Gol (GOLL4) tem viagem longa para alcançar "valor pré-pandemia”

Companhia estima prejuízo por ação de R$ 1,80 para o 3T22; analistas destacam principais pontos do guidance da aérea

A Gol (GOLL4) publicou suas estimativas de resultados para o terceiro trimestre de 2022, nesta quinta-feira (13), e, segundo especialistas, apesar da empresa ter apresentado melhoras em relação ao ano anterior, a aérea ainda tem um longo caminho para percorrer até chegar aos “números pré-pandemia”.

Na visão de especialistas consultados pelo BP Money, a Gol apresentou uma evolução importante na margem Ebitda e na receita total, mesmo com um cenário macroeconômico e geopolítico ainda desfavorável para as aéreas. 

De acordo com Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, a alta de preços do combustível e o cenário de incerteza da demanda são fatores que ainda devem atrapalhar a Gol. A empresa, porém, tem melhorado seu desempenho, em termos de resultados.

“Ao meu ver, o mercado estava muito otimista com a prévia. A Gol está historicamente descontada e existe um cenário de retomada que a gente pode estimar. A surpresa foi a receita total, que teve uma alta de 107% ano contra ano. É uma surpresa, porque houve um aumento muito expressivo, ao passo que não conseguiu obviamente performar de forma muito positiva já que o custo petróleo aumentou muito”, disse Cozzolino.

“Temos que ver se a melhora da demanda vai potencializar, de fato, melhores receitas e, se assim, conseguimos – de alguma forma – ver a Gol com preços de mercado pré-pandemia, mas acho que está longe de acontecer”, completou Cozzolino.

A Gol estimou, em seu guidance, um prejuízo por ação de R$ 1,80 no terceiro trimestre de 2022. Segundo analistas, os desafios para a empresa vão além da geopolítica. 

“É uma questão estrutural. Não tem como combater a alta da querosene, por exemplo. Não tem como uma aérea ter se preparado para esse cenário”, afirmou Cozzolino.

Para Paulo Luives, assessor de investimentos da Valor, a Gol apresentou uma evolução importante na margem Ebitda e os números da companhia apresentaram um progresso considerável.

“Os resultados foram impulsionados pelo crescimento da demanda doméstica, de viagens de lazer, combinado com a retomada ainda gradual das viagens internacionais. O ponto importante para ressaltar é a questão do querosene de aviação, que teve um aumento de 89%. Dado esse cenário, as reduções que foram anunciadas recentemente devem impactar apenas nos resultados do quarto trimestre de 2022. Junto com a renovação da frota que já está em execução, vai ajudar na eficiência operacional da companhia nos próximos períodos”, afirmou Luives. 

A Gol informou que o custo unitário ex-combustível deverá diminuir em cerca de 25%, em relação ao terceiro trimestre do ano anterior, principalmente devido ao aumento de oferta (ASKs -assentos oferecidos vezes quilômetros) em 43% e incremento de produtividade na utilização de aeronaves e eficiência operacional. 

Luives também destacou a questão do financiamento anunciado pela aérea, de US$ 80 milhões. “É mais ou menos 12% do market cap dela hoje, para a aquisição de nove motores novos para equipar sua frota, diversificando ainda mais o financiamento de investimento da empresa, para ter um custo mais competitivo e reduzir o caixa necessário para a renovação da frota”, explicou o especialista.

Estimativa segue “neutra” para a Gol até o final de 2022

Mesmo otimizando custos, em um cenário incerto e desfavorável para o setor, a Gol ainda não é bem vista pelo mercado (ao menos para curto prazo). De acordo com a Guide Investimentos, o impacto do guidance da empresa será neutro para os papéis da compahia.
 
“Apesar da Gol continuar entregando prejuízo, em nossa visão, é evidente que a empresa tem otimizado seus custos, expresso pela queda no custo ex-combustivel, mesmo com uma inflação de aproximadamente 8,5% no período. Acreditamos que um dos principais vilões para a melhora da Gol, e dos números do setor como um todo, são os custos relacionados a combustível, que esperamos que se mantenham em patamares elevados”, informou a Guide ao BP Money.

Para Khalil de Lima, analista da Reach Capital, o preço dos combustíveis continua machucando bastante as margens da companhia.

“Acho que as estimativas vieram um pouco abaixo do consenso do mercado, principalmente em termos de margem, mesmo com uma demanda doméstica que continua melhorando sequencialmente, e com os tickets de passagem aumentando. Os combustíveis devem continuar nessa tendência até o fim do ano, dado que ainda não tem muito consenso sobre uma queda do QAV em 2022”, disse Lima.

“Acho que até o fim do ano as expectativa é mais neutra mesmo. Para 2023 deve ter uma melhora, conforme as pressões de custos voltarem a trazer uma margem mais normalizada para a companhia”, completou o analista da Reach Capital.

Fabrício Gonçalvez, Ceo da Box Asset Management, também salientou que os preços do petróleo e a volatilidade do câmbio são preocupantes no curto prazo para a companhia.
 
“O aumento nas viagens domésticas, alinhado ao ganho de market share de seu programa de fidelidade, faz com que a companhia possa apresentar bons resultados ao longo prazo, além de que a empresa possui um valuation mais agradável perante aos seus concorrentes”, disse Gonçalvez sobre o Gol.