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Ibovespa: volatilidade da bolsa chama atenção em setembro

Ao longo do mês, a bolsa foi influenciada por fatores internos e externos que causaram oscilação grande no seu desempenho

O fechamento com alta de 0,72% do Ibovespa desta sexta-feira (29), não reflete o que foi o setembro do principal índice acionário brasileiro. Ao longo do mês, a bolsa foi influenciada por fatores internos e externos que causaram oscilação grande no seu desempenho e resultou no acumulado de perdas que fez o B3 recuar 4,18% no período.

“Setembro está encerrando próximo a estabilidade no que diz respeito a B3, mas ao longo de todo o período de setembro tivemos muitas oscilações positivas e negativas tanto na bolsa, quanto no câmbio, quanto nas taxas de juros”, disse Alvaro Bandeira, coordenador da comissão de economia da APIMEC Brasil, ao BP Money.

Ele destaca que no mês, Bancos Centrais em todo mundo fizeram reuniões que acabaram em resultados bastante previsíveis, mostrando incertezas globais e períodos longos de políticas restritivas para levar a inflação para as metas com taxa de juros se mantendo elevada.

Em sua avaliação a bolsa foi “salva” graças ao agro e setores ligados a comercialização de commodities. “O agro mais uma vez performou bem e elevou a performance da bolsa. O comportamento das ações ligadas ao segmento de commodities e alguns ativos tiveram boa performance, minério de ferro voltou a subir, petróleo voltou a subir e isso mexeu um pouco com os mercados de uma forma geral. Algumas empresas também de cunho mais conservadores foram apropriadas pelos investidores em função de preços descontados que permanecem descontados inclusive”.

Eventos importantes

Já o head de renda variável e sócio da A7 Capital, André Fernandes, elenca três eventos importantes que mexeram com os mercados nesse último mês: China, COPOM X FOMC e o cenário fiscal no Brasil.

Sobre o gigante asiático, Fernandes diz que o País tenta retomar o ritmo de crescimento de antes da pandemia, mas ainda não conseguiu, o que afeta parceiros comerciais como o Brasil. A recente crise no setor imobiliário é mais um fator de grande preocupação.

“Apesar de todos os estímulos, o governo chinês e nem o mercado, tem visto efeitos que sinalizam uma retomada da economia chinesa, que no ano foi o “trade” que mais frustrou os agentes do mercado, que apostavam em uma forte retomada da economia chinesa em 2023 por conta do encerramento da política de COVID zero. Além dos estímulos não surtirem efeitos consistentes para uma retomada mais rápida da economia, a Evergrande, um dos maiores grupos de real estate na China, passou a não pagar os juros dos seus bonds, e passa por dificuldades com seus credore”.

Fernandes acredita que as decisões sobre a política monetária no Brasil e nos EUA foram os principais motivos que provocaram forte volatilidade nos mercados. A decisão do FOMC em manter as taxas de juros nos EUA e do COPOM em cortar 0,50%, já precificado pelo mercado, mas praticamente descartar a possibilidade de um corte maior no fim do ano (0,75%) se esvaziarem, explicam o argumento.
“Todo esse cenário criou um clima de “risk-off”, fazendo com que os ativos de risco sofressem, e provocou uma forte abertura nas curvas de juros tanto no Brasil quanto nos EUA, e acabou por derrubar as bolsas globalmente, o dólar com um cenário de juros mais altos nos EUA também se fortaleceu contra todas as moedas no mundo”, disse.

Em relação ao cenário fiscal, o especialista destaca “pontos de estresse” no campo político que atrapalharam o desempenho da bolsa.”Primeiro com a reforma ministerial, que causou estresse entre os partidos por disputas de cargo, principalmente entre membros do governo e aliados do congresso. E também há pressão de membros do governo atual por uma mudança na meta de de déficit zero em 2024, isso porque caso o governo em 2024 perceba que não vai cumprir a meta, ele deverá cortar gastos, algo que os membros do partido não querem, e isso aumentou ainda mais as dúvidas do mercado em relação ao cumprimento dessa meta que o ministro Haddad impôs”, afirmou.

“Outro ponto de estresse no cenário fiscal brasileiro, é uma possível mudança no cálculo dos precatórios a ser pagos. Com esse cenário fiscal mais incerto, ajudou a aumentar ainda mais o clima de aversão à risco, que inicialmente veio do cenário externo, e o cenário local não está ajudando a manter os ânimos mais calmos por aqui”, pontuou.