Eleições 2022: como investidor estrangeiro olha para disputa?

Após o resultado do 1º turno das Eleições, os investidores estrangeiros colocaram cerca de R$ 4,3 bilhões na B3

O investidor estrangeiro está de olho nas Eleições 2022 no Brasil. Logo nos três primeiros dias após o resultado do 1º turno, os investidores de fora do País colocaram cerca de R$ 4,3 bilhões na B3, maior do que o acumulado de setembro, qual o fluxo foi de R$ 585,3 milhões. 

“O investidor estrangeiro tem olhado com bastante atenção para o cenário eleitoral brasileiro. A melhora dos indicadores da economia brasileira tem animado o investidor estrangeiro, somado ao resultado positivo do primeiro turno, com um Congresso Nacional mais liberal, de direita, e que em tese tende votar a favor das reformas necessárias para o País”, analisou Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos em entrevista ao BP Money. 

Para Luiz Marcatti, presidente da Mesa, as eleições chamam atenção de dois públicos que buscam saber como será o ambiente de governança e segurança jurídica. 

“Sem dúvida, as eleições trazem olhares para cá, seja para as empresas internacionais já instaladas, seja para aqueles investidores que avaliam sua entrada aqui no país.
Para estes dois públicos, os potenciais de mercado e as oportunidades são muito grandes no Brasil, mas há uma demanda natural por entender como se dará o ambiente de governança e segurança jurídica, de forma a proteger seus investimentos, não os expondo a excessivos riscos políticos, fiscais e jurídicos”, destacou Marcatti. 

Ainda de acordo com o especialista, o mercado já conhecer Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) é um fator positivo, independente do vencedor. “Sua forma de governar não deverá ser surpresa, por já exercer, ou ter exercido o papel de Presidente da República. O sucesso do País no que se refere a receber investimentos, estará muito ligado às práticas governamentais do que os discursos de campanha”, apontou Marcatti. 

Especialista em análise macro da Quantzed, Fabio Fares avalia que o mercado dará um voto de confiança e será positivo em primeiro momento, independente de qual será o vencer. De acordo com ele, o cenário só mudará com o tempo. 

“Em um primeiro momento, independente de quem ganhar, o mercado dará um voto de confiança e acho que será positivo. Só que, dependendo de quem for o vencedor, as coisas mudarão com o tempo. O mercado vai cobrar um governo mais responsável. Quanto melhor o mundo fizer a tarefa de casa, o Brasil terá que ser melhor ainda. Por mais seis a dez meses o País surfará um cenário de positividade, mas depois precisará se manter”, salientou Fares. 

Questionado se o presidente Bolsonaro é malvisto pelos investidores estrangeiros, Idean Alves reconhece que alguns fatores minaram a visão dessa categoria em relação ao chefe de Estado, mas que, no todo, o saldo positivo. 

“O que incomoda em maior grau no investidor é a comunicação do governo Bolsonaro, que muitas vezes, acaba se exagerando no tom, e transforma um simples comunicado em uma declaração polêmica, gerando um ruído desnecessário. Fora isso, ele tem conseguido entregar um bom resultado econômico, PIB crescendo, desemprego em um dos melhores patamares históricos, privatizações acontecendo, então de modo geral para o investidor estrangeiro o saldo é positivo”, afirmou o chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos. 

Eleições afetam o investimento estrangeiro?

Alguns fatores chamam atenção dos investidores estrangeiros no pleito, podendo impactar de maneira positiva ou negativa para o País, como explica Alves. 

“A depender do contexto político, o investimento estrangeiro pode ser maior ou menor, dependendo da visibilidade de cenário econômico local, da segurança jurídica que ajude a melhorar o ambiente de negócios, dos incentivos fiscais em prol da produção, e do investimento público para a redução do custo Brasil, tudo isso influencia na tomada de decisão do investidor estrangeiro, o qual além de acompanhar, sempre compara com outros mercados, e avalia onde consegue buscar a melhor relação risco-retorno”, explicou Alves. 

Para ele, o Brasil está preparado para absorver esse capital de fora e que o cenário é bastante positivo. Ainda de acordo com Alves, uma nova vitória de Bolsonaro ajudaria ainda mais nesse crescimento. 

“O país crescendo, inflação caminhando para o controle, juros com expectativa de queda no começo de 2023. Tudo isso ajuda a criar um melhor ambiente de negócios. Se além disso for possível casar uma continuidade do governo atual, a fim de evitar surpresas no caminho, isso acaba sendo positivo para o investidor que já vai saber um pouco do que esperar e fazer um projeção mais realista nos próximos anos”, avaliou. 

Brasil se beneficia de cenário desafiador no mercado externo

Atualmente o Brasil passa por um momento mais estável em relação ao mercado externo. Por ter iniciado o ciclo de alta de juros há mais tempo, o País acompanha os EUA tentando conter a sua inflação, e a Europa tendo que lidar com crise energética e Guerra na Ucrânia. Para Fabio Fares, esse cenário acaba beneficiando o Brasil. 

“Estamos acompanhando muitos investimentos no ano vindo para o País, mesmo sabendo que o Brasil ainda é uma parcela muito pequena do portfólio global. No ano, R$ 74 bilhões já vieram”, destacou. 

No entanto, Fares pondera que o mercado doméstico pode se prejudicar por conta de um fluxo maior em relação ao investimento estrangeiro. 

“Por mais que o país esteja tendo deflação e interrompido o ciclo de alta de juros, o gringo ele entra e sai porque às vezes tem que tapar buraco em outros lugares do mundo, e o Brasil fica no meio do caminho. Quanto mais volatilidade lá fora, pior o investimento estrangeiro, pois a gente vira um porto seguro que acaba não sendo duradouro”, salientou.

Para 2023, o especialista em análise macro da Quantzed crê que o Brasil irá largar na frente, mas precisará obter recursos para manter campo positivo. 

“Brasil tende a se beneficiar no começo. Mas, no meio do ano em diante, quando o mundo começar a crescer, a gente começa a ficar naquele momento em que o fluxo começa a ficar dividido. Continuo achando que será positivo para o Brasil, mas dependerá muito da maneira que quem assumir lidará logo no primeiro ano”, concluiu Fares. 

O segundo turno das eleições 2022 ocorre no próximo dia 30, último domingo do mês de outubro. O cenário segue bastante disputado entre Lula e Bolsonaro, com algumas pesquisas, inclusive, apontando empate técnico.