Mercado busca defesa

Energia: alta no 1S24 é efeito de ‘gato’ nas incertezas fiscais

Insegurança com risco fiscal, piora na expectativa dos dados econômicos e outros fatores consagram setor como uma base segura de investimentos, avaliam especialistas

Foto: Unsplash / energia
Foto: Unsplash / energia

Em tempos de incerteza, os instintos levam a ativar os métodos de defesa. É por essa razão, que durante o primeiro semestre de 2024 (1S24), o setor de energia, de modo geral, atraiu investimentos e encerrou na linha positiva.

No quadro doméstico, a Bolsa está abalada pela insegurança com a questão fiscal, as perspectivas de deterioração dos dados econômicos e pelos constantes ruídos no governo federal, entre seus integrantes e também relacionado à política monetária. 

Tudo isso, unido a outros fatores como os bons resultados financeiros das empresas, como no caso a Eletrobras (ELET3), chama atenção de quem prefere não correr riscos, foi o que especialistas esclareceram ao BP Money

O movimento no setor de energia acontece em cadeia, pelo fato das linhas de receita estarem atreladas a indicadores econômicos, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), explicou Pedro Coletta, analista de Energia na Equus Capital.

Com essa realidade em vista, os pontos de pressão sobre as companhias se tornam mais visíveis. Um deles, com efeitos benéficos, seria uma eventual alta da Selic (taxa básica de juros). A possibilidade projeta mais receita para as companhias do segmento.

No caso da Eletrobras, no 1S24 o papel valorizou 3,74% “graças à estabilidade de suas receitas, garantida pela demanda constante por eletricidade, mesmo em um cenário de volatilidade econômica”, refletiu Aline Rosa, economista e sócia da Matriz Capital.

Contudo, o entusiasmo não pegou todas as principais ações do setor de energia, pois a Neoenergia (NEOE3) caiu 8,34%, ao passo que a Isa Ctep (TRPL4) recuou 0,45%, a Engie (EGIE3) avançou 1,95%, a Cemig (CMIG3) subiu 17,46% e a Taesa (TAEE4) teve o pior tombo do segmento, com -5,24%.

No caso da Taesa, mesmo seguindo os mesmos trâmites que seus pares, a companhia encontrou um grande obstáculo em seu caminho: o endividamento

“A Taesa, com um perfil de endividamento líquido de R$ 9 bilhões no primeiro trimestre de 2024, encontra dificuldades para atrair investidores, que estão preocupados com os custos crescentes de financiamento”, esclareceu Rosa.

Mesmo o pagamento de dividendos, considerado bom no mercado, pode ser menos atraente, enquanto os investidores processam a compensação dos riscos associados ao endividamento.

Adicional a isso, mesmo sendo uma das ações mais negociadas da B3 (B3SA3), no quesito projetos de crescimento e expansão a Taesa ainda é limitada, quando comparada às rivais, o que também a torna menos atraente, ponderou a sócia da Matriz Capital.

“Os resultados operacionais recentes da Taesa também não foram tão robustos quanto os de seus concorrentes. Outro ponto importante são as expectativas do mercado. As expectativas são mais altas em relação a outras empresas que estão na vanguarda da inovação e expansão no setor de energia”, disse Rosa.

Aumento do consumo de energia incentiva desempenho das empresas do setor

Nos primeiros 3 meses deste ano, o consumo de energia elétrica avançou 7,3% no País, com o consumo residencial despontando em 12,3%.

Já no 2TRI24, somente no mês de maio, esse número cresceu 8%, na base de comparação anual. No período, o uso da energia elétrica chegou a 70.207 megawatts médios. Anteriormente, em abril, também houve uma alta de 5,5%

Esse movimento gera mais retorno às empresas, conforme explicou Coletta, pois o aumento do consumo leva o governo a ativar as termelétricas – meio mais caro de produção de energia – o que eleva o preço do recurso livre no sistema.

Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, alerta que esse rendimento pode aumentar ainda mais no próximo semestre, sobretudo após a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ter liberado a bandeira amarela na conta de energia.

A faixa significa um acréscimo de R$ 1,88 por 100 megawatts consumidos, para custear as térmicas em meio à baixa expectativa de chuvas no período. Com menor previsão de chuvas, o que afeta as hidrelétricas – principal meio de produção de energia no Brasil – a Aneel espera custear a ativação das termelétricas com a medida.

Além dos retornos, a demanda crescente pelo recurso estimula investimentos em infraestrutura. Como o exemplo da Eletrobras, citado por Aline Rosa, com um plano de aportes em R$ 15 bilhões para os próximos 5 anos, em expansão da capacidade de geração e transmissão.

“Esses investimentos são cruciais para atender à crescente demanda de maneira eficiente e sustentável, melhorando a resiliência operacional e promovendo o desenvolvimento infraestrutural necessário para o país”, completou.

No entanto, essa visão não é um consenso, pois, para Vicente Camillo, Co-CEO e Co-Founder da Electy, o consumo não gera grandes impactos sobre as companhias. 

Inclusive, segundo ele, a bandeira amarela significa preços mais caros também para as distribuidoras, que precisam comprar a energia que entregam aos consumidores.

Mercado de energia renovável traz novas oportunidades

Pelos vastos recursos naturais, o Brasil tem diferentes fontes abastadas para a produção de energia renovável. Essa janela possibilita novos negócios no setor de energia elétrica, inclusive para a oferta da produção renovável diretamente aos consumidores.

“Isso significa que as empresas de energia renovável poderão rentabilizar melhor os seus ativos se comercializarem diretamente com os consumidores de varejo”, frisou Camillo.

A liberdade de escolha que vem junto com a abertura do mercado a negócios do ramo, abre espaço também para que pessoas físicas e jurídicas paguem “contas mais baratas, consumindo energia limpa e renovável. 

“Marketplaces digitais de energia tem se destacado, pois possibilitam a adesão desse serviço pelos consumidores por meios digitais”, indicou ele.