Equipe de transição vai contra o esperado no mercado; vale temor?

Nomes anunciados para a equipe de transição não são garantidos em novo governo

Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os anúncios sobre a equipe de transição do governo são o grande foco das páginas de política e de economia. Não à toa, a Bolsa vem reagindo a cada movimentação, a exemplo do pregão da última quinta-feira (17), que mesmo fechando em baixa, reduziu de forma significativa as perdas após o anúncio da renúncia de Guido Mantega da equipe. Para analistas consultados pelo BP Money, as reações ocorrem porque os nomes anunciados vão na contramão do que o mercado aguardava para o governo, mesmo que estes não tenham cargo garantido.

Segundo Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, André Lara Resende e Pérsio Arida são os únicos nomes da equipe de transição que o mercado julga como “ideais”. “Eles têm perfil mais técnico, de carreira de mercado, e que daria uma boa credibilidade caso fossem anunciados para algum ministério”, disse ao BP Money. 

Na contramão, nomes como o de Mantega e de Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos técnicos que fazem a transição de governo, causaram uma reação contrária no mercado. Mesmo assim, Cunha ressaltou que ainda é muito cedo para entender os caminhos do governo petista, já que o comando dos ministérios ainda é “na base da especulação”. 

Para Fabio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, as reações da Bolsa acontecem porque os nomes da equipe de transição são de confiança do próximo presidente, mas também não são o que o mercado esperava. “O investidor enxerga que os nomes que estão na transição não são os melhores para o mercado financeiro, por isso balança a cada pessoa citada”, disse. 

Ainda, a sinalização de que nomes da equipe podem vir a fazer parte do governo Lula causa tensão e a Bolsa responde: “A equipe é importante porque cada nome que aparece diz um pouco daquilo que veremos no futuro”, disse o analista.

Mas a equipe de transição de fato governa?

A equipe de transição, que no caso de Lula tem 238 integrantes até o momento, não é uma garantia de que os nomes farão parte do governo, como explicou Bruno César Lorencini, professor de Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, já que todos os nomeados são automaticamente exonerados dez dias após a posse

“Os nomes que estão na transição podem fazer parte do governo, não há nenhum impedimento para isso. Mas também nada garante que esses nomes farão parte de seus respectivos ministérios, não há correlação”, disse. 

Por outro lado, o professor apontou que, tradicionalmente, alguns nomes que compõem a equipe de transição podem fazer parte do novo governo. A exemplo, em 2018, os citados para conduzir a transição do governo de Jair Bolsonaro, na época do PSL, iam desde Marcos Pontes, que assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Paulo Guedes, que ficou com a pasta da Economia. 

A diferença para a atual equipe, no entanto, é que o destino de cada um já era conhecido, o que não é realidade com o governo petista, que ainda não anunciou nenhum de seus futuros ministros. 

“Toda vez que um nome não-técnico é cogitado pela equipe de transição ou por alguma outra entidade, o mercado vai balançar”, apontou Sobreira, afinal, cada cotado pode aparecer, no futuro, como parte do governo. 

Mesmo assim, como explicou o professor, nem sempre o destino é conhecido. No caso de Fernando Haddad (PT), que atua na transição da área de educação, o futuro pode estar na pasta de Economia ou da Fazenda, para onde é cotado. “Ele não agrada o mercado, que considera Haddad um pouco heterodoxo em suas propostas. Seu favoritismo está extinguindo outros nomes mais técnicos para ocupar o ministério”, comentou Cunha. 

Afinal, o que faz uma equipe de transição?

Lorencini explicou que, em um regime democrático, a transição política significa a adaptação e a atualização do novo governo ao anterior. 

“Como o Estado é repleto de setores, é necessário que seja nomeada uma equipe para que essa tome conhecimento de todos os processos que estão em andamento em cada setor, fornecendo ao novo governo um ‘diagnóstico’”, explicou o professor. 

Segundo ele, sem esse tipo de troca de informação, poderia ocorrer uma paralisação do Estado. “No fundo, a transição ocorre para que haja uma continuidade, e não tenha interrupções e falta de continuidade nas políticas públicas”, apontou. 

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