"Novo FIES" pode beneficiar empresas do setor de educação?

Especialistas comentam cenário educacional em uma possível vitória de Lula nas eleições

Há cerca de um mês, o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, durante uma live, que voltaria a fortalecer FIES e Prouni em caso de uma vitória nas eleições. No último sábado (17), Lula voltou a falar sobre os programas estudantis. Ações de Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) dispararam nesta segunda-feira (19). Para especialistas, entretanto, o possível fortalecimento do FIES não vai, necessariamente, ajudar as companhias do setor.

De acordo com Bruce Barbosa, sócio fundador da Nord, o grande problema da educação no Brasil, hoje, é a competição. Isso porque essas empresas cresceram muito lá atrás e hoje estão muito grandes e, assim, há um problema de demanda.

“Essas empresas ocuparam um mercado que estava sem oferta. Agora a oferta é muito grande, precisaria diminuir o número de competidores, via aquisição e tudo mais. A Cogna até tentou comprar a Yduqs e o CADE não deixou, mas agora provavelmente vão deixar. Essas empresas cresceram demais e está faltando demanda”, disse Barbosa. 

“Sem o FIES desde a Dilma obviamente demorou um tempo para impactar as empresas, mas faz um tempo que está impactando. Sem o FIES, piorou, aumentou a competição, diminuiu o ticket – que cobravam muito mais no FIES do que pessoa física na faculdade – e além disso tem uma dependência da economia”, complementou o analista da Nord.
 
Para o analista, mesmo com o “fortalecimento” do FIES, prometido por Lula, é arriscado “apostar” em uma possível alta desses papéis neste momento.

“Primeiro que o que o Lula fala na campanha não é necessariamente o que ele vai fazer. Se a gente pegar o que os dois principais candidatos estão falando na campanha, o Brasil quebra, e os investidores vão ter que comprar dólar”, disse Barbosa.

O analista explicou que essa lógica segue a mesma premissa do setor de construção. Existem rumores no mercado de que as empresas de construção e incorporação poderiam subir com a volta do Minha Casa Minha Vida, entretanto, caso o governo dê um “up” no setor, os juros podem subir e a economia perder a tração. Dessa forma, não existiria benefícios em investir no setor. 

“O Congresso, provavelmente, não vai deixar tudo que o Lula fala sair do papel, porque lembra do que aconteceu com a Dilma. Acho que a mudança pode ser pequena e não vai ser o que vai salvar essas empresas. Vale a pena investir em alguma educacional? Acho que agora não, também não investiria em nada pensando no governo. Acho que é muito arriscado e, mesmo que dê certo, você pode errar. O Lula ganha, aumenta o FIES, governo gasta mais e detona a economia, juros sobe mais, então pode ser pior, ele pode perder mais alunos do que ganhar, ninguém sabe”, afirmou Barbosa. 

“Se o Lula efetivamente implementar tudo aquilo que ele promete, vai ter um impacto econômico tão grande que é melhor você comprar dólar, então não vale a pena comprar educacional pensando em aumento de gasto do governo. A piora econômica pode ser tão grande que as ações podem cair, você vai perder dinheiro”, complementou o analista.

O analista da Nord explicou que de nada adianta o governo investir muito em um programa, se a economia for cair. Isso porque se o cidadão precisa ter dinheiro para pagar a faculdade ou, no mínimo, vislumbrar um emprego na área em que deseja atuar. 

“Se não tiver emprego, por exemplo, obviamente não faz sentido, porque você não vai fazer uma faculdade para ficar desempregado. Então a competição com esses caras está muito forte. O Lula vai conseguir aumentar o Prouni e o FIES igual fez lá atrás? O programa do PT hoje é igual ao do PT da Dilma e já vimos o resultado que isso deu. Tivemos a maior crise do Brasil em 2015 e 2016 , mesmo assim não mudaram porque querem os votos das pessoas de novo”, disse o analista. . 

Por outro lado, na visão do mestre em educação e consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao ensino, Francisco Borges, a expectativa de especialistas em educação é que se houver uma vitória do governo Lula não existirá nenhum risco para educação superior ou básica. 

“O governo do Lula, e mesmo da Dilma, apresentou ministros da educação com planos estabelecidos, que deram expansão ao acesso ao ensino superior, a implantação do FIES, que era adequado à realidade da população brasileira carente e o crescimento foi muito amplo”, disse Borges. 

“A gente entende que agora, passado alguns anos, e o FIES já estabelecido e com alguns erros, qualquer governo que entrar vai tomar cuidado para que os contratos sejam feitos de maneira coerente com juros adequados a uma população carente e de política pública com valores mais baixos de forma a garantir que os alunos, sim, se encaixem nas taxas e etapas de receita de renda para poder fazer o seu financiamento”, complementou.

Ações da Yduqs e da Cogna dispararam nesta segunda

As ações de Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) subiram forte na bolsa de valores de São Paulo, nesta segunda-feira (19), encerrando o pregão em altas de 14,10% e 9,77%, respectivamente. Yduqs fechou com os papéis cotados a R$ 12,30, enquanto Cogna fechou cotada a 9,77%. Os papéis registraram alta após a fala proferida por Lula, neste final de semana, sobre o fortalecimento do FIES.