O banco Daycoval emitiu um Fato Relevante, na última sexta-feira (19), informando aos cotistas que o preço de alguns CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) do fundo Cartesia (CACR11) será reprecificado para baixo. A decisão gerou críticas e polêmica entre os investidores.
Os certificados remarcados correspondem ao Village Itaparica (BA), ao Real Park (SP), ao Santo André (BA) e Savoie (BA). Juntos, os empreendimentos representavam 56,87% da carteira do fundo até o dia 18 de setembro (quinta-feira).
Após o anúncio, a Cartesia se manifestou, através do Instagram, contra a remarcação dos preços dos CRIs em questão. Imbróglio ocorre após oscilações atípicas na negociação de cotas do fundo.
Desde a publicação do Fato Relevante, o CACR11 está em queda. Às 16h46 da quarta-feira (24), o FII caía 0,068%.
É importante dizer, de antemão, que o Daycoval ocupa a posição de administrador fiduciário do fundo imobiliário. Já a Cartesia, é gestora.
Sobre o fato relevante
Segundo o Fato Relevante, documento ao qual o BP Money teve acesso: “A Administradora decidiu reavaliar o valor dos CRI após tomar conhecimento de fatos, os quais constam em relatório gerencial produzido e divulgado pela Gestora”.
O principal motivo apontado para a remarcação foram as mudanças na estrutura de garantia dos CRI e reorganizações societárias das sociedades devedoras das notas que lastreiam os certificados (“SPEs” e “Notas”). De acordo com a análise do administrador, essas mudanças resultaram na deterioração da qualidade de crédito dos CRI em questão, o que motivou o Daycoval a reprecíficá-los.
Além disso, o documento cita que contribuíram para a análise “as incertezas em relação à capacidade de geração de caixa dos Empreendimentos, e o entendimento de que houve redução da capacidade de pagamento das SPE e fragilização das garantias das Notas.”
No fim do texto, o Daycoval afirmou que tem mantido um diálogo regular com a Gestora, “que se mostra confiante em relação às perspectivas dos Empreendimentos e tem a expectativa de materialização, nos próximos meses, de fatos que possam contribuir para uma precificação mais favorável dos CRI” e se pôs à disposição para prestar esclarecimentos adicionais.
No início de setembro, o Daycoval já havia emitido um comunicado em que não tinha conhecimento de qualquer ato ou fato relevante relacionado ao FII que pudesse justificar as oscilações atipicas registradas nas negociações de cotas.
“Cumpre ressaltar que o comportamento do mercado secundário de cotas de fundos de investimento imobiliário pode ser influenciado por diversos fatores externos ao Administrador, incluindo elementos macroeconômicos, variações de liquidez, conjuntura setorial e eventuais percepções decorrentes de informações de domínio público, veiculadas em meios de comunicação e redes sociais. Não obstante, o Administrador não dispõe de elementos que permitam correlacionar especificamente tais oscilações a qualquer fato concreto sob sua esfera de conhecimento ou responsabilidade”, disse o Daycoval.
Cartesia se manifesta nas redes socias
Um dia após a publicação do Fato Relevante, em 20 de setembro, a Cartesia publicou no Instagram da empresa um vídeo em que Richard Hoffmeister Sippli, sócio-fundador da Cartesia Capital, afirma que a gestora não está de acordo com a remarcação dos ativos.
“Nos últimos seis anos de gestão, a Cartesia nunca registrou inadimplência em sua carteira” , declarou Sippli.
O executivo afirmou que os fundamentos das operações seguem “sólidos” e que as “garantias reais seguem inalteradas”.
Além disso, Sippli destacou que a mudança societária relacionada aos CRIs, com o Grupo Sian, na verdade, trouxe mais qualidade para os empreendimentos da Bahia. “Uma das incorporadoras mais respeitadas do país, com quase meio século de atuação e mais de 200 obras entregues”, declarou.
“Essa reestruturação fortaleceu a governança, aumentou o VGV e otimizou os custos de obra, trazendo mais segurança e valor para os ativos“, disse o sócio-fundador da Cartesia no vídeo.
Richard Hoffmeister Sippli afirmou que a Cartesia já solicitou a avaliação independente dos empreendimentos e que o parecer será divulgado ao mercado em breve. Sippli também ressaltou que sua família e os sócios da Cartesia possuem posição comprada de longo prazo em cotas do CACR11, “representando parcela relevante das cotas em circulação”
Por fim, foi reforçado o otimismo para os próximos meses e no trabalho que está sendo conduzido na Gestora.
Polêmica entre os cotistas
Cotistas e investidores se manifestaram em comentários no próprio vídeo de comunicado oficial postado pela Cartesia e em fóruns online como o ClubeFII, muitos indicando a recompra de cotas pela gestora.
“Cartesia precisa urgente de mostrar todos documentos de garantias e fazer uma live somente sobre a segurança desses CRI, alou cartesia. Pelo amor de deus!”, disse um dos comentários no Instagram.
“Agradeço a manifestação e a iniciativa de contratar uma auditoria independente para reavaliar os CRIs, porém será ainda mais efetivo iniciar um programa de recompra de cotas, pois isso demonstraria convicção nos empreendimentos e alinhamento total com os cotistas”, afirma outro cotista em um dos comentários.
Declarações
Procurados pelo BP Money para mais detalhes sobre a remarcação das cotas do Cartesia e um pronunciamento oficial, a assessoria do Daycoval afirmou que não é da responsabilidade do banco, ennquanto Administrador, reprecificar os CRIs, contrastando com o informado no Fato Relevante do dia 19 de setembro.
A Cartesia Investimentos e a Sian Engenharia também foram procurados pela redação, mas não responderam até a publicação desta matéria.
O BP Money se põe à disposição para ouvir os pronunciamentos dos envolvidos na questão.