Diferente do ritmo que vinha expressando no início da sessão desta terça-feira (8), o dólar virou para queda e está aprofundando as perdas após o anúncio de tarifas adicionais dos EUA para os produtos importados da China. A moeda está valorizando 1,18%, a R$ 5,98, por volta das 15h (horário de Brasília).
A política comercial dos EUA segue no foco dos mercados desde a semana passada, quando o presidente norte-americano Donald Trump anunciou a imposição de tarifa mínima de 10% sobre todas as importações ao país, que entrou em vigor no sábado (5).
A aversão ao risco tomou conta dos investidores diante das expectativas de acirramento de uma guerra comercial, com os países retaliando as tarifas. A situação é ainda pior considerando a China, que decidiu impor tarifas recíprocas de 34% sobre os EUA.
Agora, Trump rebateu a resposta com novas tarifas que, somadas, chegam a 104%. O medo dos mercados globais é que uma guerra comercial ampla, provoque a aceleração da inflação global e uma recessão econômica em diversos países, o que está fortalecendo o dólar frente ao real.
Durante crise, dólar exerce papel de risk-off; afirmam especialistas
O dólar tem apresentado volatilidade desde o anúncio das tarifas reciprocas nos EUA, com forte queda no fechamento do pregão da sexta-feira (4). Especialistas ouvidos pelo BP Money conectam o comportamento da moeda com o chamado risk-off, quando há um sentimento de aversão ao risco nos mercados.
Os investidores observam uma fuga de capitais em ativos de risco com a escalada do conflito tarifário ao redor do mundo. O destino mais procurado por investidores são os títulos de dívida pública norte-americana, considerados os mais seguros em um período de instabilidade.
Segundo Lucas Nardi, sócio da The Hill Capital, o fenômeno se insere no chamado “Dollar Smile”, onde a moeda americana se fortalece tanto em cenários de forte crescimento nos EUA quanto em momentos de aversão global ao risco.
“No caso atual, prevalece o segundo vetor: a retórica protecionista de Trump reabre temores sobre uma nova rodada de desglobalização, que ameaça cadeias produtivas e pressiona a confiança de empresas e consumidores.”
Head de Investment Solutions da SulAmérica Investimentos, Marcel Andrade, segue o mesmo raciocínio ao comentar que o fortalecimento do dólar se justifica devido a um ambiente de aversão à risco nos mercados.
Para ele, em um primeiro momento, a moeda americana perdeu valor frente a boa parte das moedas globais, com os agentes de mercado precificando uma possível aceleração no movimento de corte de juros por parte do FED, visando estimular a economia.
“No entanto, após a retaliação da China as tarifas americanas, e uma eventual escalada na guerra comercial, o dólar exerceu o seu papel de ativo procurado pelos investidores em momentos de risk-off, fazendo com que a moeda americana se valorizasse”.