No acumulado de 2022, o Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira) tem alta de cerca de 5%, considerando o pregão parcial desta quarta-feira (28). Segundo dados levantados pelo Economatica a pedido do BP Money, entre as ações que mais caíram no Ibovespa, neste ano, até a última terça-feira (27), estão IRB, Americanas, BRF e CVC.
Confira, abaixo, o “top 5” das ações com maiores quedas acumuladas no Ibovespa em 2022:
IRB (-77,61%)
Americanas (-69,68%)
BRF (-66,96%)
CVC (-64,83%)
Qualicorp (-63,42%)
O cenário macroeconômico de alta inflação e juros altos não facilitou a vida de empresas ligadas ao varejo e ao turismo, como é o caso de Americanas e CVC. Para 2023, as perspectivas no varejo não são muito otimistas. O analista Fernando Ferrer, da Empiricus, destaca que com a subida de juros no Brasil, nos EUA e em outras economias importantes ao redor do mundo, as empresas que tem fluxo de caixa mais a frente acabam sendo mais impactadas.
“Com a reabertura da economia, a gente viu o e-commerce perdendo força em relação aos demais tipos de venda, como loja física. Outro fator é que players de crescimento, com o fluxo de caixa mais no futuro, são mais impactados neste cenário macro”, disse Ferrer.
O especialista também ressaltou que houve uma rotação de portfólio entre empresas de crescimento, ou seja, os investidores saíram desses papéis e buscaram companhias consolidadas, as chamadas “empresas de valor”, que tendem a oscilar menos, mesmo em momentos macroeconômicos instáveis.
“O terceiro fator é mais doméstico. A gente viu um comprometimento de renda grande da população brasileira e uma redução do volume de compras por conta dessa crise que a gente está vendo chegar. Então acho que esses três fatores foram os mais representativos para o desempenho ruim das varejistas, como a Americanas”, afirmou Ferrer.
Para 2023, o mercado espera um cenário desafiador para a Americanas e o varejo em geral. Segundo João Biduni, analista CNPI na INV, mesmo com a boa gestão e a melhora nos resultados, a Americanas segue com perspectivas negativas para o ano que vem.
“A taxa de juros ainda continua muito alta e a gente não tem a expectativa de uma queda muito significativa na taxa de juros e, com isso, fica difícil pra empresa dar crédito, para empresa expandir suas lojas e seus negócios online. A Selic é contrária ao varejo e é por isso que eu não estou demasiadamente animado com a tese de Lojas Americanas, apesar de achar que ela tem um bom ‘management’ e tem apresentado um bom crescimento”, disse Biduni.
Em relação a CVC, o mercado espera mais um ano de desafios para a empresa. Internamente, a companhia está organizada, segundo especialistas, mas o cenário externo, com a baixa expectativa de melhora sobre o ambiente macroeconômico, cria um alerta sobre os papéis da empresa, já que a CVC seguirá queimando caixa para enfrentar o cenário.
Em relatório publicado na semana passada, o banco Santander informou que conforme o ambiente macro se deteriora e a recuperação da companhia é potencialmente postergada, a instituição espera uma queima de caixa contínua por parte da CVC. Com isso, as perdas líquidas em 2023 e 2024 devem “limitar o interesse dos investidores em relação à tese”.
De acordo com o especialista em investimentos da SVN, Pedro Queiroz, a CVC foi uma das empresas mais impactadas desde o começo da pandemia, em 2020. Queiroz destacou o aumento do custo das viagens como um problema para a empresa, que tem como parte de seu público-alvo as classes B e C, que perderam o poder de compra com a inflação dos últimos anos.
“O problema é que o custo das viagens aumentou muito e o transporte aéreo impactou muito. Outro ponto importante é que as pessoas estão priorizando viajar domesticamente, por causa do câmbio. Olhando por um lado, isso até beneficia ela, mas o custo da viagem, para a própria empresa, está alto”, disse Queiroz, ressaltando a dificuldade da CVC em repassar custos para os consumidores.
BR Foods
Entre as piores performances de empresas listas no Ibovespa, a que tem a melhor perspectiva para 2023 é a BRF. Isso porque a empresa conta com um cenário “benéfico” fora do Brasil, segundo Queiroz, da SVN.
“A BR Foods tem tudo para ter uma performance boa no ano que vem, por causa da proteína dela, por ela ter um volume maior. Além disso, o rebanho aviário tem sofrido um impacto pela própria gripe aviária, em diversos países do mundo. Por isso, a demanda da Ásia e do continente europeu são demandas altas pela proteína que a BRF fornece”, disse Queiroz.
No terceiro trimestre deste ano, a BRF registrou prejuízo de R$ 137 milhões. confirmando uma melhora de 49,5% em relação ao resultado líquido negativo de R$ 221 milhões no mesmo período de 2021.
No resultado divulgado no 3T22, a BRF colocou como meta o avanço em eficiência operacional, com o intuito de melhorar índices de conversão alimentar, mortalidade, rendimentos e produtividade, tanto em abate quanto em desossa. Além disso, a administração da empresa informou que tinha como objetivo, para os próximos trimestres, a redução de custos e o avanço na consistência operacional.
Em relatório publicado recentemente, a XP informou que tem uma visão positiva para a BRF, principalmente porque a nova gestão, liderada por Miguel Gularte, deve ser capaz de tornar a BRF mais ágil “removendo inércias incômodas que eram responsáveis por oportunidades perdidas no passado da BRF”.
“Esperamos que a acomodação dos preços das commodities se traduza em recuperação de margens. A empresa deve se beneficiar do trade-down relacionado ao aumento dos preços da carne bovina e uma BRF mais voltada para a exportação poderia se beneficiar do aumento da demanda por aves nos mercados internacionais, mesmo considerando que a empresa pode precisar ajustar sua produção para um frango com pernas maiores e peito menor para se adequar aos hábitos de consumo na China, Sudeste Asiático e África”, destacou a XP em relatório.