O ano de 2023 tem sido um ano de muitas incertezas para o Grupo Casas Bahia (BHIA3). Convivendo com balanços trimestrais negativos, fechamento de lojas e demissão de funcionários, a varejista tem visto com temor a possibilidade de entrar com um pedido de recuperação judicial, algo que muitas empresas já fizeram neste ano, como a Americanas (AMER3).
Em mais uma tentativa de conseguir um respiro no caixa, o Grupo Casas Bahia realizou em setembro uma oferta de ações, na qual captou R$ 622 milhões, ante R$ 980 milhões esperados. Em uma semana, a ação derreteu 38%, com o papel saindo de R$ 1,20 para R$ 0,73.
Com o pânico em torno das finanças da varejista, muitos investidores têm se questionado: é o fim do Grupo Casas Bahia? Na visão de Lucas Lima, analista da VG Research, a companhia ainda tem chances de se recuperar, pois grande parte de suas dívidas são de longo prazo.
“A possibilidade da falência existe na medida em que projetamos resultados fracos como reportados nos últimos trimestres. No entanto, em 2022, a companhia renegociou os vencimentos de suas dívidas, ou seja, a maior parte que estava no curto prazo terminou indo para o longo prazo. Hoje, cerca de 34% estão no curto prazo e 66% no longo prazo”, disse.
“Atualmente, a Via possui uma caixa disponível de R$ 870 milhões, sem considerar antecipação de contas a receber e cartões de crédito. Logo, existe um fôlego final para o Grupo Casas Bahia tentar organizar a casa e ter um modelo de negócio sustentável no longo prazo”, acrescentou Lima ao BP Money.
Outro ponto destacado pelo analista da VG Research é a recente queda da inflação e da taxa básica de juros. Segundo ele, com a melhora da economia brasileira, a demanda por bens duráveis pode subir, beneficiando o caixa da varejista.
“Outro ponto de “sorte” da empresa é que a inflação caiu bastante e o ciclo de redução da taxa de juros foi iniciado, então a demanda por bens duráveis pode voltar a crescer nos acréscimos do segundo tempo, ajudando na geração de caixa da empresa e redução da dívida”, pontuou.
Como o Grupo Casas Bahia pode escapar dessa crise?
O mercado não tem confiado muito na recuperação da varejista. Em setembro, o percentual de ações alugadas do Grupo Casas Bahia disparou, assim como a taxa paga por investidores pelos aluguéis. De acordo com dados da Economatica, o percentual do free float alugado chegou a mais de 26%.
Ainda segundo a Economatica, a taxa de aluguel média bateu mais de 279,5% do preço da ação. Com isso, para realizar uma operação do tipo, um investidor, então, toparia pagar quase três vezes o preço do papel para manter a posição.
Para Lima, a varejista, para conquistar novamente a confiança dos investidores e sanar as dívidas, deverá promover uma remodelação de tamanho e operação.
“A empresa vem queimando bastante capital de giro em lojas que não estão sendo rentáveis, logo a redução do número de lojas será algo importante no plano de reestruturação da companhia. Além disso, ela precisa dar saída a um estoque de produtos não core e de cauda que possuem margens extremamente baixas. A empresa precisa focar em ser menor e mais rentável”, disse o analista.
E se o Grupo Casas Bahia pedir RJ?
Caso o Grupo Casas Bahia opte por um pedido de recuperação judicial, Camila Crespi, advogada da Luchesi Advogados e especialista em reestruturação empresarial, explica que a varejista conseguirá suspender todas as ações movidas por credores durante 180 dias, como forma de renegociar suas dívidas.
“Se a empresa optar pela recuperação judicial, um dos benefícios imediatos com o deferimento do processamento do processo é a suspensão de todas as ações e execuções que tramitam contra a empresa de dívidas que são sujeitas à recuperação judicial e, ainda, a blindagem patrimonial pelo período inicial de 180 dias, que pode ser prorrogado por igual período”, afirmou.
“O Stay period, como é chamado, blinda a empresa de quaisquer tipo de medidas expropriatórias dos credores, justamente para possibilitar melhor reestruturação da dívida e negociação com os credores”, acrescentou Crespi.
Em um cenário mais pessimista, que envolva a falência do Grupo Casas Bahia, Grasiele Roque da Silva, especialista em recuperação judicial de Benício Advogados, diz que os atuais administradores seriam afastados das empresas e substituídos por um administrador judicial.
“Na remota hipótese de ser decretada a falência do Grupo Casas Bahia, as consequências consistem no afastamento dos administradores, nomeação de um administrador judicial que deverá planejar e executar a arrecadação de ativos, bem como apresentar um plano de rateio para pagamentos dos credores, e vencimento antecipado das dívidas”, relatou Silva.