A Petrobras (PETR3;PETR4) tem feito a alegria dos investidores em 2022. Tanto os balanços positivos quanto os dividendos generosos atraíram o interesse maciço do mercado. Em agosto, a estatal até ganhou o posto de maior pagadora de proventos do mundo. Mesmo assim, os agentes financeiros acreditam que o ótimo momento da petroleira pode ser impactado pela eleição presidencial de 2022.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), atual presidente brasileiro, encabeçam todas as pesquisas eleitorais recentes. Faltando menos de um mês para o primeiro turno, a tendência é que algum dos dois vença a eleição presidencial.
Possível eleição de Lula assusta o mercado
Em campanha presidencial, Lula defendeu o fim do PPI (Preço de Paridade de Importação), política de preços adotada pela Petrobras. Além disso, o petista afirmou em julho que Bolsonaro “não teve coragem” de tomar medidas para reduzir o preço do combustível que sai das refinarias.
“Essa história de PPI é para agradar os acionistas, em detrimento dos 230 milhões de brasileiros”, afirmou Lula, em entrevista ao “UOL”.
Segundo analistas consultados pelo BP Money, uma possível eleição do petista assustaria os investidores e o mercado acionário, fazendo que muitos acionistas tirassem dinheiro da estatal.
“Tomando como base as falas recentes do ex-presidente Lula, propondo parar de seguir o PPI e deixando em aberto como os cargos executivos da empresa serão selecionados, o mercado pode se desfazer das ações da empresa, impactando negativamente as cotações e o índice Ibovespa no curto e curtíssimo prazo”, afirmou Davi Ramos, sócio-fundador da Vante Invest.
Segundo Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, uma vitória de Lula pode afetar até o pagamento de dividendos da Petrobras, visto que o ex-presidente defende mudar a política de preços da estatal.
“Uma eleição do Lula pode acarretar um novo presidente da Petrobras. Consequentemente, isso pode afetar os dividendos, pois quando você muda o presidente, você pode mudar a política de preços. No governo PT, a Petrobras viveu um dos momentos mais difíceis da sua história. O que se pode esperar de um novo governo do Lula com certeza é uma alteração nesta política atual de preços”, relatou.
Daniel Toledo, especialista em investimentos e advogado especializado em Direito Internacional, disse que muitos investidores estrangeiros lembram dos escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras durante os governos petistas. Logo, se o Lula ganhar, muitos estão dispostos a retirar dinheiro da petroleira.
“Num eventual cenário de vitória do Lula, muitos investidores vão retirar investimentos da Petrobras. Nos EUA se fala que se houver uma confirmação de Lula, vão retirar (os investimentos). O que vai impactar no valor das ações. Todos sabem que já houveram as questões de escândalos da Petrobras, todos envolvendo o PT. O mercado externo está muito receoso em relação a isso. Vai ter uma movimentação extremamente negativa com uma eventual vitória do PT”, explicou.
Reeleição de Bolsonaro representaria uma menor interferência na estatal
Durante seu mandato, Bolsonaro e a Petrobras se envolveram com várias polêmicas. Com várias críticas envolvendo os preços dos combustíveis, o presidente brasileiro realizou várias trocas no comando da estatal, cinco no total. Mais recentemente, Bolsonaro nomeou Caio Mário Paes de Andrade na presidência da petroleira.
Bolsonaro ainda enfrentou um entrave com governadores por conta do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis. Por meio de uma lei complementar, o chefe do Executivo impôs limite sobre a alíquota do imposto à revelia dos Estados, que reclamaram da medida.
Apesar das turbulências, a queda no preço do barril de petróleo Brent e a regra do ICMS fazem com que os analistas consultados pelo BP Money acreditem que uma reeleição de Jair Bolsonaro signifique uma menor interferência na estatal.
“Do ponto de vista acionista, uma vitória de Bolsonaro é mais benéfica para a Petrobras. Com o arrefecimento do Brent, a regra do ICMS e passando a eleição, o risco de uma intervenção na Petrobras com a vitória de Bolsonaro é muito menor, havendo até a possibilidade de uma privatização”, explicou Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos.
Gonçalvez afirmou acreditar que a eleição de Bolsonaro signifique uma manutenção da política de preços da estatal, colaborando com os balanços da petroleira. Diferente de Crespi, ele não acredita que a Petrobras será privatizada.
“Com a eleição de Bolsonaro, provavelmente se mantém essa política de preços atual, visando o lucro, fazendo com que a companhia tenha melhores resultados e dividendos. Apesar disso, não acredito que a Petrobras seja privatizada, há uma morosidade muito grande”, disse.
Durante sua análise, Toledo afirmou que mesmo que Bolsonaro vença, o governo brasileiro precisará enfrentar uma “grande bolha econômica”, que irá prejudicar todas as empresas de capital público. Seguindo o relato de Crespi, ele afirmou que é tendência a Petrobras ser privatizada durante um novo governo Bolsonaro.
“Numa eventual vitória do Bolsonaro, nós temos uma outra situação que pode ser negativa. Nós temos uma grande bolha econômica surgindo, e é claro que o próximo presidente vai ter que fazer ajustes na economia. Esses ajustes podem ser que impactem todas as empresas de capital público. Elas vão ter que sangrar um pouco e colaborar um pouco com essa recuperação econômica. Com o governo Bolsonaro, a tendência é que essa empresa seja privatizada, dando um fôlego maior nas contas públicas”, relatou.
Durante o período eleitoral, é momento de investir na Petrobras?
Segundo Toledo, a decisão mais prudente durante as eleições é ser paciente e esperar toda a turbulência política passar, para que assim o investidor tome uma decisão melhor.
“Com relação à aquisição de ações da Petrobras, eu sugeriria que os investidores segurem um pouco. Não sabemos o que vai vir, não sabemos se vai vir uma privatização. A melhor coisa que se deve fazer é segurar um pouco os investimentos, pensar um pouco e daqui 3-4 meses tomar uma decisão melhor de investimento”, explicou.
Para Gonçalvez, a aquisição ou não das ações da Petrobras depende de quem irá ganhar a disputa presidencial.
“Pensando numa hipótese de que a empresa tem bons números, ao manter o presidente atual, você tem uma política mais direcionada,com o mercado tendo uma previsibilidade maior. Pessoalmente, se Bolsonaro ganhar as eleições, eu compraria Petrobras. Se ele não for eleito, compraria outros ativos. Um novo presidente representa uma incógnita”, afirmou.
De acordo com Ramos, a Petrobras é uma empresa saudável, e mesmo caso Lula vença, a petroleira ainda distribuirá dividendos gordos por pelo menos 1 ou 2 anos.
“A Petrobras é uma empresa com uma dívida saudável, que está em processo de se desfazer das operações pouco lucrativas e focar nos poços altamente produtivos do pré-sal. É uma empresa que gera muito caixa. Caso o Lula assuma, um possível comprometimento da saúde financeira da empresa demoraria alguns anos, logo os dividendos tendem a se manter altos por pelo menos 1 ou 2 anos”, disse.