Apesar dos seguidos prejuízos reportados pela CVC (CVCB3) nos últimos trimestres, incluindo o de R$ 94,8 milhões divulgado no segundo trimestre deste ano, a companhia tem uma tendência de recuperação de rentabilidade e, consequentemente, de seus resultados, segundo especialistas do mercado.
A CVC, assim como outras empresas ligadas ao setor de turismo e viagens, como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), têm sofrido na bolsa de valores de São Paulo (B3), há pouco mais de dois anos. Os números, entretanto, estão apresentando melhoras. Apesar da recuperação ser lenta, o progresso deve acontecer nos próximos trimestres.
Para Khalil de Lima, da Reach Capital, o maior desafio da CVC está relacionado à estrutura de capital da empresa. A expectativa, entretanto, é que ela continue apresentando um crescimento no número de reservas confirmadas.
“O take rate (percentual da receita líquida sobre as reservas) segue apresentando uma normalização frente à queda registrada no período pandêmico, e que ainda não retomou totalmente”, disse Lima.
“O quarto trimestre deve ter uma ótima demanda que deve puxar uma boa necessidade de capital de giro, devemos prestar atenção se vão conseguir alongar as dívidas e conversas com fornecedores para dar uma aliviada na pressão de caixa no curto prazo”, complementou Lima.
Para Lucas Lima, analista da VG Research, a CVC deve apresentar uma continuidade na recuperação das vendas, mas seguirá impactada pelo cenário macroeconômico (de inflação e taxa de juros elevadas).
“A indústria de turismo está diretamente relacionada ao cenário macroeconômico, sendo impactada por alterações em fatores como poder de compra, taxa de juros, inflação, disponibilidade de crédito, desvalorização do Real frente ao dólar e taxa de desemprego”, disse Lucas Lima.
“O crescimento das vendas no 3T22 deve ser impulsionado pela retomada das viagens de turismo, eventos culturais e corporativos, além da maior flexibilização para viagens internacionais. No B2C, a evolução também deve ser impulsionada pelo crescimento no número de embarques no período de férias de julho”, explicou o analista da VG Research.
O especialista também destacou que a rentabilidade da empresa deve apresentar uma recuperação tanto na comparação anual quanto na trimestral, já que a companhia tem melhorado suas estratégias de precificação no último ano.
“A rentabilidade no 2T22 foi afetada negativamente por alguns eventos, como por exemplo, a mudança no MIX com a recuperação substancial na Argentina, que possui um take rate menor que a média da companhia. Apesar da expectativa de uma boa rentabilidade no trimestre, precisamos ficar de olho na competição do mercado, uma vez que alguns players estão adotando uma estratégia bastante agressiva em relação a preços. A CVC tem por característica não entrar em guerras tarifárias, mas o efeito de algumas promoções pode atrapalhar a rentabilidade do 3T22 e principalmente no 4T22”, reforçou Lima, da VG Research.
Perspectivas para ações da CVC
A analista da Eleven, Victorina Minatto, explicou que a CVC é uma das empresas mais beneficiadas quando se trata de retomada de demanda por serviços deixados de lado durante a pandemia.
“Por esse motivo, esperamos que os resultados do 3T22 venham bem acima do mesmo período do ano passado, com uma melhora tanto na receita quanto na rentabilidade, e também uma melhora no prejuízo líquido que ela vinha apresentando nos últimos trimestres”, disse Minatto.
De acordo com Minatto, a CVC é uma empresa muito endividada e com a alta da taxa de juros ela tende a sofrer mais, porque o aumento dos juros pagos acaba pressionando mais ainda o seu resultado (que vem sendo de prejuízos nos últimos balanços).
“Ela também está passando por uma reestruturação operacional, uma espécie de turnaround, então ao mesmo tempo que ela é beneficiada, ela ainda é uma empresa com muito risco, mas para o terceiro trimestre esperamos uma melhora em todas as linhas do resultado, principalmente porque esse trimestre deste ano teve muito menos restrições e vimos uma demanda muito mais aquecida por viagens”, disse Minatto.
De acordo com Rafael Pastorello, analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, nas últimas semanas houve um movimento de alta tanto da CVC quanto de empresas ligadas ao consumo. Isso acontece porque o setor aéreo, em geral, acabou vendo com bons olhos a vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, mais ligado à política de melhora no consumo.
“Com essas políticas, teoricamente, mais assistencialistas, que são pautas do novo governo, pessoas que passarão a ter acesso a recursos poderão voltar a consumir produtos e serviços dessas empresas. O setor de consumo acabou precificando bem o resultado das eleições”, disse Pastorello.
“A perspectiva para o curto e médio prazo é a valorização na precificação. Agora, se isso vai ser estável, depende de muitas variáveis. Tem a questão da inflação, já que uma política assistencial muito forte acaba causando inflação nos preços. É preciso ver se isso será aliado a uma política mais contracionista do governo, uma elevação ainda maior da taxa de juros causaria um cabo de guerra: o consumo elevando a inflação e, por outro lado, se começar a baixar a taxa de juros antes da hora, se formará uma dinâmica não favorável no momento. Isso porque o Brasil, hoje, está com patamar de juros altos e a inflação começou a ceder”, destacou o analista de investimentos.
Segundo Pastorello, outra questão que ajudou na projeção das ações da CVC para cima foi o lançamento do programa de fidelidade da empresa, no qual os clientes acumulam pontos que podem ser resgatados em benefícios. “É uma ação que tem potencial para alavancar as receitas da empresa”, disse o analista.
“Em resumo, a perspectiva no curto prazo é boa, a precificação acredito que já tenha sido feita, mas a sustentabilidade do crescimento da empresa, da retomada do setor em si, depende de fatores macroeconômicos que precisaremos observar mais no curto e médio prazo, principalmente no ano que vem”, concluiu Pastorello sobre a CVC.