Empresas ligadas ao setor de commodities (agrícola e pecuária, mais especificamente) lideraram as altas da bolsa de valores de São Paulo (B3), nesta segunda-feira (10). O Ibovespa (principal índice de ações da B3), por volta das 17h00, tinha como principal alta a SLC Agrícola (SLCE3), que operava com uma variação positiva de 6,19%, cotada a R$ 44,79, seguida por São Martinho (SMTO3), BRF (BRFS3), JBS (JBSS3) e Suzano (SUZB3).
Segundo especialistas consultados pelo BP Money, a alta dessas companhias está ligada a diversos eventos específicos, como o aumento do preço do trigo – impulsionado pela escalada de ataques da Rússia a Kiev (no caso de SLC Agrícola) – e o surto de gripe aviária nos Estados Unidos e na Europa (refletindo nos papéis dos frigoríficos).
A gripe aviária nos EUA tem matado milhões de aves reprodutoras e, por isso, pode ter “animado” o mercado em relação aos papéis de frigoríficos nacionais. Segundo Rodrigo Fraga, analista da Guide Investimentos, a BRF é a primeira empresa a se beneficiar com o surto da gripe aviária.
“EUA e Europa são os focos, hoje, de gripe aviária e a BRF está distante, então pode suprir esses mercados, caso venha a acontecer alguma restrição. Isso pode favorecer, consequentemente, a exportação do lado deles”, explicou Fraga.
O especialista explica ainda que a alta de outros frigoríficos pode estar ligada a um movimento de substituição dos alimentos.
“Pensando que os consumidores podem evitar um pouco o consumo de frango e irem para outras proteínas, acho que isso explica um pouco esse comportamento hoje de frigoríficos de segunda ordem”, afirmou Fraga.
Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, reforça que o surto da gripe aviária nos EUA e na Europa pode ser benéfico para frigoríficos brasileiros, dado que a oferta nesses mercados cairá.
“Isso valoriza as companhias brasileiras, porque aumenta a exportação aqui. A BR Foods pode ser uma das principais beneficiadas e também Marfrig e JBS que tem uma presença bem forte nesses mercados, principalmente no americano”, afirmou Komura.
Alta de commodities agrícolas no Ibovespa
Sobre a alta das ações de empresas de commodities voltadas para o mercado agrícola, o analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, Rafael Pastorello, afirma que o movimento está relacionado à guinada do preço do trigo.
“O trigo deu uma disparada – neste momento, próximo das 13h, de praticamente 8%. Por se tratar de empresas que têm a receita diretamente ligada com o setor do agronegócio, apresentaram alta. Essa subida do trigo vai muito em linha com o que vem acontecendo na guerra entre Rússia e Ucrânia”, disse Pastorello.
A guerra entre Rússia e Ucrânia voltou a se intensificar. A Rússia realizou o maior ataque aéreo, desde o início da guerra, a Kiev. Mais de 90 pessoas ficaram feridas e 14 morreram no ataque.
Com a escalada da guerra, as commodities terão um aumento no preço, visto que a Ucrânia é uma grande exportadora de trigo para o resto do mundo.
“Isso pode prejudicar a economia como um todo, fazendo com que o preço das commodities subam”, afirmou Pastorello.
De acordo com Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, empresas ligadas a commodities agrícolas (soja, milho, algodão, entre outros) – dado o cenário de estresse econômico e o agravamento da guerra entre Rússia e Ucrânia – tendem a se beneficiar na bolsa de valores.
“Por mais que existam sérios problemas, como o fator da guerra, temos o consumo desses produtos e, dado todo esse fator de resiliência, esses papéis estão subindo bem no Ibovespa, porque já foi levantada essa questão de segurança alimentar dos países terem estoques para alimentarem os animais, então todo esse problema macro e essa intensificação da guerra só reforça esse ponto e, por isso, essas empresas estão subindo”, explicou Komura.