O resultado do 1º turno das eleições, que ocorreram neste domingo (2), pegou o mercado de surpresa ao contrariar a maioria das pesquisas. Com os levantamentos apontando vitória mais folgada de Lula (PT), ou até uma definição sem necessidade de 2º turno, o mercado já precificava essa tendência, mas agora viu o cenário mudar com a disputa mais apertada.
“O mercado já precificava a vitória do Lula. Com essa reviravolta nas eleições, totalmente fora das pesquisas, o mercado viu o Congresso sendo de grande parte de direita, tendo o Bolsonaro com mais chances, tudo caminha para o entendimento. Já Lula, se eleito, teria mais dificuldade de diálogo com o legislativo”, afirmou Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos em entrevista ao BP Money.
Cohen ainda viu o Ibovespa registrar, nesta segunda-feira (3), sua maior alta desde abril de 2020, valorizando 5,54% com o resultado do 1º turno. “O grande resultado de ontem no mercado se deu pelo otimismo dessa reviravolta nos resultados”, destacou.
Para Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, o segundo turno será uma nova eleição e Bolsonaro (PL) começa a ganhar força, principalmente pelos resultados no Senado e na Câmara dos Deputados.
“O segundo turno está em aberto. Embora Lula tenha levado o primeiro turno com pouco mais de 4 milhões de votos, é importante notar que mais de 30 milhões de pessoas não votaram e outras 5 milhões votaram em branco ou nulo”, salientou Menin.
“O governo atual conseguiu eleger vários senadores e está liderando em vários estados nos cargos de governador. Isso ainda deixa a direita com bastante força no congresso. Se Lula ganhar, terá uma oposição ferrenha. Se Bolsonaro ganhar, tende a conseguir governar com menos dificuldade”, completou o sócio-fundador da Quantzed.
Com a perda de credibilidade dos institutos, os especialistas apontam que cada pesquisa divulgada nesse período deve gerar certa volatilidade no mercado. “O mercado deve reagir com bastante volatilidade a cada pesquisa e debate deste segundo turno”, afirmou Menin.
“Alguns institutos de pesquisa devem perder credibilidade neste segundo turno, mas é muito difícil acreditar que perderão seu poder de influência. O mercado vai reagir a essas pesquisas ao longo de outubro”, completou Menin.
Já Cohen traz outro ponto: Bolsonaro ganha força com o investidor doméstico, enquanto os estrangeiros preferem um resultado positivo para Lula.
“A projeção é de volatilidade nessa reta final. Se o Bolsonaro começar a subir nas pesquisas, o mercado irá se animar mais. Ele é mais ‘amigo’ do investidor interno, no cenário doméstico, e o Lula do investidor estrangeiro, cenário internacional”, afirmou Cohen.
Estratégias para o 2º turno das eleições
Ainda de acordo com Menin, Lula e Bolsonaro devem seguir estratégias diferentes neste 2º turno. O atual presidente deve diminuir o tom para conseguir os votos de centro, principalmente de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
“Aliados do Bolsonaro levaram com muito mais folga do que ele em estados vencedores para o governo. Isso mostra que ainda há uma rejeição forte à pessoa do Bolsonaro, que neste segundo turno será forçado a adotar discursos mais amenos, talvez até com alguma autocrítica”, analisou.
Já Lula, que preferiu adotar uma postura mais cautelosa do seu plano de governo, sem apresentar os possíveis membros da equipe econômica, terá que mudar sua estratégia e, possivelmente, até anunciar um nome que comandaria o Ministério da Economia.
“O ex-presidente precisa conquistar votos. E para isso, deverá revelar mais pontos do seu plano de governo, até então quase que secreto, e nomear um possível ministro da Economia. São esses os grandes medos do mercado até a votação final: a incerteza e o desconhecimento da equipe de ministros de Lula”, pontuou Menin.
Cohen seguiu na mesma linha e salientou ser importante o petista angariar novas alianças. “As chances do Lula reduziram e para ele poder retomar essas chances precisará fazer novas alianças. Além disso, apresentar, finalmente, seu plano de governo na tentativa de acalmar o mercado”.
Impacto do 2º turno no macro
Economista e CEO da Philos Invest, Rafael Marques crê que Bolsonaro deva intensificar algumas medidas na economia, o que deve gerar mais deflações.
“Bolsonaro antecipou o pagamento [Auxílio Brasil] que impacta diretamente na região Nordeste. Com o petróleo não subindo, com certeza ele terá espaço para novas reduções de tarifas, teremos dois números prováveis de deflação, o IPCA-15 e o IPCA. O Brasil terá uma inflação menor que EUA e Europa, e terá um crescimento maior que o da China, esses fatores podem colaborar para a campanha”, disse Marques.
Quanto ao cenário eleitoral, Marques aposta em palanques no Sudeste para fortalecer a campanha de Bolsonaro.
“Bolsonaro terá dois palanques fortes, que é o Tarcísio [de Freitas, candidato a governo de São Paulo] e o Romeu Zema, que declarou apoio a ele. Além disso, tem também o Cláudio Castro, no Rio de Janeiro, e vários senadores e deputados que se elegeram no último domingo. Quando as pesquisas erram muito, eles tendem a arredondar para o outro lado, então é possível que beneficie o Bolsonaro”, apontou.
O segundo turno das eleições presidenciais está marcado para 30 de outubro, último domingo do mês.