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Hapvida (HAPV3): economista projeta “quedas maiores” e recomenda venda

Segundo o profissional, a investigação da companhia surge como um combo para ancorar mais ainda o desempenho dos papéis da companhia

A acusação do grupo Hapvida NotreDame (HAPV3), maior plano de saúde do Brasil, de descumprir sistematicamente decisões judiciais que favoreciam seus beneficiários, têm tido impacto significativo nos papéis da companhia. Após a divulgação de que a companhia havia virado alvo do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), as ações estenderam a queda e encerraram o pregão da quinta-feira (18) com baixa de 6,98%, cotado a R$ 4,00. 

O economista e CEO da Dootax, Yvon Gaillard, avaliou, em resposta ao BP Money, que a investigação que coloca o maior operador de saúde do Brasil como alvo, surge como um combo para ancorar mais ainda o desempenho da ação Hapvida (HAPV3). Isso porque o setor ainda impactado pela pandemia de Covid-19, já enfrentava um momento de crise desde 2022.

“Especificamente o papel da Hapvida-NotreDame, dado esse cenário conturbado que está no momento, eu vejo que no curto e médio prazo a empresa não deve ter uma recuperação. Minha recomendação seria, se a pessoa possui ações dessa empresa, seria vender o mais rápido possível e assumir a perda. Porque muito provavelmente, eu enxergo, que haverá ainda quedas maiores ali ao longo, principalmente, deste ano”, analisou.

Em um só pregão, na última quinta-feira (19), ao passo que a ação encerrou em queda de 6,97%, cotado a R$ 4, a companhia registrou uma perda de R$ 2,2 bilhões em valor de mercado. Desta forma, a empresa passa a valer atualmente R$ 30,1 bilhões na B3, de acordo com reportagem do “O Globo”.

Procurada, a assessoria do Hapvida informou à reportagem que não vai se manifestar sobre o tema.

“Não vejo um aumento na demanda muito drástico no curto e médio prazo, e também a gente não vê um cenário de redução drástica dos custos que a Hapvida-NotreDame tem”, completa o CEO da Dootax. 

Além disso, o profissional ressalta que  o descumprimento dessas decisões judiciais pode fazer com que o Hapvida sofra sanções e perca a autorização de comercializar planos. 

Hapvida (HAPV3): setor de saúde sofre crise

De acordo com Gaillard o setor de saúde conta com uma “estabilização da demanda”, com a crise da Covid, que encareceu os custos para os planos de saúde. 

“Isso acaba refletindo no setor que vem passando por maus momentos já há algum tempo, e esse tipo de decisão judicial vai muito em linha desse momento […] Como os custos estão muito altos, os planos estão mais exigentes sobre aprovar tratamento, cirurgia eletivas. Isso faz com que crie esse atrito com seus clientes ali, com seus segurados”, disse. 

Somado a isso, o setor da saúde suplementar lida atualmente com uma crescente judicialização em todo o Pais. O grande desafio para os juízes é entender que uma decisão em um caso particular pode comprometer todo o sistema e os beneficiários que o sustentam. Enquanto não há uma lei de regulação dos planos de saúde, as companhias se apropriam desenvolveram a seguinte tática: a suspensão unilateral de planos de clientes que demandam tratamentos mais caros. 

Em resposta ao BP Money, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge)  alerta para a crescente judicialização da saúde suplementar. De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), aumentou em 58,2% em 2022, em relação a 2021, alcançando um total de R$ 4 bilhões. 

“A Abramge, acompanhando os diversos temas que impactam o setor de saúde suplementar no Brasil, ressalta a necessidade e a importância de se haver segurança jurídica nos contratos firmados entre os beneficiários e as operadoras de planos de saúde, que seguem uma extensa e complexa regulamentação e legislação vigente”, defende em nota.