Empresas privadas estão reconsiderando a relevância das IPOs (Oferta Pública Inicial, da sigla em inglês) à medida que o mercado privado de capitais oferece alternativas contundentes, foi o que afirmou o CEO (Presidente Executivo) do Goldman Sachs, David Solomon, em entrevista recente ao jornal Financial Times.
O executivo destacou que, nas condições atuais, grandes empresas têm condições de levantar e erar liquidez a seus acionistas sem necessariamente abrir capital de forma pública, indo de encontro a modelos tradicionais, como apurou o site Exame.
“Hoje, empresas podem acessar grandes volumes de capital permanecendo no mercado privado, eliminando parte dos motivos históricos para se tornarem públicas”, declarou Solomon. Ele salientou que o processo de abertura de IPO gera mudanças significativas no funcionamento e configuração de uma companhia, sendo necessário avaliar os riscos a longo prazo.
Discrepâncias
A capacidade de levantar bilhões de dólares no mercado privado, muitas vezes com menos exigências de órgãos regulatórios, atrai empresas que preferem a descrição que um investimento público impede. “É essencial entender as implicações de operar sob o escrutínio constante de investidores e reguladores”, reforçou Solomon.
Ele destacou ainda a discrepância entre as avaliações de empresas nos mercados públicos e privados, mesmo quando investidores em ambos os cenários são os mesmos. “Essa desconexão levanta questões sobre a coerência do sistema e como as decisões de investimento são tomadas em diferentes contextos de mercado”, ponderou
IPO no Brasil: apenas 16% de ações têm retorno positivo desde estreia.
Diante de um cenário de juros altos e um ambiente econômico adverso, as empresas que realizaram IPOs têm enfrentado dificuldades em entregar retornos positivos. Dos 93 papéis de empresas que fizeram abertura de capital nos últimos dez anos, um total de 84 seguem listados na Bolsa de Valores e apenas 15 registraram desempenho positivo em relação ao preço fixado na oferta inicial de ações.
Os dados pertencem ao levantamento da assessoria financeira Seneca Evercore divulgado pela VEJA.
Segundo Régis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, a alta taxa Selic, que há tempos se mantém elevada, exerce um forte impacto sobre o mercado de ações. A especialista destaca que os juros altos tornam a renda fixa uma alternativa mais atraente para os investidores, elevando o custo do capital.
“Esse ambiente de juros altos afeta empresas mais vulneráveis, como as dos setores imobiliário, varejo e tecnologia, que têm mais dificuldade em se adaptar e entregar resultados,” afirma.