Dois pareceres da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) concluídos na semana passada (Atualização, às 16h43. os pareceres são de 2022), apontaram que teria havido irregularidade no laudo de avaliação que diluiu os cotistas do fundo Pátria Special Opportunities II, gerido pelo Pátria Investimentos. As informações são de Lauro Jardim, em coluna para O Globo.
No fim de julho, os investidores do fundo viram suas aplicações minarem, quando o valor das cotas foi reajustado, passando de R$ 10,50 para -R$ 301, gerando um prejuízo histórico.
Áreas técnicas da CVM analisram o caso após reclamações de investidores, concluindo que os cotistas originais de 2020 foram prejudicados, enquanto cotistas do novo fundo, inclusive sócios do Pátria, foram beneficiados.
Na Superintendência de Normas Contábeis da CVM, uma das conclusões foi que “(…) as demonstrações contábeis do FIP não representam fidedignamente sua posição financeira e a apuração de seus resultados na data-base de 30/06/2020, vis-à-vis seus investimentos não refletirem o valor justo na data de mensuração”.
Já pela análise da Superintendência de Investidores Institucionais, o caso “(…) revelou indícios de falta de diligência (…) do Pátria, dado seus deveres fiduciários como administrador e gestor, que exercia influência direta na administração da companhia (…).
(Atualização, às 15h42). A assessoria do Pátria enviou ao BP Money o seguinte posicionamento:
“Conforme comunicado recente, o Pátria Investimentos, na qualidade de gestor de determinados fundos de investimento, informou a venda da holding Portfólio Centro-Sul e de seus 4 shopping centers, localizados em Taubaté (SP), Lages (SC), Varginha (MG) e Bragança Paulista (SP). Em razão dos custos envolvidos na transação, será necessária a realização de aportes adicionais na companhia para viabilizar a operação.
Nesse contexto, a conclusão da tese de investimentos com o ‘write-off’ dos ativos sem retorno aos cotistas de ambos os fundos Special Opportunities I e Special Opportunities II é a evidência factual de que a marcação de seus ativos feita em 2020 estava correta e que os investidores de ambos os fundos foram tratados de forma isonômica no processo. Dentro deste contexto não procede a alegação de que a marcação dos ativos em 2020 teria beneficiado os cotistas do Special Opportunities II, dentre os quais estão os sócios do Patria, os quais participarão do aumento de capital necessário para a viabilização da operação de venda da Portfólio Centro-Sul.
Todas as informações pertinentes à tese de investimentos em questão estão sendo analisadas pela CVM, sendo que a autarquia não proferiu qualquer decisão sobre o assunto até o momento. O investimento representou um dos poucos casos de insucesso de um gestor que retornou mais de R$ 30 bilhões para seus investidores nos últimos 20 anos, com taxa de retorno médio de aproximadamente três vezes o capital investido. Do ponto de vista de valores nominais, o Pátria tem R$ 139 bilhões sob gestão.”
Fundo Pátria anuncia que valor de cotas está negativado
A Pátria Investimentos utilizou um fato relevante para comunicar aos cotistas uma grande alteração no patrimônio líquido do Fundo Pátria Special Opportunities II. De acordo com o documento divulgado na segunda-feira (24), o valor da cota foi reduzido drasticamente de R$ 10,55 para -RS 301,04. O fato relevante afirma que a alteração foi autorizada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“O ajuste reflete o desinvestimento integral do Portfólio Centro Sul S.A, companhia que era investida pelo Fundo”, justificou a gestora.
Patria Special Opportunities I
No entanto, esta não é a primeira vez que o Fundo perde tanto investimento. Em 2020, quando investia na Tenco, operadora de Shoppings, através do Pátria Special Opportunities I, a Pátria não teria comunicado aos cotistas que a gestora de shoppings passava por dificuldades, com uma dívida de R$ 1,1 bilhão. Mas, o elefante na sala começou a aparecer quando o Pátria trocou a empresa que avaliava os shoppings.
A empresa contratada derrubou o valor dos ativos em 38%, ainda assim o fundo tentou negociar com os bancos credores, na expectativa de ainda obter lucro. Ideia essa que foi completamente aniquilada pela crise da Covid-19, que os shoppings tiveram que fechar as portas.
Na metade do ano, houve uma nova avaliação do fundo e foi quando os investidores perceberam que quase 100% do capital investido virou “pó”. A cota do fundo, que começou valendo R$ 1.000, e chegou a bater R$ 1.500, tava valendo R$ 4,00. Além disso, os cotistas também viram o tamanho do buraco na Tenco, que só em 2020 teve um prejuízo de R$ 126 milhões.
Uma consultoria foi contratada pela Pátria, que ofereceu duas opções para o caso da Tenco: capitalização ou recuperação judicial. Tendo a primeira opção como escolhida, a gestora de fundos apresentou uma “nova” oportunidade de investimento aos cotistas, tendo início o Pátria Special Opportunities II.