Crescimento deve perdurar?

Ibovespa renova recorde histórico: o que explica o ânimo?

Uma combinação de fatores positivos que aliviaram a perspectiva de risco sobre os ativos da B3 e levaram o Ibovespa aos 135 mil pts

Foto: Canva/Ibovespa
Foto: Canva/Ibovespa

O Ibovespa começou a semana com o bom humor tomando conta das negociações. O índice alcançou a marca de 136 mil pontos pela primeira vez na históra. Tudo isso por uma combinação de fatores positivos que aliviaram a perspectiva de risco sobre os investimentos.

No radar dos agentes do mercado, o risco de recessão e política monetária dos EUA, o crescimento econômico do Brasil, a atração dos investidores internacionais à B3 e os balanços do 2TRI24 repercutem na valorização recorde do Ibovespa.

O que aconteceu com o Ibovespa?

  • O Ibovespa vem de uma sequência de fortes altas na semana passada. Mesmo tendo encerrado a sessão de sexta-feira (16) em baixa, o índice engatou 8 valorizações consecutivas antes, quando também atingiu a marca recorde anterior de 134,5 mil pontos. 

“Atingir uma máxima histórica no Ibovespa é um marco significativo que reflete a confiança robusta dos investidores no mercado brasileiro. Vários fatores contribuíram para essa alta, incluindo um cenário macroeconômico favorável, com dados positivos de crescimento econômico e inflação sob controle”, disse Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações.

  • O risco de recessão nos EUA foi totalmente afastado. Um pânico global levou as Bolsas de Valores de diversos países, incluindo o Ibovespa, a quedas significativas há duas semanas atrás. Os índices vêm se recuperando desde então, com os dados econômicos norte-americanos mostrando que o país segue resiliente.

“Um dos grandes temores que presenciamos recentemente é o risco de recessão nos EUA; contudo, a nova dinâmica tem mostrado que não é algo tão preocupante, ou melhor, algo tão grave”, comentou Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

  • Os indicadores de crescimento econômico do Brasil e dos EUA têm sido uma das causas dessa euforia. O IBC-Br mostrou alt de 1,4% em junho – o dado é considerado a prévia do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro – enquanto o CPI – índice de preços ao consumidor dos EUA – cresceu 0,2% em julho.

“Esse cenário aumenta a pressão sobre o FED para um possível corte de juros em setembro. Para o Brasil, isso é positivo para a Bolsa de Valores, pois, com a sinalização de Gabriel Galípolo de que o Banco Central pode aumentar os juros, o Carry Trade se torna mais atrativo para os investidores, o que beneficia o mercado brasileiro’, afirmou Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus

  • Expectativas de redução na taxa de juros dos EUA pelo Fed (Federal Reserve), como explicado pelos especialistas, estão mexendo com o mercado. Nesta semana, o Jackson Hole, simpósio do Fed, será realizado em Chicago e os mercados globais observarão o discurso de Jerome Powell, presidente da Casa, e suas indicações sobre um possível corte de juros. 

” No cenário internacional, a expectativa de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) tem atraído capital estrangeiro para mercados emergentes, incluindo o Brasil. Essa injeção de recursos é uma força motriz para a valorização das ações na B3″, avaliou André Colares, CEO da Smart House Investments.

  • No Brasil, as perspectivas são de que o Copom (Comitê de Política Monetária) pode aumentar a taxa de juros. Porém, a autarquia brasileira tem ganhado mais credibilidade aos olhos dos investidores, que veem que os diretores farão o que for necessário para conter a inflação, mesmo com as pressões do governo federal.

“No contexto local, a trégua do presidente em relação aos ataques diretos ao Banco Central torna o ambiente mais amistoso e mais suscetível a investimentos”, frisou Lima.

  • Por fim, a temporada de balanços do segundo trimestre de 2024 chegou ao fim no mercado brasileiro, mas os resultados seguem causando impacto ao Ibovespa. Um bom exemplo são as ações dos bancos tradicionais do País, que tem engatado altas significativas após reportarem lucros recordes no período. 

“Muitas empresas têm apresentado resultados financeiros robustos, superando as expectativas do mercado, o que gera confiança e atrai mais investidores. Para o futuro, as expectativas permanecem otimistas, mas é essencial considerar a volatilidade do mercado”, alertou Andrade.

“A resiliência das empresas listadas na B3, que têm mostrado resultados financeiros sólidos, também desempenhou um papel vital. Olhando para o futuro, é razoável esperar que o Ibovespa continue a mostrar força, especialmente se o Banco Central mantiver uma postura conservadora em relação à política monetária, como indicado pelo Boletim Focus”, finalizou Murad.

  • O relatório Focus do BC, divulgado nesta segunda-feira (19), mostrou aumento da projeção dos principais indicadores da economia brasileira em 2024. As expectativas da PIB subiram para 2,23%, as estimativas do IPCA cresceram para 4,22% e a Selic seguiu inalterada em 10,50% ao ano.

Bom momento do Ibovespa deve perdurar no 2S24?

Os primeiro seis meses de 2024 não trouxeram ventos favoráveis ao Ibovespa, que carregou o título de pior índice no primeiro trimestre e o terceiro lugar no semestre acumulado.

Conforme levantamento feito pelo BP Money, após o fechamento do dia 28 de junho, através de dados do TradingView, o Ibovespa fechou o semestre com perdas de 7,66%. Agora, o índice não só zerou as perdas, como acumula ganhos de 1,35% no ano.

Na avaliação de Marcelo Nantes, head de renda variável do ASA, o cenário traz boas expectativas para o Ibovespa no segundo semestre. Segundo ele, além da melhoria no cenário dos juros americanos, é esperado que os dados domésticos tenham mais relevância nos próximos meses.

“Apesar de uma discussão de possivel aumento da Selic, vemos dados de atividades bons, desemprego caindo e um início de ciclo de expansão de crédito, o que são indicadores positivos para as empresas do Ibovespa”, disse Nantes.

Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, destacou ainda que o crescimento contínuo do índice dependerá da estabilidade política, da evolução da economia global e da manutenção de um ambiente favorável para os negócios, além de exigir atenção às contas públicas e à inflação para garantir a sustentabilidade desse crescimento.