Antes do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começar, o mercado já discutia os rumos da Bolsa e do dólar. Enquanto alguns esperavam por um maior investimento estrangeiro no Brasil, devido às relações do atual presidente com outros países, outros esperavam uma fuga de capital, já que, em novembro de 2022, o próprio presidente afirmou que sua crítica ao teto de gastos faria “a bolsa cair e o dólar subir”. Pois bem, na primeira semana de governo o dólar fechou em queda de 2,17%, na contramão do que pensava parte do mercado. E agora, com turbulências políticas em Brasília devido aos ataques terroristas, para onde vai o dólar?
De acordo com Alex Martins, analista CNPI da Nova Futura, a primeira semana não reflete “o estrutural” do câmbio, já que o mais importante, que é o plano para o novo arcabouço fiscal, ainda não foi definido e divulgado pelo Ministério da Fazenda.
“A gente ainda não tem um arcabouço fiscal definido por esse governo que acabou de entrar. Então acho que enquanto não sair uma pauta fiscal, com um arcabouço fiscal mais crível, eu acho que o mercado vai aguardar”, disse Martins.
O analista explica que o câmbio na primeira semana do governo Lula foi marcado pelo “lado técnico” de mercado, com os fundos locais carregando posição vendida para ganhar com os juros mais elevados. Martins reiterou, entretanto, que enquanto o Brasil não sinalizar um direcionamento em relação, principalmente, às contas públicas, irá impactar a curva de juros e, consequentemente, o dólar sofrerá com a volatilidade.
Outro fator de destaque, segundo o analista, é o cenário externo. Os EUA, por exemplo, vivem um grande dilema em relação a sua taxa básica de juros. Enquanto o mercado espera por uma política monetária mais branda, o Federal Reserve (Fed) não tem demonstrado tanta certeza em relação ao afrouxamento ou menor aperto monetário, pelo menos no curto prazo.
Esse fator influencia diretamente o câmbio, já que uma alta na taxa de juros americana torna os ativos brasileiros menos atraentes (e os dos EUA mais – já que a economia é consolidada e oferece menor risco), o que faz os investidores estrangeiros retirarem o capital do País.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, também concorda que a melhor notícia para a estabilidade do dólar seria um esboço mais definitivo sobre o futuro arcabouço fiscal do Brasil.
“A percepção no mercado é de que ainda é cedo para uma conclusão sobre este debate. O que muito se comenta é sobre o sistema de metas fiscais, com resultados primários e dívidas”, disse Velloni.
“Com a vitória do Lula os investidores viam com mais bons olhos o relacionamento que ele tinha com os líderes internacionais e começaram a injetar mais dinheiro no Brasil”, complementou.
Além disso, Velloni explicou que o Brasil sofre, há algum tempo, com capital de curto prazo, que deve perdurar devido às incertezas do cenário atual. “Entra capital de free floating, acaba gerando essa instabilidade e efetivamente essa volatilidade que estamos vendo. Esse problema só vai ser resolvido com privatizações ou redução de déficit público, para você conseguir trazer um capital de mais longo prazo para o Brasil”, disse o especialista.
Segundo o especialista consultado pelo BP Money, Elson Gusmão, analista de câmbio da Ourominas, a queda do dólar na primeira semana do governo já estava prevista, já que o “governo novo” não é “tão novo” para o mercado externo, que já tem uma imagem formada do Lula dos governos anteriores.
Gusmão ainda destaca que, diferente de Caesar Maasry, chefe da área de mercados emergentes e investimentos globais do Goldman Sachs, que destacou, na última segunda-feira (9), em entrevista ao “Valor Econômico”, que o foco do investidor global saiu do Brasil para a Ásia, não acredita que o foco dos investidores estrangeiros tenha mudado definitivamente para Ásia.
“A China ainda tem sofrido com a Covid-19, inclusive sendo notificada pela OMS que estaria notificando menos casos que o correto. As próximas semanas, com a chegada do Ano Novo Lunar na China, onde as pessoas irão viajar mais, serão decisivas e acredito que possa haver um aumento considerável nos números de casos”, disse Gusmão.
“No curto prazo, acredito que a volatilidade do dólar será enorme. A cada nova investida contra o novo governo, o mercado estará atento às mudanças e respostas dadas pelo atual presidente e sua equipe”, complementou o especialista da Ourominas.
Ataques no DF afetam o dólar?
Os ataques às sedes dos três poderes do governo brasileiro repercutiram em todo o mundo, mas o mercado não reagiu de maneira austera. Segundo Elson Gusmão, analista de câmbio da Ourominas, a moderação do mercado está ligada às respostas rápidas e “satisfatórias” por parte do governo.
“As instituições decidiram seguir pelo estado democrático de direito, não pendendo para uma possível tomada de poder”, disse Gusmão.
“Acredito que no médio para o longo prazo, o dólar tenha uma desvalorização em relação ao real, com investidores se adaptando ao novo governo e suas políticas econômicas. Mesmo com uma imagem negativa do Brasil lá fora, nossa taxa de juros ainda é bastante atrativa, o que faz com que uma parte do capital seja aportado em nosso país”, concluiu Gusmão.