Quando o voo de um negócio pega tração e se aproxima do objetivo, é essencial pilotar com a mão leve e o olho atento para vigiar os perigos. Os riscos que espreitam o voo da Embraer (EMBR3) nos EUA podem se mostrar como um gigante entre as nuvens, dependendo do resultado das eleições em novembro.
Na semana passada, a fabricante brasileira de aeronaves anunciou um investimento de U$ 70 milhões para a expansão de sua rede de serviços de manutenção, reparo e revisão nos EUA.
Porém, sendo uma empresa de raízes brasileiras, a Embraer pode ver necessidade de adequar os rumos de seus negócios, pensando no cenário político do país norte-americano. Isto porque as eleições presidenciais se aproximam, com disputa acirrada e chances reais de vitória para Donald Trump, candidato republicano.
Se esse cenário se confirmar, daqui há duas semanas, a tendência é que o novo governo dos EUA se mostre mais protecionista com o ambiente interno, colocando entraves para as estrangeiras.
“Diante disso, a Embraer pode enfrentar alguns desafios diante de políticas protecionistas dando um incentivo fiscal para empresas Americanas, como barreiras fiscais, fatores geopolíticos, concorrência diante de um possível incentivo à produção local, uma guerra comercial diante de tensões que podem ser retomadas com outros países”, pontuou Guylherme Mattos, especialista em investimentos, em resposta ao BP Money.
Ainda assim, o especialista indicou que a companhia pode encontrar oportunidades ao passo que for se adaptando ao quadro estrangeiro.
A Embraer “poderia ampliar sua presença nos EUA para se beneficiar de possíveis incentivos, aproveitar para tentar fazer novas parcerias, manter um diálogo ativo, então pode ser um cenário desafiador, mas com oportunidades de crescimento”, afirmou Mattos.
A política econômica de Trump ameaça, sobretudo, as companhias chinesas, para as quais as barreiras devem ser ainda mais reforçadas. Mas, os custos podem aumentar para todos.
“Em relação a Embraer, em teoria, um aumento de tarifas sobre componentes ou aeronaves fabricadas fora dos EUA poderiam prejudicar as vendas da empresa no mercado americano, que é um dos seus maiores clientes”, disse Bruno Rocio, CFP® e assessor de investimentos da Raro Investimentos.
A análise do assessor acompanhou a avaliação de Mattos, ao indicar que um fortalecimento de presença nos EUA pode, na verdade, ajudar a Embraer a conter possíveis danos causados pela política.
Os aportes recentes devem elevar em 53% a capacidade instalada da companhia em atender os clientes do E-jets no país vizinho.
“Acredito que esses investimentos podem mitigar os riscos de políticas mais severas para a empresa em particular, especialmente se ela continuar gerando empregos locais”, projetou Rocio.
Outro benefício a ser explorado é a presença forte que a fabricante tem no setor de defesa.
“Assim, sob a administração Trump, que tradicionalmente aumenta os gastos com defesa, a empresa poderia ter algum benefício caso as forças armadas dos EUA continuem buscando diversificação em seus fornecedores globais, especialmente se houver demanda por aeronaves de transporte e patrulha militar”, completou.
Quadro brasileiro
Apesar dos planos de negócio e resultados atuais da Embraer estarem animando os investidores, visto que os papéis ordinários EMBR3 acumulam alta de 121,66%, há um fator que aflige as empresas em nível global e segue operando como uma forte ameaça no mercado doméstico: os juros altos.
A Selic (taxa básica de juros) está atualmente em 10,50% ao ano, e o consenso de especialistas do mercado esperam que ela feche o ano acima de 11%, o que pode ser prejudicial para a Embraer.
Juros mais altos significam maior dificuldade de financiamento na compra de aeronaves pelas companhias aéreas brasileiras. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, há algumas estratégias para driblar essa trave, como modelos de financiamento mais flexíveis, em parceria com alguma instituição financeira.
“Além disso, a Embraer já possui aeronaves, como a série E2, que são reconhecidas por sua eficiência de combustível e menores custos operacionais, características que podem ser atraentes em um cenário de custos elevados”, prosseguiu o analista.
Para se tornar menos dependente da aviação comercial e abrir novas fontes de receita, apontou Lima, a companhia pode explorar novos segmentos, como aviação executiva e soluções de mobilidade urbana, como aeronaves elétricas de decolagem e aterrissagem vertical (eVTOLs).
Dessa forma, Lima acredita que o futuro da fabricante é promissor, mesmo com os riscos. “Os resultados financeiros e a execução eficaz das estratégias da Embraer serão fundamentais para a confiança do mercado”, finalizou.
EMBRAER (EMBR3): estratégias miram crescimento em outros mercados mundiais
Os planos de voo longo da fabricante brasileira miram limites além dos EUA. Um dos objetivos da empresa com a nova central de serviços é ampliar sua rede global, que já tem 80 centros de serviços autorizados e 12 centros de serviço próprios pelo mundo.
Rocia destacou que a grande aposta da empresa, além da central nos EUA, é levar seu portfólio de aeronaves ao Japão. A brasileira esteve na Exposição Internacional Aeroespacial do Japão, entre os dias 16 a 19 de outubro.
Durante o evento, a Embraer apresentou a família E-Jets da aviação comercial, a plataforma multimissão C-390 Millennium e as soluções de mobilidade aérea da Eve Air Mobility, uma companhia controlada pela fabricante.
Para o assessor da Raro Investimentos, a empresa pode buscar ainda outras oportunidades estratégicas, tanto no mercado de aviação comercial quanto no de defesa, ou mesmo no serviço e suporte em outros países ou regiões.
“O importante é a empresa diagnosticar quais países estão investindo em infraestrutura aérea, modernização militar e demanda por aeronaves regionais eficientes e fazer os investimentos e parcerias necessárias para poder cada vez mais expandir os seus negócios”, pontuou Rocio.