Para a CVC (CVCB3), viagem "por baixo" na Bolsa ainda deve ser longa

Maior agência de viagens do Brasil sofre com cenário macro desfavorável; ações acumulam queda de cerca de 40% em 2022

Desde a chegada da pandemia de covid-19, o setor de turismo foi um dos que mais sofreu na Bolsa. Maio expoente do setor na B3, as ações da CVC (CVCB3) eram negociadas a cerca de R$ 39 no começo de 2020. Agora, na casa dos R$ 7. Oportunidade? Para os especialistas consultados pelo BP Money, ainda não dá para falar que a empresa está “barata”. Isso porque o cenário não é favorável no médio prazo e é possível que o papel caia ainda mais. Além disso, a viagem para chegar no patamar pré-pandemia ainda deve ser longa. 

De acordo com o head de análise e sócio da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino, este setor é muito afetado pela inflação alta e, também, pela taxa elevada de desemprego (apesar da melhora recente). 

“A gente entra naquele sentimento de insegurança para gastos, então estamos falando de um cenário macro extremamente desfavorável. Se a gente pensar no que era antes da pandemia, é difícil falar que CVC está barato, porque caiu muito. Nada impede que ela fique mais barata”, disse Cozzolino. 

O aumento do petróleo tem feito o custo das companhias aéreas subir. Essa alta nos custos é repassada na passagem para os consumidores, o que encare os pacotes de viagens – ramo da CVC. Segundo Cozzolino, o cenário micro também não é bom para a empresa, já que existem novos players prestando serviços com mais vantagens e descontos melhores do que o da CVC. 

“Em um cenário micro, existem novos players prestando melhores serviços, nessa briga por preço, o que tira a margem da companhia. De fato, é um cenário ruim pra CVC. A empresa não está em nenhuma das nossas carteiras. Não é um cenário que a gente vê melhorando nem no micro nem no macro”, afirmou o analista da Levante.

O analista da Reach Asset, Khalil de Lima, reforça a fala de Cozzolino e diz que as perspectivas de curto prazo são ruins, dado que a CVC é muito utilizada pelo brasileiro de classe média, que – em grande parte – está com a renda comprometida.

“As viagens domésticas olhando pelo lado de Gol e Azul estão se recuperando contra 2019, em alguns trechos já são superiores. Porém a CVC não está capturando isso, porque existe muito uma questão que a pandemia acelerou o digital, e lá a competição é mais difícil para a companhia. Por outro lado, o brasileiro médio que usa a CVC está com a renda comprometida. Então isso acaba batendo um pouco nas perspectivas da empresa”, disse Lima.

De acordo com os especialistas, a população está tendo que optar por pagar a conta de luz ou de gás, e – no final – não sobra orçamento para pensar em viagens. Segundo eles, este movimento deve perdurar, já que a inflação seguirá em alta. Ou seja, o cenário ruim para o setor não é pontual. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (6), mostram que o número de viagens teve queda de 41% entre 2019 e 2021. Em 2019, os brasileiros fizeram 20,9 milhões de viagens. Já em 2020, o número caiu para 13,6 milhões, e em 2021 para 12,3 milhões.

Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, essa queda no número de viagens entre 2019 e 2021 já estava precificada pelo mercado. Por isso, não deve ter tanta influência sobre as movimentações das ações da CVC na bolsa nos próximos dias. 

“Já tinham feito o preço em cima do papel, pois foi um período onde existia toda uma questão de lockdowns, de pandemia e o mercado foi precificando isso. Por exemplo, nós estamos uma sequência desde abril de 2022, de uma queda de 63% em cima de CVC. Todo setor de turismo sofreu bastante e sofre ainda. À medida que aumentam os juros, mais cortes no consumo a população faz. Um dos cortes é no setor de turismo”, disse o especialista.

Na semana do dia 30 de junho, a CVC informou ao mercado que recebeu uma comunicação do Bank of America Corporation sobre a redução de participação acionária da instituição financeira para 555.490 ações ordinárias com a atribuição em dinheiro, representando 0,2% do total de ações emitidas pela companhia e 10.930.201 ações ordinárias de liquidação física, representativas de 3,9% do total de ações emitidas pela empresa do setor de turismo.

De acordo com Gonçalvez, da Box Asset Management, o fato reforça que não é hora de tomar risco em CVC.

“Enquanto tivermos juros nas alturas e um setor completamente deteriorado, as ações  provavelmente vão ficar nesse patamar. O Bank of America reduziu uma fatia expressiva em CVC. Até os gringos estão vendo que tomar risco em CVC é algo completamente arriscado. É um setor que vai continuar sendo deteriorado, por conta do cenário de alta de juros e inflação global”, concluiu Gonçalvez.