Dilema entre inflação e investimentos

Fala de Lula causa hipersensibilidade do mercado, diz Andre Perfeito 

"Nenhuma das propostas de fato está firme, mas a sensibilidade atual faz com que qualquer ideia seja descontada a uma taxa muito alta", afirmou o economista

Andre Perfeito - Economista-chefe e sócio APCE (Foto:Reprodução)
Andre Perfeito - Economista-chefe e sócio APCE (Foto:Reprodução)

A percepção de que o Brasil pode estar à beira de uma recessão voltou a dominar os mercados nesta sexta-feira (11), com analistas e investidores reagindo às declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

As falas, que destacaram a expansão do programa Minha Casa Minha Vida e a proposta de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, causaram incerteza e temor entre os agentes econômicos.

De acordo com o economista-chefe André Perfeito, sócio da APCE, o nervosismo no mercado reflete uma “hipersensibilidade” ao cenário atual, onde qualquer proposta, mesmo sem definição concreta, é rapidamente descontada nas expectativas de curto prazo.

“Nenhuma das propostas de fato está firme, mas a sensibilidade atual faz com que qualquer ideia, ainda que sem um prognóstico seguro, seja descontada a uma taxa muito alta”, afirmou o economista.

Segundo o especialista, a fala de Lula de que “tem que tirar de algum lugar o dinheiro” sugere que as medidas seriam neutras para o fiscal, já que haveria compensações, mas o mercado reagiu de forma abrupta.

O exemplo citado da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil ilustra o cenário de incerteza.

Perfeito ainda aponta que analistas se apressaram em calcular o impacto desse gasto no orçamento sem considerar que um aumento na renda poderia, de fato, impulsionar o consumo, elevando os lucros das empresas e gerando arrecadação adicional.

Possíveis soluções: Selic ainda mais alta?

Diante desse cenário incerto, Perfeito sugere que a alta da Selic pode ser uma resposta necessária. “Se me cabe uma sugestão, o ideal seria aumentar a dose [da Selic]. E rápido”, concluiu o economista, indicando que o Brasil precisa agir logo para evitar um descompasso ainda maior entre o presente e o futuro econômico.

Com essa análise, fica claro que o caminho para a recuperação e estabilidade econômica no Brasil está repleto de desafios, exigindo não apenas ajustes econômicos, mas também uma solução política ampla que inclua investidores e o mercado em geral.

Armado para a recessão: o dilema entre inflação e investimentos

Para Perfeito, o Brasil parece estar preso em uma “armadilha”. “A questão sempre foi: com a inflação sob controle, o aumento da demanda devido à queda do desemprego levará a investimentos ou a mais inflação?” questiona o economista.

O mercado, segundo ele, parece exigir uma recessão para trazer a inflação ao centro da meta em 2026.

“O mercado não faz isso por implicância política com Lula, mas está reagindo aos próprios modelos que indicam que o custo para desacelerar a atividade econômica será ainda maior”, explicou.

Impactos futurísticos

Perfeito alerta que, caso o Brasil entre em recessão, o cenário fiscal pode se deteriorar ainda mais. “Se o PIB cair, a arrecadação também vai diminuir, agravando os problemas fiscais”, prevê. Ele cita que há analistas que acreditam que a SELIC, taxa básica de juros, precisaria subir para 20% para garantir que a inflação fique dentro da meta.

Além disso, Perfeito critica a falta de direção clara no mercado. “Um mercado que perde o norte se torna imprevisível”, diz, referindo-se às atuais taxas de juros longas, que estão mais altas do que a economia pode suportar de forma dinâmica, articulando demanda e investimento.

Problema político e econômico

O economista afirma que o problema é essencialmente político e não apenas econômico. “Juros são apenas parte da resposta”, comparou, sugerindo que é necessário um esforço maior para ajustar as expectativas e gerar uma visão compartilhada do futuro econômico do Brasil.

O economista-chefe acredita que investidores estrangeiros poderiam ver valor no país, mas reconhece que o otimismo já não é mais tão sólido. “Os estrangeiros até querem ‘comprar Brasil’, mas basta falar com um brasileiro que eles mudam de ideia”, ironizou.

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