Na sessão desta segunda-feira (18), o dólar comercial fechou acima dos R$ 5, alta que não ocorria em mais de quatro meses. O valor reflete a apreensão do mercado, interno e externo, com a “Super-Quarta”, quando os BCs (Bancos Centrais) do Brasil e EUA tomarão decisões sobre cortes em suas respectivas taxas de juros.
No mercado de câmbio à vista, a venda do dólar fechou com valorização de 0,54%, a R$ 5,02. O cenário não chegava a esse nível desde 31 de outubro de 2023, na época, a R$ 5,04.
Consultado pelo BP Money, Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed, disse que os novos dados de inflação dos EUA estão pressionando a curva de juros do país.
“Com a expectativa de cortes de juros aqui no Brasil ao longo de 2024 e muita incerteza sobre o cenário dos juros lá fora, diminui a vantagem do carry trade (tomar dívida em dólar e aplicar em juros em real no Brasil)”, avaliou.
Segundo ele, há uma desconfiança do mercado em relação ao [plano] fiscal de 2024. Bem como, a real capacidade do governo de articular com o Congresso Nacional.
Estrangeiros deixam investimentos e levam dólar
Enquanto isso, Yan Pedro, fundador da empresa Hey Investidor e da OPI Escola de Investimentos, observa o movimento dos investidores, que desencadearam a alta da moeda norte-americana.
“O Brasil teve, de fato, uma alta na bolsa neste último ano. Muitas ações alcançaram o topo histórico, como o Banco do Brasil (BBAS3), a Petrobras (PETR4), entre outras. Então os gringos surfaram essa onda do Brasil nos últimos dois anos, pegando em baixa e vendendo, agora, em alta”, afirmou.
Em seguida, como outro fator de impacto na alta do dólar, Pedro cita o “risco Brasil”, que, em sua avaliação, envolve o risco político e econômico.
“O Brasil teve um déficit em 2023, isso assusta. Há muitas polêmicas no cenário geopolítico mundial, falas do presidente [Lula]. E isso assusta os investidores por si só”, acrescentou ele.
Em terceiro, o valor dos títulos públicos federais dos EUA chama mais atenção que os brasileiros, neste momento. Segundo Pedro, os investidores estrangeiros veem vantagem em deixar os ativos no Brasil, onde correm risco, e voltar aos EUA.
“A tendência é que o dólar continue valorizando, a médio prazo, no caso, até o finalzinho deste ano para o começo do ano que vem. E os juros do brasil vão continuar caindo a tendência é que cai aí já na superquarta”, finalizou.
Setores mais impactados
Alvaro Bandeira, Coordenador da Comissão de Economia da APIMEC Brasil, concorda com a análise de Pedro, e também acredita que o dólar não deve subir mais que o patamar atual.
No Ibovespa, citou ele, há um impacto positivo na precificação dos ativos, que devem ficar mais baratos, por conta dos investidores estrangeiros que trazem o dólar para ser trocado mais caro.
“Os setores da economia que mais devem sofrer são os importadores. Assim como os que investem em equipamento externo, porque certamente passa a ser mais caro. Mas, em compensação, os exportadores se beneficiam muito”, disse.
Para ele, quando o ciclo de queda na taxa de juros dos EUA iniciar, pode ser que o dólar ascenda no mercado internacional.