Após o desastre vivido em 2023, com eventos da Light (LIGT3), Americanas (AMER3) e outras organizações, os fundos que alocam em ativos de crédito deram a volta por cima. No acumulado do primeiro trimestre, a captação líquida (depósitos menos resgates) em fundos de renda fixa com crédito na carteira chegou a R$ 31 bilhões.
O valor corresponde a quase um quarto, cerca de 24%, dos depósitos líquidos realizados em fundos de renda fixa, que chegaram a R$ 131,7 bilhões entre janeiro e março de 2023. A classe foi a de maior destaque em termos de entradas líquidas no período.
Os dados foram baseados num levantamento da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos mercados Financeiro e de Capitais).
O volume alocado em fundos de crédito foi maior que o visto no último trimestre de 2023, quando houve entradas líquidas de R$ 27,5 bilhões.
O destaque para os fatores que auxiliaram na captação são os retornos oferecidos pelos produtos. Os fundos de renda fixa com duração média crédito livres chegaram a ter ganhos médios de 3,33% no primeiro trimestre do ano.
Na perspectiva de analistas da Occam, um conjunto de fatores beneficiou o mercado de crédito privado. Um dos pontos mencionados pela gestora foi a queda da Selic, mas a expectativa do mercado é que ela se mantenha superior a 9% no final do ano. Isso permite que os fundos mantenham uma boa rentabilidade ao longo de todo o prazo.
“Há ainda um certo otimismo em relação à economia local que, além de acentuar a busca por ativos de risco, tem como consequência uma melhoria nos fundamentos financeiros das empresas brasileiras”, explicaram os analistas, de acordo com o “InfoMoney”.
Fundos especializados se beneficiam de recuperações judiciais
Ler que a “empresa x entrou com pedido de recuperação judicial” se tornou comum no noticiário do mercado brasileiro, desde o ano passado, com recorde no volume de pedidos (1.405) em 2023. Desde 2020, no entanto, há uma espécie de fundo de investimento que se beneficia desse cenário: os fundos especializados, ou special situations.
Segundo dados do Serasa Experian, no ano passado, o índice de empresas que entraram com pedido de RJ (Recuperações Judiciais) subiu 68,7%, com relação a 2022. Para os fundos especializados – que são considerados ativos de risco – é a chance de atuar com capital novo.
Dessa forma, o crédito não tem proteção dentro do processo de RJ, mas leva garantias de fora. Através de acordos com os credores, os fundos special sits ganham prioridade nos pagamentos e controles das empresas, explicou Rodrigo Negrini, especialista em finanças e CEO da Soul Capital.