Apesar do anúncio de corte em 0,5 p.p. na taxa básica de juros feito pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na quarta-feira (20), o principal índice da Bolsa de Valores, Ibovespa, fechou o pregão desta quinta (21) com forte recuo de 2,15%, aos 116.145 pontos.
Especialistas ouvidos pelo BP Money concordaram que o corte na Selic não foi surpresa surpresa para o mercado, que já havia precificado a queda, por isso o efeito não foi positivo para as ações no Brasil.
“Ontem tivemos um Copom com um tom moderado no comunicado. Os juros caíram 50 pontos base, como esperado. Já disseram que até o final do ano, nas próximas duas decisões, teremos mais duas quedas de 0,5% e eles deixaram bem claro que não vão aumentar as quedas além desse patamar. Apesar de ter tido unanimidade na decisão, o comunicado mostrou ainda que a política do Banco Central ainda vai se manter bem contracionista”, avaliou Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.
A avaliação do especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, vai no mesmo caminho. “No Brasil com relação à taxa de juros é muito importante que o investidor entenda que a queda já estava precificada. A gente tem no mercado brasileiro os juros para 2025 e 2026 iniciando uma tendência de alta, revertendo uma tendência de queda que se iniciou em novembro de 2022 e chegou a sua mínima no mês de agosto de 2023”.
Fator externo pesou
Os especialistas consentem que o fator externo pesou muito mais no desempenho da bolsa do que a queda na Selic. O principal responsável por esse cenário foi o anúncio feito pelo FED (Federal Reserve) nos EUA, que manteve as taxas básicas de juros do país entre 5,25% e 5,50% ao ano.
Em fala feita após a divulgação da decisão sobre os juros, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a inflação norte-americana continua bem acima da meta e que há um longo caminho para levá-la ao patamar de 2%.
“E hoje, para piorar um pouco a situação, os pedidos de auxílio desemprego vieram ruins, ou seja, o número de demissões foi menor que o esperado. Isso mostra uma força da economia americana. O próprio Jerome Powell ontem falou que, a menos que os Estados Unidos entrem em recessão, nem tão cedo os juros não vão cair e a atividade econômica continua forte. Então, isso fez com que o dólar ontem e hoje, principalmente, subisse no mundo”, acrescentou Rodrigo Cohen.
“A gente também tem um certo receio do mercado de que os americanos vão continuar mantendo os juros altos e também uma possível elevação ainda dessa taxa de juros. Quando a gente soma isso ao fato de incertezas com relação ao shutdown do governo americano [paralisação dos serviços federais] junto ao limite de gastos, isso gera uma briga na Câmara de Deputados e no Senado Americano, o que traz muita incerteza pro mercado”, assentiu Hulisses Dias.
“A queda da bolsa tem um reflexo muito mais externo e essa queda da taxa de juros que o Copom realizou ontem já estava precificada pelo mercado há bastante tempo”, finalizou Dias.