Mercado

Fusão Arezzo e Soma: "varejo brasileiro ganhou muito", diz especialista no setor

Especialistas avaliam movimento entre as duas grandes empresas do setor varejista

A Arezzo&Co (ARZZ3) e o Grupo Soma (SOMA3) comunicaram na última semana, uma fusão, resultando na criação de uma gigante do varejo nacional. Com mais de 30 marcas de roupas, calçados e acessórios, o faturamento conjunto estimado é de R$ 12 bilhões.

Para especialista no segmento varejista, fundadora e CEO da NotmeShoes, Ana Carina Kammers, o “varejo brasileiro ganhou muito com essa fusão”, como os próprios diretores colocaram nas entrevistas, o principal objetivo é ampliar a presença de mercado, e além de um próprio objetivo pessoal de deixar um legado, explica. “Acho que justamente, pelas duas empresas estarem em um momento bom, tiveram boas aquisições nos últimos dois anos e estarem bem financeiramente, acho que foi o momento ideal para essa fusão”, destaca.

A especialista ainda ressalta que sem dúvidas a fusão trará valor para as duas empresas, tendo em vista que são grandes grupos de segmentos de moda, vestuário e calçados. “Na minha visão existe uma possibilidade de complemento muito grande onde as duas marcas sairão ganhando”, destaca Ana Carina.

“Claramente, esta fusão trará um novo panorama no varejo nacional, gerando novas negociações, transações e propostas para os consumidores, que exigem cada vez mais serviços online, customizados e com a entrega mais rápida possível”, ressalta o especialista em finanças, João Fouad.

“O valor de mercado de ambas as firmas aumentará, porque agora elas terão fatias comuns de milhões de clientes, parceiros e investidores; ao mesmo tempo, sabemos que os processos de fusão e aquisição geralmente incluem uma situação desfavorável para alguma das partes, que renuncia ao crescimento 100% próprio para continuar e potencializar-se unindo força com outras”, completa Fouad.

Fouad destaca que um dos  principais motivos para a fusão foi a sinergia de portfólio das duas empresas e o mercado gigantesco que ambas compartilham, detectando nichos específicos de públicos nos quais as duas atuam. 

“Unindo seus portfólios e leques de produtos, as varejistas podem chegar aos consumidores com estratégias mais integrais e com promoções mais tentadoras; considerando que o nível de exigência dos clientes não para de subir porque são consumidores informados e, muitas vezes, até conhecedores dos processos de criação, manufatura e venda dos produtos”, explica o especialista em finanças. 

Potência no setor

Questionada se a fusão pode transformar as empresas em grandes potências do setor, Ana Carina destaca que, acredita que sim e não somente ao nível Brasil, “como quiçá a nível mundial, não tenho dúvidas, com a determinação do Alexandre Birman, da Arezzo e o estratégico do Roberto Jatahi, do Grupo Soma, de tudo que eles vieram adquirindo e fazendo acontecer nos últimos anos e agora com essa fusão”.

“Eu acredito que a empresa tem muito para crescer não somente dentro do Brasil, mas no mercado internacional também”, completa a especialista no varejo.

Para Fouad, muito provavelmente, a  união entre a Arezzo e o Grupo Soma pode torná-los um dos principais players do mercado de moda premium no País. “Mesmo assim, eles devem competir permanentemente com outros gigantes do setor em nível nacional, assim como com os produtos asiáticos (especialmente chineses) que mantêm seus preços baixos e melhoram sua qualidade e experiência do usuário, paulatinamente, a cada dia”.

Desafios da fusão

Inicialmente, Ana Carina afirma que, de modo geral, toda empresa quando passa por uma fusão, tem reestruturação, “ainda mais quando estamos falando de dois grupos tão grandes, o processo de reestruturação nesse caso, não é um processo fácil, muitos cargos se esbarram”, explica.

“Mas olhando de fora e acreditando em toda a expansão que tem pela frente,  eu acredito que não será tão difícil de estruturar, vai crescer muito, vai abrir muitas portas”, ressalta a especialista no segmento. Em relação à cultura da empresa, Ana Carina acredita que não será um grande desafio, isso porque são empresas que embora tenham foco em setores diferentes, mas são da área de moda. 

“Eu vejo com um olhar muito positivo. Os dois CEOs dos grupos são empresários muito decididos, muito resolvidos, têm culturas muito bem posicionadas dentro das empresas. A questão de cultura e organizacional eles vão tirar de letra, na minha visão.”

Por outro lado, Fouad afirma que, na sua visão terão desafios externos e internos,  entre eles, unificar a sua cultura empresarial, repassar valores identitários coerentes para quadros gigantescos de funcionários – muitos deles localizados em regiões bem distantes. 

“Alinhar os processos de produção e logística e, ainda, renegociar dívidas “do outro”, disponibilizando capitais de giro e recursos para seus departamentos segmentados. Assim como lidar com investidores que originalmente não consideraram participar da “outra empresa”.

Outras empresas do setor

Para a especialista do segmento varejista, ao contrário de muitos ruídos que ouvimos no mercado, destaca que não acredita que prejudicará outras empresas do setor. “Pelo contrário, eu acho que a presença de um grupo tão grande, com tanta força de mercado no varejo, só vai fortalecer ainda mais o varejo brasileiro, voltar os olhos para o setor, brigar por um espaço que muitas outras empresas, talvez menores, vão se beneficiar”.

“Acredito que a fusão vem para somar e fortalecer o varejo brasileiro, muitas outras empresas serão beneficiadas por isso, acredito que estamos em um ponto muito interessante para valorizar o mercado do varejo brasileiros”. “É a hora de valorizar o varejo e, eu vejo isso, mais uma vez, como um grande ganho”, completa Ana Carina.

Em contrapartida, o especialista em finanças ressalta que, logo as demais empresas do setor entenderão que realmente estarão concorrendo cum um “Golias” do varejo da vestimenta e o calçado, e agirá de forma estratégica no curto e longo prazo, permanentemente.