‘Terapia de choque’

Energia: setor enfrenta estiagem e alto custo; empresas estão preparadas?

Algumas geradoras de energia, como as hidrelétricas, podem sentir necessidade de recorrer ao mercado spot para cumprir contratos

Energia/ Foto: Canva
Energia/ Foto: Canva

A seca que se alastra em território nacional tem sido um ponto de preocupação para o governo, investidores e empresas. Dentre as companhias que mais devem sofrer com o cenário estão as do setor agropecuário e de energia. Em relação à energia, a situação se agrava porque a matriz energética do país é altamente dependente de hidrelétricas.

Essa forte estiagem acaba afetando o nível dos reservatórios do Brasil. Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais), esse cenário pode durar até novembro de 2024.

No último período em que houve uma crise energética mais grave, em 2021, a seca gerou um aumento de 21,21% na energia elétrica residencial — o dado se tornou o segundo subitem de maior impacto para a inflação brasileira no período. Naquele ano, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 10,06%.

Agora, em 2024, o que ocorre no setor de energia é um movimento natural diante da situação. A estiagem prolongada reduz os níveis dos reservatórios, gerando o acionamento das usinas térmicas e elevando os custos da energia.

“Isso resultou em maior volatilidade nos preços de energia a curto e médio prazos, impactando as empresas do setor de maneiras diferentes”, pontuou o especialista da Equus Capital, Pedro Coletta.

‘Terapia de choque’: entre empresas de transmissão e geradoras, quem vai sofrer menos?

Diante desse cenário, as empresas podem ter suas receitas impactadas, mas o nível de afetação dependerá de “quão preparadas elas estão para lidar com a volatilidade do aumento direto dos custos de aquisição de energia”, disse Coletta.

“Empresas que precisam comprar energia no curto prazo para cumprir seus contratos podem ver seus custos subirem, o que pode reduzir as margens de lucro e, eventualmente, impactar o valor de suas ações”, explicou o especialista.

De maneira geral, empresas geradoras de energia podem se “beneficiar da alta dos preços”, considerando que elas acabam de sair de um período de preços muito baixos.

Assim, cresce a demanda por contratos de médio e longo prazos, à medida que consumidores buscam maneiras de reduzir seus riscos futuros. “A maior liquidez no mercado favorece as comercializadoras de energia, que podem aumentar suas operações e, assim, ter novas oportunidades de lucro”, comentou Coletta.

Por outro lado, algumas geradoras de energia, como as hidrelétricas, podem sentir necessidade de recorrer ao mercado spot para cumprir contratos. Nesse cenário, o impacto dos custos vai depender da frequência com que as companhias farão as compras no mercado.

Entre as companhias que podem ser umas das favorecidas está a Eletrobras (ELET3). Segundo o analista, a empresa tem uma parte considerável de sua energia sem contratos de médio prazo. Esse fato era um problema com os preços baixos, mas com a elevação desses preços, há uma chance de ela fechar novos contratos e aumentar a previsibilidade de sua receita.

Em contrapartida, companhias de transmissão, como a Taesa (TAEE11), não devem sentir tanto os efeitos do cenário, já que suas receitas não dependem diretamente dos preços da energia. Mas a Energisa (ENGI11), por ser uma distribuidora, deve sentir os efeitos.

As distribuidoras têm “seus custos repassados aos consumidores através das bandeiras tarifárias, o que limita o impacto dos preços mais altos”, disse o analista.

E como fica o consumidor de energia doméstica nesse cenário?

A forte estiagem acaba afetando o nível dos reservatórios do Brasil. Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais), esse cenário pode durar até novembro de 2024.

Todo esse contexto acaba elevando os custos de produção de energia e pesa diretamente no bolso do consumidor brasileiro. Como o governo não consegue absorver todos os custos ligados à produção, parte deles acaba ficando a cargo da população, por meio do ajuste de tarifa.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou na última sexta-feira (30) uma atualização na tarifa sobre as contas de energia elétrica.

“Esse cenário de escassez de chuvas, somado ao mês com temperaturas superiores à média histórica em todo o país, faz com que as termelétricas, com energia mais cara que as hidrelétricas, passem a operar mais”, explicou a Aneel.

As companhias responsáveis pela distribuição de energia nas residências calculam criteriosamente o consumo de energia de seus equipamentos. Com os dados as empresas irão estimar o preço final dos produtos e manter a margem de lucro.

“Se o custo de um insumo como a eletricidade aumenta, o custo final também aumenta, tornando-se difícil para a empresa não repassar ao menos parte desse aumento ao preço final do produto, o que impacta diretamente os consumidores”, afirmou Eduardo Batista, doutor em Engenharia de Produção e mestre em Energia e Meio Ambiente.

Para amenizar o peso no bolso, muitos consumidores optam por adotar outras fontes de energia em suas casas. A energia solar, por exemplo, é uma delas, mas é importante ter cuidado para não criar expectativas irreais sobre a solução.

“A instalação de energia solar, embora seja uma alternativa, não é uma solução imediata, pois requer planejamento e investimento. O Brasil possui uma alta taxa de insolação, o que torna essa opção interessante a longo prazo”, acrescentou Batista.

Por outro lado, existem opções de energia por assinatura. Nelas o consumidor não precisa investir em painéis solares e mesmo assim consegue um desconto na conta de luz. Nesse modelo de negócio, o consumidor adquire energia elétrica gerada por fontes renováveis, como biomassa e painéis solares.

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