive externos, como a desvalorização do euro junto com  as quedas das bolsas do mundo e a proximidade da região do conflito da Ucrânia à instituição financeira.  

“Devido a essa comunhão de fatores negativos, com uma empresa com um resultado que não é positivo para o mercado, surgiram esses rumores e o CDS, que é esse prêmio de risco, acabou ficando bastante elevado e assim aconteceu o que a gente chama no mercado de “profecia auto realizável”. A instituição pode não estar quebrando, mas se os investidores correm para tirar o dinheiro dela, mesmo que não seja verdade os rumores, isso pode fazer com que o banco sofra ainda mais”, disse Zanin. 

“Historicamente, tanto o Credit Suisse quanto o Deutsche Bank, ao longo de anos, têm apresentado picos de riscos, desde 2012, não é uma novidade. São bancos que possuem retornos abaixo da média, e em alguns anos até negativos, diferente do mercado brasileiro, que as instituições financeiras dão lucros pomposos. Na Europa, pelo contrário, pela competição, pelas taxas baixas e pelos riscos de cada um dos segmentos que os bancos atuam, Credit e Deutsche Bank são instituições que não apresentam retornos significativos. Exatamente por isso as ações caem consideravelmente”, acrescentou Zanin.

O analista da Avenue também afirmou que o risco de falência do banco é algo superestimado pelo mercado. Isso porque apesar da situação não ser das melhores, é diferente de 2008, quando o Lehman Brothers, que tinha 159 anos de existência, decretou falência.

“O risco dessa instituição financeira quebrar é muito pequeno, porque ela entra naquele grupo de bancos “too big to fail” (muito grande para falir, em português). Essas instituições financeiras têm benefícios e vantagens, e outras instituições podem adquirir ou fazer uma fusão ou uma injeção de capital”, disse Zanin. 

Segundo o analista da Avenue, o próprio governo suíço tem interesse em manter o Credit Suisse, que é considerado uma das jóias da coroa das finanças do governo suíço. “A gente acredita que esses riscos todos anos aparecem. Isso mostra que eles não melhoram sua eficiência operacional, e por isso a gente não recomenda as ações”, pontuou Zanin.

O analista também salientou que a diferença entre a instituição financeira não apresentar bons resultados e quebrar é muito grande. 

“Esse risco não é desprezível, mas também não é significativo. A gente deve ver alguma intervenção, seja com uma aquisição, fusão ou injeção de capital do governo para ajudar a instituição. 

O CEO da Top Gain, Alison Correa, também afirmou que, analisando de forma mais cautelosa, e fazendo um levantamento em relação ao posicionamento de caixa da instituição financeira, o Credit Suisse tem quase 200% a mais de liquidez para honrar compromissos de curto e médio prazo caso seja necessário. 

“Claro que muitas pessoas lembram da crise do subprime em 2008, então todo mundo acaba se questionando se o Credit não estaria entrando neste mesmo processo. Mas levando em consideração os ativos que ele tem, é muito difícil imaginar uma falência do banco”, disse Correa. 

“Existe, sim, uma preocupação, o CDS de cinco anos, que é o indicador que mede a possibilidade de um calote ou não das instituições financeiras, chegou a subir mais de 100 pontos, então realmente é um cenário que o mercado está precificando de uma forma muito estressante, porém analisando os números, os dados e o caixa não acreditamos que uma falência esteja para acontecer”, concluiu o CEO da Top Gain. 

Credit Suisse é banco diferente do Lehman

O estrategista chefe da Guide Investimentos, Alex Lima, seguiu a mesma linha de raciocínio de Zanin e Correa e afirmou que a comparação com Lehman Brothers não tem nexo algum. 

“São bancos completamente diferentes. Credit é um dos melhores bancos que tem, um dos melhores buffers de capital da indústria. Pelo braço de wealth management, o Credit faz muito funding, tem mais de 370 bi de funding de depósitos de wealth management para um ativo de 790 bilhões de francos, então ele tem mais da metade dos ativos coberta por depósitos de qualidade, que são depósitos de cliente, só perde para o Bank of America”, disse Lima. 

“Do ponto de vista de funding, estrutura de capital, o Credit Suisse é forte. O problema é que a gestão dos ativos do banco, principalmente do banco de investimento, foi desastrosa nos últimos três, quatro anos, perderam muito dinheiro em vários deals e não é pouco dinheiro. O problema do banco é a rentabilidade. Tesouraria e banco de investimento perderam muito dinheiro nos últimos 3, 4 trimestres. Existe uma expectativa em torno da reestruturação do banco. Para manter o target, ele vai ter que levantar capital”, concluiu Lima.

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