Recuperação de perdas

Ibovespa se aproxima dos 10 melhores índices globais no 3TRI24

No fechamento do 3º trimestre de 2024, o Ibovespa tomou um rumo diferente dos anteriores e operou entre os melhores índices globais no período

Foto: Ibovespa/CanvaPro
Foto: Ibovespa/CanvaPro

O telão de operações da Bolsa brasileira transfigurou para a cor verde no final do terceiro trimestre de 2024. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, que começou o ano carregando a faixa de “pior índice mundial”, conseguiu se recuperar e findou o período com ganhos de 5,69%.

O Ibovespa ainda não conseguiu escalar entre os 10 melhores índices globais no trimestre, mas bateu na porta. O índice ficou ficou em 11ª entre as maiores valorizações dos últimos 3 meses, conforme levantamento feito pelo BP Money.

O índice brasileiro se recuperou dos intervalos tenebrosos que enfrentou anteriormente, quando teve a maior perda entre as bolsas mundiais no primeiro trimestre e a terceira pior nos dados acumulados do primeiro semestre de 2024.

No intervalo entre julho e setembro, o Ibovespa viveu um boom, engatando recordes consecutivos de fechamento diário. A Bolsa doméstica atingiu o patamar inédito dos 137 mil pontos no final do mês de agosto.

“A queda de juros dos EUA fez muitos saírem dos treasures e investirem em mercados emergentes. O investidor passou a buscar maior rentabilidade em ativos de risco, já que a renda fixa começou a pagar taxas menores’, pontuou Hamelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

Porém, em sua análise, não foi apenas esse ponto que incentivou a recuperação do índice, mas também os resultados financeiros apresentados no 2TRI24 pelas companhias que o integram. 

“O Brasil está com o mercado aquecido, o que fez com que as empresas tivessem bons resultados divulgados”, disse.

Na comparação com outros índices acionários mundiais, a Bolsa brasileira seguiu atrás da Argentina (S&P Merval), que conseguiu a última vaga entre os 10 maiores ganhos. No entanto, o Ibovespa ficou à frente de outros índices relevantes como o S&P 500 (14º) e o Nasdaq (16º).

Apesar disso, os EUA e a China dominaram igualmente as 5 primeiras posições, com 2 índices de cada país compondo o grupo. 

Confira o ranking de outros índices mundiais além do Ibovespa:

As 5 maiores altas do 3TRI24

Índices globaisPaís de origemDesempenho no 3TRI24
CBOE VolatilibyEUA+ 32,04%
Shenzhen ComponentChina+ 18,50%
SSE CompositeChina+ 11,48%
S&P/TSX CompositeCanadá+ 9,84%
Dow Jones IndustrialEUA+ 8,29%
Fonte: TradingView
Dados compilados após o fechamento de 30/09

As únicas quedas do 3TRI24

Índices globais País de origemDesempenho do 3TRI24
Korea CompositeCoreia do Sul– 7,34%
BIST 100Turquia– 6,66%
Nikkei 225Japão– 4,11%
S&P BMV IPCMéxico– 0,69%
Fonte: TradingView

Fatores de influência sobre o Ibovespa

Selic 

As expectativas sobre a política monetária não foram determinantes somente nos EUA, no Brasil os indicadores econômicos começaram lançaram temor sobre o controle da inflação, o que forçou o BC (Banco Central) a agir através da Selic (taxa básica de juros).

O Copom (Comitê de Política Monetária) interrompeu o ciclo de cortes na taxa ainda em junho e manteve o nível dos 10,50% ao ano (a.a.) até a última reunião realizada em setembro, quando elevou a taxa a 10,75% a.a.

“A manutenção da taxa Selic em níveis elevados, como indicado pelo Boletim Focus, continuou a pressionar as ações de empresas sensíveis aos juros, como as do setor imobiliário e de consumo. Por outro lado, as ações de bancos, como Itaú Unibanco e Bradesco, se beneficiaram desse cenário de juros altos”, explicou Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações.

Comprovando a análise, os dados acumulados do final do semestre mostraram que o setor financeiro (bancos) foi um dos mais valorizados. 

Confira o desempenho dos principais bancos:

EmpresaAção negociada na B3Desempenho no 3TRI24
BradescoBBDC4+ 20,18%
Itaú SAITSA4+ 13,51%
Bradesco PrevidênciaBBSE3+ 12,36%
Itaú UnibancoITUB4+ 11,96%
Banco do BrasilBBAS3+ 5,26%
SantanderSANB11+ 3,76%
Fonte: TrandingView

Além disso, com a Selic mais alta, os papéis do segmento de utilidades públicas – energia e saneamento – também se fortaleceram no período, com os investidores menos propícios ao prêmio de risco de setores mais voláteis, como as commodities.

“O setor de energia elétrica também se destacou, com empresas como Eletrobras, Copel e Equatorial apresentando bom desempenho, impulsionadas pela expectativa de preços mais elevados de energia e potencial crescimento através de M&As e novos leilões”, afirmou  Murad.

Confira o desempenho das principais ações de utilidades públicas:

EmpresaAção negociada na B3Desempenho no 3TRI24
CemigCMIG4+ 16,58%
SabespSBSP3+ 15,72%
CopelCPLE3+ 10,72%
EletrobrasELET3+ 7,78%
TaesaTAEE4+ 1,66%
EquatorialEQTL3+ 1,61%
Engie EGIE3– 2,10%
Tran PaulistaTRPL4– 8,47%
Fonte: TrandingView

Cenário fiscal

A percepção de que o governo federal segue tendo dificuldades para conter os gastos públicos e que não conseguirá cumprir a meta de déficit primário estipulada para este na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), voltou a afastar os investimentos da Bolsa brasileira em setembro.

“Após a aprovação do novo arcabouço fiscal, crescem as dúvidas sobre como o governo conseguirá aumentar a arrecadação para cumprir suas metas fiscais, levando a uma reavaliação das expectativas de juros para o futuro​”, comentou Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest.

A equipe econômica do governo Lula tem tentado algumas ações de contingência de gastos, mas os especialistas estimam não serem o suficiente para alcançar o desejado déficit zero. 

A soma dos bloqueios orçamentários do governo anunciados desde julho já chegam a R$ 13,3 bilhões, com o corte de R$ 2,1 bilhões anunciado em 23 de setembro. No entanto, houve reversão de um contigenciamento anterior de R$ 3,8 bilhões feito em julho.

Na sessão de segunda-feira (30), o Ibovespa reagiu mal à divulgação do déficit primário de R$ 21,4 bilhões no setor público consolidado em agosto. O resultado foi menor que o saldo negativo de R$ 22,8 bilhões registrado no mesmo período de 2023, segundo o BC.

Expectativas para o Ibovespa no último trimestre

Mesmo com desafios à frente, os últimos três meses do ano também também guardam oportunidades de recuperação para o Ibovespa, na visão de Andrade. 

“A expectativa é que o ciclo de cortes na Selic continue, o que pode favorecer a Bolsa e atrair mais fluxo de investimentos, especialmente se a pressão vinda dos juros americanos diminuir”, complementou.

No entanto, o quadro econômico dos EUA e da China seguirão sendo “fatores críticos para a performance do Ibovespa”, segundo o CEO da Swiss Capital Invest, bem como a situação fiscal brasileira.

Ainda no ambiente doméstico, a economia tem demonstrado estar aquecida, com o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre muito acima do esperado, com crescimento de 1,4%, ao passo que o desemprego caiu para 6,6%, o menor patamar desde 2012. 

“A projeção de crescimento do PIB de 3% para 2024 sugere uma economia resiliente, o que pode dar suporte ao índice. Contudo, a perspectiva de juros altos persistentes, com a Selic projetada em 11,75% para o final de 2024, pode continuar a pesar sobre certos setores”, disse Murad.

“As empresas do setor de utilities, como a Sabesp, devem permanecer no radar dos investidores devido às oportunidades de privatização. Além disso, o cenário de dólar estável pode beneficiar empresas exportadoras”, prosseguiu.

Assim, o Ibovespa, que atualmente opera na casa dos 130 mil pontos, deve finalizar o ano ainda nessa faixa, contando com a valorização potencial de setores-chave como energia e bancos. 

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