A falência do Silicon Valley Bank (SVB), banco do Vale do Silício, pegou o mundo de surpresa na semana passada e trouxe de volta o fantasma da crise no sistema financeiro global. Embora a maioria dos especialistas acreditem que o problema seja menor do que a quebradeira vista em 2008 depois da queda do Lehman Brothers, ainda existe preocupação em relação a uma possível escalada da crise, que inclusive poderia atingir empresas brasileiras com dinheiro no SVB.
Para o CEO do transferbank, Luiz Felipe Bazzo, apesar de pequena, existem chances dos efeitos negativos do colapso chegar ao país e atingir em cheio companhias que têm investimentos na instituição financeira.
“É público que algumas empresas brasileiras tinham dinheiro no SVB, os nomes não são divulgados, mas o sistema financeiro não está ameaçado, portanto há baixas chances de haver demissões nas companhias afetadas. Vale ressaltar nesse caso que empresas nacionais já sofrem com a dificuldade de acesso ao crédito. Sem dinheiro, essas empresas podem ter seus negócios paralisados, mesmo com a expectativa de receber até 90% do dinheiro em algumas semanas”, avaliou.
O economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, diz que, a primeira vista, não há similaridade entre o que está ocorrendo com o SVB e o banco Lehman Brothers.
Porém, ele destaca quatro pontos que merecem atenção: o fato de que cerca de 30% dos depósitos bancários nos EUA são realizados em bancos menores e que por isso há risco de “transbordamento” para bancos maiores, que deveria ser evitado pelas autoridades; Risco de perdas significativas para empresas que detém depósitos no SVB acima do limite do FDIC, com impactos sobre a economia local (pagamento de salários, fornecedores etc); o custo de captação dos bancos pequenos/médios irá certamente aumentar de forma significativa, reduzindo suas rentabilidades, com reais consequências sobre seus acionistas e o mercado acionário e o risco estrutural do setor de tecnologia ser fortemente afetado, com efeitos sobre a atividade econômica.
“O número é muito preocupante, pois implicaria numa corrida bancária que só teria paralelos com as crises de 1929 e 2008. Sendo assim, seria importante que os órgãos reguladores, especialmente o FED, possam dar liquidez e financiamento adicional, incluindo acesso ao redesconto. Aliás, o BC americano, nesse domingo, sinalizou que estará vigilante para não deixar o sistema colapsar, criou um ‘Programa de Financiamento’, no valor de U$ 25 bilhões, além de marcar uma reunião de emergência”, disse.
Bancos brasileiros negam relação com SVB
Depois da crise do SVB vir à tona, bancos brasileiros se apressaram em acalmar seus investidores e negaram qualquer tipo de relação com a companhia do Vale do Silício.
A Nu Holdings, controladora do Nubank (NUBR33), informou no último sábado (11), em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que não tem exposição ao Silicon Valley Bank (SVB).
“A Nu Holdings comunica aos seus acionistas e ao mercado que nem a companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm qualquer exposição” ao banco, escreveu o Nubank em comunicado.
O C6 Bank e o Banco Inter (BIDI11) seguiram o mesmo caminho da concorrente. De acordo com o C6, a instituição financeira “nunca teve nenhum tipo de relacionamento ou exposição” ao SVB.
Já o banco controlado pela família Menin informou que “a companhia e suas subsidiárias não têm e nunca tiveram qualquer exposição e/ou relação comercial com o Silicon Valley Bank”.
Como o SVB atuava com muitas fintechs latino-americanos, naturalmente surgiram rumores de que algumas empresas brasileiras, como o C6 Bank, pudessem ter sido afetadas pela quebra do banco.
Quebra de SVB não deve desencadear crise global, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (13) que, apesar das quebras do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signatura Bank, não enxerga o risco de uma crise sistêmica na economia global. As informações são do portal “G1”.
Isso porque, segundo Haddad, o SVB é um banco regional, com carteira “descasada” do restante do sistema financeiro. Por conta disso, há a tensão nos mercados e o início de uma aversão ao risco por parte dos investidores. Mas que, aparentemente, não desencadeará uma crise global, apesar da gravidade.
“Aparentemente, não [vai gerar crise sistêmica]. Não vi ninguém tratar como Lehman Brothers, é grave o que aconteceu”, declarou Haddad, em live promovida pelo “Valor Econômico” em parceria com “O Globo”.