No acumulado do ano até agora, a Bolsa brasileira tem um volume positivo de R$ 108,03 bilhões em investimento estrangeiro. O último ano de governo de Jair Bolsonaro (PL) foi bem mais positivo que os anteriores, já que em 2019 e 2020 o fluxo foi negativo. Neste ano, o mês com maior saldo foi fevereiro. Ainda assim, apenas no dia após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em outubro, os aportes estrangeiros somaram R$ 1,9 bilhão – todo o saldo de julho, por exemplo. Mesmo com tais movimentações, analistas consultados pelo BP Money apontaram que, no final do dia, o investimento gringo vai muito além de quem ocupa a Presidência da República.
“O tema é muito complexo e não se trata de uma dualidade entre melhor e pior. Há fatores positivos e negativos nesta conta, que dependem do momento, do setor e das perspectivas analisadas”, disse Lucas Sharau, assessor na iHUB Investimentos.
Nesse sentido, para Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, atualmente, o mercado brasileiro está mais atrativo do que seus pares emergentes, o que fez com que 2022 fosse positivo para investimentos estrangeiros. Em comparação, China ainda sofre com as incertezas da covid-19 e Argentina e Turquia continuam com inflações altas e descontroladas. “O Brasil diminuiu o aperto monetário antes, isso fez com que tivesse muita entrada”, explicou.
Victor Licarião, líder de estratégia e alocação em renda variável da Blue3, apontou também outros fatores. “A Bolsa está barata, com múltiplos atrativos, rica em commodities e no setor bancário. Rica também em setores que apresentam maior resiliência em um cenário adverso, de inflação alta”, disse.
Em relatório, a XP apontou os mesmos fatores para um ano tão positivo nos aportes estrangeiros, como grande exposição aos setores mais buscados por investidores globais – entre eles, commodities e bancos -, múltiplos atrativos, e fim do ciclo de alta de juros no Brasil, enquanto a trajetória continua incerta nas principais economias desenvolvidas.
Com isso, para Sharau, ainda não é possível de correlacionar diretamente o fluxo estrangeiro à eleição de Lula, “uma vez que fatos determinantes da estratégia governamental ainda não foram definidos”, apontou.
O que movimenta a saída do fluxo estrangeiro?
Segundo os analistas, são muitos os fatores para a entrada e para a saída do fluxo estrangeiro na Bolsa brasileira, a maioria, no entanto, é macroeconômico e muitas vezes global. Durante o governo Bolsonaro, por exemplo, o cenário pandêmico e até a guerra entre Ucrânia e Rússia influenciaram para a retirada dos investimentos.
“O governo Bolsonaro foi marcado por conturbações de proporções globais. Pandemia e guerra são fatores que intimidam o fluxo estrangeiro para países emergentes como o Brasil”, apontou Sharau, da iHub. Não à toa, o fluxo estrangeiro foi negativo em 2020.
Além disso, segundo Mauro, da Finacap, os anos de 2019 e 2020, no começo do mandato de Bolsonaro, apontavam para uma situação ainda incerta, no sentido macroeconômico. Na ocasião, o analista explicou que o País vivia um baixo nível de crescimento e as commodities, que são importante fator para a entrada de fluxo, estavam com preços inferiores aos atuais. Dessa forma, o mercado dos EUA aparecia forte.
Mas estrangeiro prefere Lula?
Após as eleições, o investimento estrangeiro derrubou o dólar e valorizou o real, como foi observado por analistas, entrevistados pelo BP Money, na ocasião. Agora, para Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial, country manager da Savel Capital Partners e especialista em crédito internacional para empresas brasileiras, desde a eleição de Lula, os números de aportes estrangeiros mostram um grande apetite dos investidores. “Estamos na casa de R$ 2,4 bilhões desde a eleição de Lula no segundo turno até agora, o que demonstra um apetite grande do investidor para aumentar esse fluxo”, apontou.
“Os investidores internacionais acreditam mais no presidente Lula. Então, por óbvio, o cenário de investimento de bolsa, no governo Lula, será melhor”, afirmou Bravo.
Para Moura, da Finacap, a imagem de Lula no exterior é positiva. “Tem uma lembrança por parte dos investidores estrangeiros pelos dois primeiros mandatos. Época, inclusive, que tínhamos um cenário parecido, de recessão”, apontou o analista.
No entanto, alguns pontos podem colocar em xeque essa preferência. Uma delas é o risco fiscal, muito observado pelo mercado, e que com Lula é mais evidente.
“O estrangeiro olha muito para a responsabilidade fiscal do governo. Governos que gastam muito tendem a ter uma inflação mais alta e consequentemente depreciam sua moeda frente ao restante do mundo. Por isso, apesar das benesses dos maiores gastos em programas de assistencialismo social, o estrangeiro olha para o arcabouço fiscal”, apontou Sharau.
Bravo concordou, apontando que a percepção com Bolsonaro era de mais “transparência” em relação à corrupção. “Isso não significa que não possa ter havido, mas o índice de percepção da corrupção era baixo, e isso faz com que os investidores “clássicos” venham ao mercado”, disse. Para ele, mesmo com a responsabilidade fiscal no radar, a perspectiva é que o investimento estrangeiro continue positivo nos próximos anos.