O dólar encara um cenário de constante volatilidade, expressando grandes altas e baixas ao longo das negociações. No pregão da véspera, a moeda aproveitou o pânico geral nos mercado e subiu 0,56%, a R$ 5,74, o maior valor desde março de 2021.
Na sessão desta terça-feira, o ritmo mudou e caiu 1,48%, a R$ 5,65. Mas o que tem causado a oscilação do dólar? A moeda corre o risco de chegar a R$ 5,80? Entenda os dois pontos principais que mexem com o câmbio no ínicio de agosto.
Principal impacto no dólar: temor de recessão dos EUA
Após os dados do payroll do país norte-americano, que indicou a criação de 114 mil novas vagas de emprego, número bem abaixo do que esperavam os especialistas (175 mil), o mercado começou a temer que a maior economia do mundo entrasse em recessão.
Unido a esses resultados, as tensões de conflitos no Oriente Médio se intensificaram, após o assassinato do líder do HamasIsmail Haniyeh. O fato aconteceu durante um ataque atribuído a Israel na capital do Irã, Teeerã, na quarta-feira (31).
Com isso, o pânico tomou conta dos investidores em todo o mundo, que começaram um movimento de realização de suas aplicações no mercado acionário e levaram os investimentos a ativos mais seguros, nesse caso, os Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA).
No entanto, especialistas já apontavam que a desvalorização expressiva das Bolsas era uma reação exagerada e precipitada. Isto se provou verdade quando os índices acionários voltaram a subir nesta terça-feira (06), como Ibovespa valorizando 0,80%, enquanto o dólar voltou a caixa significativamente 1,48%.
“A alta das bolsas após um dia de queda reflete a natureza especulativa dos mercados, onde expectativas e emoções desempenham papéis significativos na distorção dos preços”, disse, Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments.
Inalteração da Selic e juros altos
Outro ponto que tem desestimulado as apostas na moeda brasileira é a Selic (taxa básica de juros) mantida em um patamar alto. O Copom (Comitê de Política Monetária) freou as reduções que vinha fazendo na taxa desde 2023 e segura os juros em 10,50% ao ano desde a reunião de junho.
Em paralelo a isso, o Fed (Federal Reserve), Banco Central dos EUA, também decidiu pela alteração da taxa de juros do país norte-americano, o que fortalece o dólar e reduz a atratividade do real.
“O investidor enxerga nos ativos americanos uma boa rentabilidade, com um risco país favorável. Nesse cenário, a tendência é que o câmbio continue pressionado, com o real desvalorizado no curto prazo”, analisou Leandro Ormond, analista da gestora de patrimônio Aware Investments.
“Cabe salientar que um real desvalorizado, tende a causar pressões inflacionárias, e pode influenciar as próximas decisões do Copom”, prosseguiu.
Há risco do dólar chegar a R$ 5,80 no curto prazo?
Além desses aspectos, que causaram a oscilação recente do dólar, outras forças seguem atuando no mercado de câmbio, como as eleições para presidente dos EUA, com a disputa entre Kamala Harris e Donald Trump, bem como o risco fiscal que ainda ronda as perspectivas sobre o Brasil.
O gestor financeiro e CEO da WMO Digital, Washington Mendes, reiterou o entendimento de que o quadro eleitoral norte-americano segue conturbado desde a desistência de Joe Biden à reeleição.
“Existem muitas incertezas quanto ao mercado internacional, e o Brasil, por estar com o real se desvalorizando neste ano de 2024, acreditamos que haverá sim, agora dentro do terceiro trimestre e início do quarto trimestre, algumas oscilações de alta”, afirmou.
Apesar da moeda ter se aproximado dos R$ 5,80, porém, as apostas não chegam a esse patamar para o resto do ano.
“Caso a economia mundial permaneça com as incertezas de mercados importantes como o próprio Brasil, os EUA e o Japão, podemos chegar neste patamar apesar de já entendermos que, possivelmente até o fim de 2024, o dólar pode terminar em torno de R$ 5,60”, acrescentou Mendes.