Em um cenário econômico marcado por incertezas e expectativas de novos ajustes na taxa Selic, o mercado financeiro brasileiro continua a surpreender. Mesmo com a possibilidade de uma alta nos juros, o Ibovespa tem mantido um desempenho robusto.
Essas movimentações levantam a dúvida: o principal índice de ações do Brasil continuará em alta ou devemos nos preparar para uma correção? Analistas consultados pelo BP Money analisam o cenário e o que esperar do Ibovespa.
Contexto econômico e perspectivas para o Ibovespa
Jessica Natividade, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, explica que, tradicionalmente, um aumento na taxa Selic tende a direcionar os investidores para opções mais seguras, como a renda fixa, devido aos retornos mais atraentes em comparação com as ações, consideradas mais arriscadas.
No entanto, o atual cenário econômico está desafiando essa lógica. “Quando o Banco Central sinaliza um possível aumento na Selic, muitos investidores já ajustaram suas carteiras antecipadamente, absorvendo grande parte do impacto. Por isso, quando a Selic efetivamente sobe, o mercado de ações não sofre tanto quanto seria esperado,” afirma Natividade.
Ela acrescenta que, embora os juros possam aumentar agora, há uma expectativa de queda em 2025. “É como um elástico que, quanto mais você estica, maior é a força para voltar ao seu estado original. Se os juros sobem agora, há uma forte expectativa de que eles caiam novamente em breve, o que é visto como positivo para as ações”, explica.
Cenário global e fluxo de Capital Estrangeiro
Outro fator importante, segundo Natividade, é o cenário global, onde os Estados Unidos se preparam para reduzir seus juros em setembro. Isso pode atrair mais capital para mercados emergentes como o Brasil.
“Os juros americanos são como um ímã que atrai dinheiro do mundo todo. Quando eles começam a cair, os investidores buscam outras opções, como a bolsa brasileira, o que impulsiona o Ibovespa”, destaca.
Além disso, apesar dos níveis recordes atingidos pelo Ibovespa, muitas ações ainda estão sendo negociadas a preços atrativos. “Mesmo com a alta, o valuation de várias empresas continua interessante, o que atrai investidores buscando oportunidades de compra”, diz Natividade.
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Desempenho das empresas e política fiscal
O segundo trimestre de 2024 trouxe surpresas positivas, com várias empresas brasileiras reportando lucros acima do esperado, o que reforçou a confiança dos investidores.
Natividade também aponta o esforço do governo para manter as contas públicas sob controle, como o recente congelamento de R$ 15 bilhões em despesas, como um fator que contribui para a estabilidade econômica e a atratividade do mercado acionário.
Potencial de crescimento
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, compartilha uma visão otimista similar.
“Apesar das altas recentes, as ações brasileiras ainda estão descontadas. A atividade econômica no Brasil permanece resiliente, com o PIB podendo crescer entre 2,5% e 3% este ano”, observa Fernandes.
Ele destaca que o fluxo de capital estrangeiro foi particularmente forte em julho e agosto, impulsionado pela percepção de que, apesar dos desafios fiscais, o Brasil oferece boas oportunidades de investimento.
Fernandes também acredita que uma eventual alta na Selic não representaria uma inversão do ciclo de juros a longo prazo. “Mesmo que haja um aumento agora, a expectativa é de que os juros voltem a cair já em 2025, o que mantém a atratividade das ações brasileiras”, afirma.
Expectativas positivas para o Ibovespa
Em suma, apesar da possibilidade de aumento na taxa Selic, o Ibovespa pode continuar a mostrar desempenho positivo, sustentado por uma combinação de fatores globais e locais, como o fluxo de capital estrangeiro, o valuation atrativo das ações e a solidez das empresas brasileiras.
Ambos os especialistas concordam que, mesmo com os desafios presentes, o mercado acionário brasileiro ainda oferece boas oportunidades de crescimento, desafiando a lógica tradicional e reforçando a confiança dos investidores.
