Crédito de carbono pode avançar com Lula, dizem especialistas

Comparado a outros países, Brasil precisa percorrer um longo caminho quando o assunto é mercado de crédito de carbono

Com uma agenda mais pró meio-ambiente do que Jair Bolsonaro (PL), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode colocar algumas pautas sustentáveis para discussão, entre elas, o mercado de crédito de carbono, como disseram especialistas consultados pelo BP Money. 

“Quando olhamos para questões ambientais, comparando Lula e Bolsonaro, é que agora teremos um presidente mais amistoso a essas pautas e que o mundo enxerga também dessa forma”, apontou Erik Sala, especialista em investimentos da DVinvest.

George Wachsmann, da Empiricus, concordou. Para ele, há uma percepção de que a pauta de meio ambiente é mais importante para o governo Lula do que para o governo Bolsonaro. “E mais do que isso, a percepção do mercado, principalmente internacional, é que essa pauta é mais relevante para Lula”, apontou. Não à toa, por exemplo, o governo pretende reabrir o Fundo Amazônia, e pode contar com governos exteriores, como da Noruega, no projeto. 

A visão da Greener, plataforma de tokenização de ativos focados na pauta ESG, passa pelo mesmo ponto. Ainda assim, Felipe Russowsky, presidente do conselho da Greener, entende que esse é um assunto de Estado, mais do que de governo. “É uma pauta suprapartidária e supra ideológica”, disse. 

Mesmo assim, há muito otimismo: “O mercado de carbono no próximo governo deve se desenvolver no Brasil com muita consistência porque é uma pauta coerente, inclusive, com o primeiro e segundo mandatos de Lula”, afirmou Russowsky.

O assunto já vem aparecendo nas discussões do próximo governo. Em setembro deste ano, antes das eleições, a deputada federal Marina Silva (Rede-SP) entregou uma carta a Lula, pedindo uma agenda socioambiental caso ele assumisse a Presidência da República. Segundo ela, em nenhum outro país as condições naturais para uma transição justa para uma economia de carbono neutro são mais evidentes do que no Brasil. 

“Temos alta capacidade para gerar energia de fontes renováveis como biomassa, solar, eólica e hidrelétrica, desde que em bases sustentáveis, e detemos as maiores áreas de florestas entre os países tropicais, enorme biodiversidade e a segunda maior reserva hídrica do mundo”, afirmou a parlamentar na carta.

Dessa forma, na opinião de Erik Sala, com pautas, com metas e governo mais amistoso, o Brasil pode criar um ambiente mais propício para desenvolver o mercado de crédito de carbono nacional.

O cenário do mercado de crédito de carbono no Brasil

A ideia desse mercado é que países e empresas que conseguirem diminuir a emissão de carbono para além das metas, poderão vender a sobra de créditos para os que não conseguirem atingir o objetivo. Mesmo que funcional no papel, atualmente, o Brasil vive muitos passos atrás de outros países quando este é o assunto. 

“Esse é um setor que não está nem em desenvolvimento, mas sim nascendo. E aí contamos não apenas o crédito de carbono, mas ativos sustentáveis como um todo”, explicou Russowsky. 

Segundo Wachsmann, o mercado brasileiro “é praticamente voluntário comparado ao exterior”. Na Europa e na Califórnia, por exemplo, o crédito de carbono já está precificado em € 60 e US$ 30 por tonelada, respectivamente. 

“Algumas regiões do mundo, como Europa e Califórnia, já tratam o tema de forma muito mais madura, o que pode ser influência do próprio público consumidor, mais ligado a questões de responsabilidade social”, opinou Russowsky.

Mesmo assim, a pauta vem avançando no país, como explicou Wachsmann: “Vemos um aumento muito grande de empresas preocupadas em zerar suas emissões, e, por conta disso, temos um aumento no número de projetos”, disse. Um exemplo é a PL 528/2021, de autoria do deputado Marcelo Ramos (PSD-AM). O projeto de lei, no entanto, está parado no Congresso. 

“O Brasil tem um grande potencial, talvez um dos maiores do mundo, para essa questão ambiental e de crédito de carbono, afinal, temos uma matriz energética mais limpa comparada a outros países”, apontou Erik Sala. Nesse sentido, os especialistas entendem que há espaço para desenvolver esse mercado de forma mais consolidada.

No ponto de vista econômico, Russowsky vê potencial de geração de receita com o crédito de carbono. “O Brasil pode ser uma grande “usina” de ativos ambientais, e com capacidade de fornecimento desse produto para o mundo. Para o novo governo Lula, esse pode ser um dos caminhos virtuosos para geração de receita no curto e médio prazo”, finalizou. 

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