Os quatro maiores bancos do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Brasil (BBAS3), Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), estiveram à frente de 57,8% das operações de crédito em 2023.
No anterior anterior, os bancões correspondiam à fatia de 58,6% e, em 2021, 58,9%, segundo dados do BC (Banco Central).
A redução ano após ano na participação dos chamados ‘bancões’ no mercado de crédito comunicam uma desconcentração, motivada por fatores econômicos e técnicos. Ao BP Money, Rafael Bellas, head de Fundos Listados e Alternativos, destacou o aumento da taxa Selic.
“Com juros altos, o empréstimo se torna mais caro, fazendo com que empresas e pessoas busquem alternativas mais econômicas que consigam oferecer melhores taxas devido a custos operacionais mais baixos e modelos de avaliação de risco diferenciados”, pontuou Bellas.
Além disso, evidencia Rafael, o cenário foi impactado por grandes eventos, como falências de empresas de destaque e crises em bancos internacionais, que “elevaram a percepção de risco nos grandes bancos e contribuíram para uma maior dispersão no mercado de crédito”.
“Esses eventos geraram uma desconfiança no sistema financeiro tradicional, incentivando a procura por opções consideradas mais seguras ou diversificadas”, completou o especialista.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, chama atenção para o que, em sua avaliação, é um dos principais fatores que contribuem para a desbancarização do crédito: o crescimento dos FIDCs (Fundo de investimento em direitos creditórios).
“A indústria de FIDCs no Brasil já representa 500 bilhões de crédito, e é dividida em vários segmentos, tendo algumas categorias com crédito à pessoa física, financiando e securitizando toda a cadeia, desde veículos, financiamento próprio, assim como a indústria de FIDC Multicedente/ Multissacado, que são crédito às empresas”, disse Eyng.
A expansão de bancos pequenos e médios e de fintechs no setor também estão levando à redução dos bancos tradicionais, oferecendo soluções de crédito direto ao consumidor, modelo conhecido como B2C, apontou Volnei.
Tendência é de “declínio contínuo” dos bancões, diz especialista
Apesar da redução na participação no mercado de crédito, os quatro maiores bancos do Brasil ainda correspondem à maior parte das operações.
A maior fatia no mercado de crédito pertence à Caixa (19,6%), enquanto o Banco do Brasil aparece em segundo lugar (16,4%). Enquanto isso, o Itaú e o Bradesco têm 11,5% e 10,3%, respectivamente, de porcentagem na participação.
Segundo Rafael Bellas, a tendência é que os bancões continuem reduzindo a presença frente às operações de crédito.
“No entanto, não se pode ignorar que os grandes bancos estão respondendo a estas mudanças através de inovações tecnológicas próprias e revisões em suas estratégias de negócio para manter a relevância”, destacou Bellas.
O cenário dinâmico no setor, sugere Rafael, evidencia a continuidade na evolução do mercado, com “implicaçoes significativas para consumidores e para as próprias instituições financeiras”, que precisam se adaptar constantemente para atender às novas realidades econômicas.
Gestoras absorvem as demandas do mercado de crédito
Com a desbancarização das operações de crédito, as gestoras têm ingressado com cada vez mais força no setor e diversificado produtos, com atuações especializadas no ramo do agro, construção civil e serviços, por exemplo.
De acordo com o CEO da gestora Multiplike, devido à bagagem com operações desde pequenas às grandes empresas, as gestoras estão preparadas para suprir as necessidades de negócio do empresariado brasileiro, cedendo altos limites de crédito.
“É importante ressaltar que essa indústria também tem ganhado a confiança e o gosto dos investidores, até mesmo por conta do atual cenário econômico, e por isso tem à disposição um bom volume de dinheiro para oferecer em forma de crédito para as empresas”, afirmou Volnei Eyng.