Haddad prevê impacto fiscal com juros altos

Haddad participou de uma sessão no Senado sobre juros, inflação e crescimento econômico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta quinta-feira (27) que, se a economia brasileira continuar desacelerando por conta dos juros altos, haverá “problemas fiscais” nas contas públicas. A declaração do ministro foi dada durante sessão no Senado sobre juros, inflação e crescimento econômico, na qual também participou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

“Não vejo a política fiscal, monetária e prudencial separadas umas das outras. Elas fazem parte da mesma engrenagem. Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária [taxa de juros alta, fixada pelo Banco Central], vamos ter problemas fiscais, porque a arrecadação vai ser impactada. Não tem como separar. Se desacelera a economia, vou ter impactos fiscais”, argumentou Haddad.

“Se eu desacelero a economia, saindo de 4% para 3%, para 2%, para 1%, eu vou ter impactos fiscais, e nós estamos tomando medidas inclusive difíceis de tomar, impopulares, sobretudo por causa do populismo praticado [nas eleições], que surrupiou quase R$ 40 bilhões dos estados no ano passado, mais R$ 60 bilhões de Receita Federal – no ano passado”, acrescentou.

Nos últimos meses os juros altos têm sido motivo de atritos entre o governo Lula e sua equipe econômica, liderada por Haddad, com o Banco Central.

Campos Neto nega que queda da Selic teria efeito imediato no crédito

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na última terça-feira (25) que uma queda na taxa Selic não teria efeito imediato no volume das concessões de crédito no País. De acordo com Campos Neto, o efeito inclusive pode ser o contrário caso o movimento não for feito com credibilidade.

“Apenas 2,2% do crédito roda com Selic. Eu determino os juros de 1 dia e a economia não gira no juro curto. Se eu não tiver credibilidade, os demais juros vão subir. Não necessariamente reduzir o juro curto abaixa o juro longo. Por isso preciso fazer os movimentos no timing correto para a queda se propagar na curva”, disse o presidente do BC, em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.

Além disso, Campos Neto reafirmou na terça-feira que o aumento do crédito direcionado reduz a potência da política monetária. Segundo ele, é por isso que o BC precisa aumentar mais os juros do que outros países com inflação semelhante.

“O Brasil tem um volume de crédito direcionado de 40,3%, nenhum outro país do mundo tem isso. Quando tenho muita meia-entrada, o preço da entrada inteira aumenta. Em países emergentes a média do crédito direcionado é de 3% ou 4%. O crédito direcionado funciona como ‘tubo entupido’ para política monetária”, argumentou Campos Neto.