Depois de manter uma forte valorização sobre o real no ano passado, o dólar consagrou 11 sessões seguidas em queda, voltando aos R$ 5,81 nesta segunda-feira (03). O movimento vem como efeito principal do cenário econômico nos EUA, mas o andamento das contas públicas também afeta a estabilidade da moeda e deve ser um fator relevante na tentativa de proteger o real no decorrer deste ano.
No ano passado, um dos fatores que mais causou abalos na Bolsa, e afastou o capital estrangeiro do Brasil, foram os rumos da meta fiscal. Considerando os resultados que o governo central vinha demonstrando e o aumento das despesas, o mercado acreditava que a meta de déficit zero – com banda de tolerância de 0,25% do PIB – não seria cumprida, no entanto, o governo federal conseguiu entregar números dentro do limite.
O resultado primário do governo central finalizou 2024 com déficit de R$ 11 bilhões (0,09% do PIB), sem levar em conta os gastos com a calamidade que ocorreu no Rio Grande do Sul, após as fortes enchentes entre abril e maio.
Entretanto, Douglas Sousa, especialista em macroeconomia e sócio da Top Gain, avaliou que a queda recente do dólar tem pouco a ver com a questão fiscal do Brasil, neste primeiro momento.
Para ele, a calmaria com a moeda se dá pelas férias do Congresso Nacional e por um momento de “falas mais tranquilas” do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Lembrando que em 2024 batemos a maior quantidade arrecadada da história, desde quando começaram a contar, em 1995, e mesmo assim conseguimos fechar com déficit de R$ 11 bilhões. Então o mercado ainda está com o pé para trás, ele vai ficar com o pé para trás nesse ano de 2025”, previu Sousa.
O especialista lembrou ainda que o mercado segue atento ao fato de 2026 ser um ano de eleição presidencial, e que o governo atual “tende para um lado mais populista e isso pode trazer mais gastos”, inclusive devido à queda na popularidade do presidente Lula.
Enquanto isso, Luciano Bravo, CVO da inteligência comercial, acredita que o real seguirá valorizando frente ao dólar, com a redução das incertezas fiscais atraindo investimentos ao Brasil novamente e diminuindo a pressão sobre a moeda estrangeira.
Por sua vez, o sócio e diretor de gestão da Aware Investments, Gabriel Redivo, reforçou a análise de Bravo, porém, ele ressaltou que os fatores econômicos externos também marcam influência sobre o câmbio.
“Em 2025, manter uma gestão fiscal responsável será essencial para garantir a estabilidade da moeda diante dos desafios econômicos que o país enfrentará ao longo do ano”, disse.
Política econômica de Trump segue no radar do dólar
A imposição de taxas de importação a alguns países pelo novo presidente dos EUA, Donald Trump, segue fazendo preço sobre o dólar. No movimento mais recente, o republicano anunciou na semana passada que o México e o Canadá seriam taxados em 25%, enquanto para a China as taxas de importação seriam de 10%, medidas que valeriam a partir de terça-feira (4). Com isso, a sessão de segunda-feira começou agitada, porém o dólar virou para queda quando Trump deu um passo atrás.
O republicano realizou uma reunião com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, para discutir a situação. O encontro resultou em uma pausa de um mês para as taxas impostas sobre o país latino.
O fato do governo mexicano ter se comprometido em trabalhar junto com as autoridades norte-americanas na segurança e no comércio levou Trump a recuar da política tarifária. Todo esse cenário incerto, na visão de Douglas Sousa, deve fortalecer o dólar, como aconteceu na abertura dos mercados na segunda-feira.
Já Gabriel Redivo, afirmou que as medidas devem intensificar as tensões comerciais, desencadeando uma nova guerra comercial e aumentando a volatilidade dos mercados financeiros.
“Diante desse cenário de incerteza, investidores tendem a migrar para ativos considerados mais seguros, como o dólar, o que pode impulsionar sua valorização no médio prazo. Além disso, a alta do dólar em relação a outras economias está sendo acompanhada de perto pelo governo americano, que busca equilibrar os impactos dessa política protecionista”, reiterou.
Nessa mesma linha, Luciano Bravo acredita que o dólar pode se fortalecer temporariamente visando esses movimentos do governo Trump e reação dos outros países afetados, no entanto, ele avaliou também que isso pode gerar, na verdade, um efeito rebote, com a economia norte-americana sendo prejudicada e enfraquecendo a moeda no médio prazo.