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Fundos de renda fixa: escalada à base da Selic se sustentará?

O patrimônio dos fundos de renda fixa cresceu 20% em julho; analistas indicam se cenário seguirá vantajoso diante das perspectivas sobre a Selic

Fundos de renda fixa: escalada à base da Selic se sustentará?

Aplicar em fundos de renda fixa é apostar no retorno previsível. Os investidores sentiram esse gosto ainda mais doce, visto que o patrimônio dessa classe de ativos cresceu 20%, chegando à casa dos R$ 3,6 trilhões em julho de 2024. Analistas indicam que esse ciclo só tende a se beneficiar com a perspectiva de juros altos por mais tempo.

Com esse avanço, os fundos de renda fixa encerraram o mês referido com um salto positivo de 15% na comparação anual, com um patrimônio líquido de R$ 9,2 trilhões. 

Nesse quadro, há 3 vigas que sustentam a estrutura, sendo elas: a possibilidade do BC (Banco Central) subir a Selic (taxa básica de juro), o mercado de ações mais volátil, combinação que gera, como consequência, a busca por ativos mais seguros, dado o ambiente de incertezas econômicas.

Os investidores têm visto nos títulos públicos, por exemplo, a oportunidade de obter retornos atrativos com menor risco, comentou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Exatamente por isso, os fundos de renda fixa de curta duração e grau de investimento foram o grande destaque do período. Essa categoria investe, no mínimo, 80% de seus recursos em títulos públicos e ativos de baixo risco de crédito, seu patrimônio líquido cresceu 23,2%  entre julho de 2023 e julho de 2024, chegando a R$ 707,2 bilhões. 

“Com a Selic elevada, os rendimentos desses títulos tornam-se extremamente atrativos para investidores que buscam preservar o capital e obter retornos acima da inflação, sem se expor à volatilidade de ativos mais arriscados. Outro ponto, é que a previsibilidade dos fluxos de caixa e a liquidez desses ativos são fatores que muitas vezes reforçam sua atratividade’, disse Lima.

Outro ponto de impulso, conforme reforçado pelo CEO da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello, foi a maior acessibilidade aos fundos de renda fixa, devido a forte penetração das plataformas de investimentos, com ofertas diversificadas de produtos. 

“Além disso, a grade de produtos dessas classes mudou: hoje o investidor tem muitas opções na hora de investir, seja fundos com maior liquidez com os D+1 ou os mais sofisticados, com liquidez em D+45 por exemplo”, afirmou o CEO.

“O patamar  de juros de dois dígitos no Brasil apresenta bastante atratividade para os clientes: temos um mercado de capitais desenvolvido, alta liquidez no secundário e um nível interessante de emissões acontecendo”, prosseguiu.

Crédito privado tem ajudado na diversificação dos fundos de renda fixa

Mesmo que tenham uma segurança maior com essa classe de ativos do que com o mercado de ações, os investidores ainda buscam diversificar a carteira e garantir uma base robusta e sólida. Nessa esteira, as debêntures ajudam a desconcentrar a exposição dos fundos de crédito privado, que integram a classe de renda fixa.

Esse movimento, segundo Lima, ocorre pelo prêmio mais elevado, que compensa o risco também mais elevado, sendo uma estratégia viável devido à oscilação dos juros e à instabilidade fiscal. 

“É importante ressaltar que o aumento da taxa de juros é positivo para o crédito privado no aspecto técnico, no sentido de trazer ganho de capital para o investidor, no entanto o fundamento deve ser acompanhado de perto, principalmente na gestão profissional, para garantir a qualidade desse emissor”, indicou Marcelo Mello. 

A taxa Selic vinha de um ciclo de reduções desde julho de 2023, porém o ritmo de cortes foi desacelerado e, posteriormente, interrompido, pelo Copom (Comitê de Política Monetária). 

Desde Junho deste ano, o colegiado tem mantido a taxa em 10,50% ao ano, com indicações, na ata da última reunião, de que pode elevar os juros caso a inflação não caminhe conforme a meta firmada de 3%. 

O mercado já espera uma alta na próxima reunião, que ocorrerá em setembro, mas Mello afirmou que a SulAmérica segue apostando na manutenção da taxa no patamar atual até o fim deste ano. 

“Uma elevação repentina nas taxas de juros poderia tornar a emissão de novas debêntures mais cara para as empresas, comprimindo os spreads e reduzindo a atratividade para os investidores”, disse Sidney Lima.

No entanto, ele também lembrou que do outro lado, com uma eventual virada de chave e volta de redução da Selic, os retornos futuros dos fundos de renda fixa que investem em títulos públicos e crédito privado poderiam diminuir.

O crédito privado ainda carrega outros riscos, como o aumento da inadimplência das empresas emissoras de debêntures, bem como possíveis mudanças de regras fiscais, ou tributação, que podem impactar na atratividade.

Diante de um quadro incerto, os investidores e gestores de fundos de renda fixa seguem atentos às movimentações do BC e também do Fed (Federal Reserve), banco central dos EUA, visto que sua postura influencia o mercado brasileiro. 

Espera-se que o início do corte na taxa de juros dos EUA aconteça em setembro, como já sinalizou o presidente do Fed, Jerome Powell. Isso pode atrair mais capital estrangeiro para a Bolsa do Brasil.

“No entanto, se esse movimento for acentuado, terá uma influência na atuação do nosso BC, no sentido de possivelmente não haver uma necessidade de alta dos juros conforme estamos prevendo para 2025”, finalizou Mello. 

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