Os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs) da Hectare CE (HCTR11), Versalhes RI (VSLH11) e Devant (DEVA11) publicaram um fato relevante nesta segunda-feira (6), reportando inadimplência no CRI (certificado de recebíveis imobiliários) Circuito de Compras. O anúncio fez as companhias liderarem as maiores baixas da sessão de hoje, com perdas de até 4,9%.
O CRI Circuito de Compras financiou a construção de um shopping popular, localizado em São Paulo (SP). Também conhecido como Nova Feira da Madrugada, o espaço é considerado o maior centro popular de compras da América Latina.
O CRI é um instrumento usado por empresas do setor imobiliário para captar recursos no mercado. Na prática, essas companhias “empacotam” receitas futuras que têm para receber – como aluguéis ou parcelas pela venda de apartamentos – em um título, que é vendido aos investidores.
Os fundos HCTR11, VSLH11 e DEVA11 não receberam a parcela que venceu no dia 22 de fevereiro. A inadimplência foi confirmada pela Forte Securitizadora, que estruturou a operação. A empresa diz estar tomando as medidas cabíveis para solucionar a pendência.
“Os primeiros contatos [com a devedora] já foram iniciados”, diz comunicado da securitizadora. “Vislumbra-se, em caráter preliminar, a possibilidade de recebimento da parcela de remuneração em atraso”.
O CRI Circuito de Compras representa atualmente 7,32% do patrimônio líquido do HCTR11, 4,88% do DEVA11 e 3,57% do VSLH11.
A operação tem como lastro os contratos de venda do direito de uso das lojas e boxes, além da locação das áreas como restaurantes e da operação do estacionamento.
Com o papel, os investidores – entre eles os FIIs – recebem um rendimento mensal prefixado e a correção monetária por um indicador, que normalmente é a taxa do CDI (certificado de depósito interbancário) ou o IPCA.
Apesar do posicionamento da Forte Securitizadora, a Vórtx Distribuidora de Títulos e Valores Imobiliários, administradora dos três fundos, convocou para esta segunda-feira (6) uma assembleia geral de titulares do CRI para decidir quais providências tomar em relação ao assunto.
Estudo aponta três segmentos de varejo como seguros para FIIs
Um estudo assinado por Maria Fernanda Violatti, analista de Fundo de Investimentos Imobiliários (FIIs) da XP (XPBR31), destaca que, de forma geral, não há problemas estruturais em todo o varejo. Contudo, três segmentos devem se comportar melhor no atual cenário de inadimplência em alugueis entre as varejistas, segundo informou o jornal “InfoMoney”.
“Preferimos exposição a empresas de segmentos mais defensivos e resilientes, como as varejistas expostas ao público de alta renda, ao varejo alimentar e ao segmento de farmácias”, pontuou a especialista.
De acordo com Maria Fernanda, estes segmentos do varejo sofrem menos diante de um cenário de inflação alta e taxa básica de juros (Selic) elevada como de 13,75% ao ano. Isso porque, a combinação de juros elevados e alta nos preços compromete o poder de compra de boa parte da população, prejudicando as vendas e a receita de varejistas voltadas ao público de baixa renda.
Nas últimas semanas, algumas carteiras informaram que não receberam o aluguel de inquilinos ligados ao setor. Essa inadimplência observada por estes fundos levantou questionamentos sobre a situação financeira e de liquidez das demais empresas do setor – e que ocupam imóveis de outros fundos imobiliários.
A analista, de acordo com o jornal, atribui os recentes eventos, como a recuperação judicial da Americanas (AMER3), aos resultados das estratégias adotadas por cada companhia. Por conta disso, o atual cenário macroeconômico tem exigido do investidor uma atenção ainda maior em relação aos portfólios dos fundos imobiliários que alugam imóveis para varejistas.