No mercado de câmbio, a semana não reservou boas posições para o real, que desvalorizou fortemente frente ao dólar. A moeda do exterior chegou ao seu maior patamar desde dezembro de 2022, cotada a R$ 5,46. No entanto, sem grandes razões de impulso, economistas esperam que o nível das negociações não vá muito além.
No decorrer da semana, o avanço do dólar repercutiu o panorama da política econômica interna e externa. Isto porque os bancos centrais do Brasil e dos EUA decidiram manter suas respectivas taxas de juros no patamar atual, sem indicações de cortes no futuro, o que tem pressionado os mercados emergentes.
No caso do Brasil, o fato da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) ter sido unânime animou os agentes financeiros, visto que havia o receio com o risco político sobre o BC (Banco Central).
“[O dólar] já atingiu um limite, principalmente porque não tem nada de novo para acontecer nos juros aqui e nos juros lá fora, a menos que alguma declaração polêmica aconteça, algum fator político interfira no mercado, ou alguma guerra piore, por exemplo”, avaliou Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, em resposta ao BP Money.
“A questão da unanimidade deixou o mercado mais feliz, deixou o mercado mais estável. Isso foi muito bom, tanto que o dólar abriu lá embaixo, só que o cenário não muda, então ele voltou a cair”, prosseguiu.
Uma das razões para essa não sustentação, de acordo com Vitor França, especialista em câmbio e sócio da Matriz Capital, foi o avanço dos juros nas Treasuries dos EUA.
Cohen ressaltou um cenário parecido para o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, que na sessão de quinta-feira (20), após o Copom, iniciou com alta, mas perdeu ritmo no decorrer do dia.
Apesar disto, o índice conseguiu quebrar a sequência de 4 semanas fechando em baixa, e teve ganhos de 1,40% entre os dias 17 e 21 de junho.
Dólar: declarações de Lula complicam mercado financeiro
Apesar de ter agradado o mercado, o movimento do Comitê foi de encontro aos desejos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por isso, desde então, o mandatário vem tecendo críticas ao BC, direcionadas, sobretudo, ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
França relembrou que Lula chegou a afirmar que Campos Neto “tem lado político” e trabalha para “prejudicar o País”. Para o presidente, a política monetária está sendo conduzida de forma “desajustada”.
“O tom duro das críticas refletiu nas cotações da moeda americana. De acordo com a visão dos agentes de mercado, a fala do Presidente Lula representa intrusão política na condução da política monetária, contribuindo para que o dólar registrasse máxima de R$ 5,46 (maior patamar desde dezembro de 2022)”, reforçou França.
“Agora tudo gira em torno das declarações políticas, do arcabouço fiscal. Lula uma hora diz que realmente vai segurar os gastos, que é o que todo mundo está de olho, mas logo ele volta atrás, tomando medidas bem populistas”, apontou Cohen.
Segundo ele, grandes nomes do mercado financeiro, que antes demonstraram apoio a Lula, voltaram atrás, pelo modo que o mandatário tem conduzido a política do País.