Dívidas e reestruturações

Fundos especializados se beneficiam de recuperações judiciais

O volume de pedidos de recuperação judicial bateu recorte, desde 2020, com 1.405 casos em 2023

Foto: Unsplash
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Ler que a “empresa x entrou com pedido de recuperação judicial” se tornou comum no noticiário do mercado brasileiro, desde o ano passado, com recorde no volume de pedidos (1.405) em 2023. Desde 2020, no entanto, há uma espécie de fundo de investimento que se beneficia desse cenário: os fundos especializados, ou special situations.

Segundo dados do Serasa Experian, no ano passado, o índice de empresas que entraram com pedido de RJ (Recuperações Judiciais) subiu 68,7%, com relação a 2022. Para os fundos especializados – que são considerados ativos de risco – é a chance de atuar com capital novo.

Dessa forma, o crédito não tem proteção dentro do processo de RJ, mas leva garantias de fora. Através de acordos com os credores, os fundos special sits ganham prioridade nos pagamentos e controles das empresas, explicou Rodrigo Negrini, especialista em finanças e CEO da Soul Capital.

Contudo, justamente por enquadrar-se na categoria “ativo de risco”, há complexidades legais que afetam os rumos da rentabilidade.

“Mudanças na legislação falimentar ou nos processos de recuperação judicial podem afetar adversamente os resultados do investimento. Além disso, o processo de reestruturação em si é incerto e pode não ser bem-sucedido”, disse Rafael Bellas, head de Fundos Imobiliários da InvestSmart XP.

Fundos especializados aproveitam dívidas e má gestão de empresas

Os gestores dos special sits vislumbram oportunidades não apenas nas recuperações judiciais, mas também nas reorganizações empresariais, falências, vendas de ativos, fusões e aquisições. Bem como na aquisição de precatórios e litígios.

Companhias com planos deficiêntes e sem estratégias de ações esclarecidas, tendem a sofrer maior exposição.

“Em cenários de juros elevados, os custos financeiros aumentam, o que pode diminuir as margens de lucro e restringir a capacidade da empresa de fazer novos investimentos”, alertou Bellas.

Dentre o levantamento da Serasa Experian, o volume de pedidos de RJ foi liderado pelas micro e pequenas empresas, com 939 casos. Já as grandes empresas expressaram 135 casos.

Além disso, os setores de serviços e comércio foram os líderes em números de pedidos do tipo em 2023, com 651 casos e 379 casos, em sequência.

Bellas reforça que a entrada dos fundos especializados não injeta apenas capital, mas também expertise para a reestruturação para que as companhias superem dificuldades financeiras. 

“Isso permite que os fundos obtenham ativos a preços reduzidos e participem ativamente na recuperação e valorização da empresa, maximizando o retorno sobre seus investimentos enquanto apoiam a revitalização de negócios em dificuldades”, afirmou.

Benefícios oferecidos aos investidores

Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, avalia que, pelo impasse no ativo, o gestor precisa saber precificar o risco desse ativo, mapear as possíveis soluções para a dificuldade enfrentada, assim como a forma de saída desse investimento.

“Para o investidor, é uma forma de diversificar seu capital com alto retorno potencial e investindo em ciclo de baixa de mercado, auferindo retorno em ambientes desafiadores”, disse.

Bellas lembra que esses investimentos podem ser difíceis de vender no mercado secundário, por isso, quem participa do fundo pode ter problemas para liquidar suas posições, sem que tenham perdas significativas.

“Dito isso, é muito importante atuar com gestores que possuam vasta experiência não só em finanças, como também na parte jurídica”, disse.

Expectativas para 2024

Dois setores que estão passando por dificuldades e consequentemente vem sendo alvo dos gestores de situações especiais são o varejo e o imobiliário, disse Fonseca, dois segmentos sensíveis aos juros altos e ao crescimento econômico

O economista vê 2024 como um ano de ‘boa safra” de alocação para os fundos especializados, por reflexo dos últimos anos difíceis, economicamente falando.

“Reforço que esses gestores têm um papel muito importante na economia, pois eles são o último cheque que as empresas recebem muitas vezes antes da falência […] esse tipo de investimento gera externalidades extremamente positivas para toda uma sociedade, reduzindo desemprego e gerando negócios onde mas ninguém via oportunidade”, finalizou.

Bellas afirmou que as boas previsões para os fundos especializados se devem, em grande parte, à instabilidade econômica e às incertezas pelo mundo, que criam chances de investir em empresas passando por dificuldades ou mudanças importantes. 

“Mesmo com uma tendência de queda nas taxas de juros, os juros ainda estão altos o suficiente para complicar a situação financeira das empresas, tornando mais difícil para elas diminuírem suas dívidas e renegociarem o que devem”, concluiu.

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