Em meio a um panorama otimista apresentado por várias projeções para o Ibovespa em 2024, o Goldman Sachs destaca uma visão contrastante, prevendo que o principal índice da bolsa brasileira possa encerrar o próximo ano em um patamar inferior ao atual. Em uma entrevista ao Valor, Caesar Maasry, chefe da área de mercados emergentes e investimentos globais do banco, delineou uma análise apontando possíveis desafios decorrentes do sucesso recente do mercado.
Maasry apontou que, nos últimos dez anos, a estratégia mais eficaz para os mercados emergentes não foi centrada em teses de crescimento ou valor, mas sim na rotação entre ativos. Essa observação levou o Goldman Sachs a considerar outros mercados que não desfrutaram do mesmo desempenho exponencial recente, como a África do Sul, Tailândia e a região da Ásia em geral, como alternativas possíveis para investimentos.
Em relação às expectativas para os mercados emergentes em 2024, Maasry destacou uma perspectiva de crescimento sólido e desinflação contínua, prevendo retornos moderados, pois os valuations estão menos descontados. Quanto ao Brasil, o executivo enfatizou que o mercado acionário, em seus níveis atuais, pode apresentar desempenho ligeiramente inferior em comparação com seus pares emergentes, considerando a precificação acelerada do cenário de afrouxamento monetário nos últimos anos.
“Assim, acreditamos que emergentes darão retornos um pouco abaixo de dois dígitos em ações e renda fixa”, avaliou.
Questionado sobre o impacto dos juros mais baixos na bolsa, Maasry ressaltou que, embora no início do ciclo de afrouxamento, o mercado já tenha precificado muitos cortes de juros para os próximos 12 meses, o fator relevante não são os cortes imediatos, mas sim a projeção de longo prazo. Ele também abordou a correlação entre ações brasileiras e Treasuries, indicando que a dinâmica continuará atrelada aos juros americanos até uma diminuição da volatilidade ou sinais claros de melhora no crescimento do Brasil.
“Eu diria que, normalmente, o Brasil iria bem nesse ambiente, mas o ciclo de cortes no país começou com muita força, precificando muita coisa para 2024. Então, em termos de rotação, preferimos procurar outros mercados que não foram tão bem, como África do Sul, Tailândia e Ásia em geral”, disse.
Sobre os possíveis imprevistos que poderiam impulsionar os ativos brasileiros, Maasry mencionou que surpresas positivas no campo fiscal seriam extremamente úteis, potencialmente desencadeando ganhos adicionais nos ativos locais. Ele enfatizou que o próximo ano estará diretamente ligado a questões macroeconômicas, com um foco persistente nas probabilidades de recessão nos EUA, um elemento-chave que moldará o cenário global de investimentos.
Com um olhar perspicaz sobre o panorama financeiro global, Caesar Maasry ofereceu insights valiosos sobre as projeções e os desafios que podem impactar os mercados emergentes, destacando a importância da estabilidade fiscal e do contexto macroeconômico para os investidores globais que consideram o Brasil como parte de sua estratégia de portfólio.