Foto: Unsplash
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Durante muito tempo, ter acesso ao crédito no Brasil significava enfrentar filas, apresentar documentos repetidos, submeter-se a processos longos e sentir que, de certa forma, era preciso “merecer” o crédito. Hoje, com a digitalização avançada e a adoção de tecnologias como a inteligência artificial, esse paradigma está mudando. A transformação não é apenas de canal, é de significado: o crédito está deixando de ser privilégio para ganhar contornos de direito para milhões de brasileiros.

Um exemplo disso está nos resultados recentes das fintechs no país. De acordo com uma pesquisa da PwC Brasil, o volume de crédito concedido pelas 44 fintechs de crédito participantes atingiu R$ 35,5 bilhões em 2024 — um salto de 68% em relação a 2023. Esse crescimento expressivo ocorreu em paralelo à expansão da base de clientes atendidos: mais de 67 milhões de pessoas físicas foram alcançadas pelas fintechs do setor no mesmo estudo. Esses dados reforçam que o avanço não é pontual ou simbólico, trata-se de escala real.

Digitalização, automatização e o fim da intermediação
A digitalização trouxe à tona novos mecanismos, mas o que amplificou o impacto foi a automação e a IA. A análise de risco, tradicionalmente demorada e manual, ganhou velocidade, consistência e abrangência. Modelos preditivos e algoritmos permitiram que históricos alternativos, como conta de luz, comportamento de pagamento ou mesmo dados gerados por dispositivos digitais, fossem considerados para avaliação de crédito. Esse tipo de tecnologia permite avaliar perfis que antes eram excluídos por sistemas legados, ao mesmo tempo em que reduz custos operacionais, o que pode significar taxas menores e maior acesso.

Ao eliminar diversos intermediários e deslocar grande parte da jornada para plataformas digitais, o sistema torna-se mais eficiente e menos dependente de presença física ou de “pedidos de favor”. A nova base está construída sobre dados, algoritmos e experiência de usuário, e não mais sobre lógica de banco tradicional.

Essa mudança traz implicações significativas para a inclusão financeira: segundo um estudo da Associação Brasileira de Crédito Digital, cerca de um terço dos adultos brasileiros ainda não tinham acesso a crédito pelo sistema bancário tradicional

Transparência, personalização e empoderamento
Mas tecnologia não basta sozinha. Democratização de crédito implica também em dar poder ao usuário, em fazê-lo entender os termos, os custos, os riscos e as opções. Plataformas digitais bem estruturadas permitem simulações em tempo real, visualização do Custo Efetivo Total (CET) e escolha consciente, e a IA agora está sendo usada para personalizar ofertas, ajustar limites e recomendar caminhos financeiros.

Quando o crédito se transforma em opção clara, sem mistério nem surpresas, o consumidor deixa de ser só solicitado e passa a ser participante da operação. Ele passa a ver a jornada como algo com menos fricção e mais controle. E esse controle é parte da inclusão. Se antes o crédito era algo concedido, agora ele é ativado.

O próximo passo: sustentabilidade e autonomia
A democratização efetiva do crédito não termina no acesso. Ela continua na sustentabilidade do uso, na capacidade de quem contrata de ver o crédito como ferramenta e não como armadilha. Nesse sentido, a experiência digital e a IA oferecem uma vantagem: permitem monitorar, ajustar e prevenir eventos de risco com muito mais antecedência. Por exemplo, a IA pode detectar padrões de uso que indicam risco de inadimplência ou sugerir ajustes proativos. Isso significa que o crédito bem concedido é menos sobre volume e mais sobre qualidade das decisões que ele ajuda a viabilizar.

O Brasil está entrando em uma nova fase financeira, em que tecnologia, dados e modelos digitais criam uma sistemática de crédito mais justa, mais transparente e mais acessível. A promessa não é apenas conceder mais empréstimos. É fazer com que o crédito seja mais inteligente, mais humano e mais alinhado com a realidade de quem o busca. Quando conseguimos isso, não estamos apenas democratizando números, estamos democratizando oportunidades.

*Kaike Ribeiro, CEO da Finanto, fintech que democratiza o acesso ao crédito por meio da tecnologia e inovação financeira