Com o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira patinando ao longo de 2021, os investidores brasileiros vêm buscando alternativas para obter retorno na renda variável, e a busca por empresas menores, chamadas de small caps, com valor de mercado na faixa de US$ 300 milhões a US$ 2 bilhões, tem sido uma das opções para alcançar esse objetivo.
E uma maneira mais acessível para o pequeno investidor ter acesso essas empresas é por meio de fundos de investimento que priorizam essas empresas menores dentro da carteira. E esse é um mercado que vem crescendo. Conforme levantamento do Valor Investe, já são 85 produtos disponíveis, entre fundos tradicionais e ETFs (fundos que copiam índice Small Caps da B3), que recebem essa classificação da plataforma Morningstar ou da Anbima, associação do setor. Ao todo, eles somam hoje um patrimônio de aproximadamente R$ 24,1 bilhões, dinheiro de 324 mil investidores, R$ 1,1 bilhão e 85 mil cotistas a mais do que em dezembro do ano passado.
O investidor precisa saber que universo das “small caps” costuma garantir mais emoções do que o investimento nas gigantes listadas na bolsa brasileira. Por outro lado, essa volatilidade maior das ações abre também espaço para oportunidades de ganhos – para quem sabe operar nesse nicho.
O Índice Small Cap (SMLL), calculado pela B3, e que reúne 128 papéis, acumula perdas de 6% neste ano, até dia 11 de outubro. Mas é possível buscar ganhos bem superiores com curadoria atenta de uma gestão especializada nas pequenas notáveis. Fundos como o Trígono Flagship 60 Small Caps e Organon FIC FIA conquistaram ganhos maiores que 50% nos primeiros nove meses deste ano.
Para obter esse desempenho, porém, é preciso saber que os gestores precisam se desviar das ações que compõem o índice da B3, e garimpar oportunidades em empresas ainda menores.
“Somos agnósticos em benchmark [índice de referência], não olhamos o índice para compor carteira. A concorrência é muito referenciada ao índice e, por isso, seu desempenho é muito similar. Nós fazemos apostas pontuais, não usamos o índice como bússola para fazer investimentos”, afirma Werner Roger, sócio e gestora da Trígono Capital, que tem fundos figurando entre os maiores retornos dos últimos anos.
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A liquidez menor dessas ações, que promove maior volatilidade dos papéis, também pode ser vista como um trunfo na estratégia dos gestores, como explica Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos.
“Com as incertezas recentes sobre o governo muitos fundos que tinham small caps acabaram vendendo as ações a qualquer preço e isso gera quedas e oscilações grandes nos ativos. É algo natural do dia a dia e, às vezes, isso gera oportunidade”, diz Cavalheiro. O Rio Verde Small Caps FIA, principal fundo da casa, não está tão bem em 2021, com perda de 15,25% no ano, mas o retorno anualizado de três anos está positivo em 16,57%.
Roger, da Trígono, também afirma que não é orientado pela liquidez dos ativos, medida que acaba barrando a entrada de algumas ações nos índices da B3. “Como olho outra coisa, vou chegar a resultados que o mercado não está vendo. Foco no horizonte mais longo, onde a assimetria de valor vai se ampliando”, diz Roger.
Cavalheiro faz avaliação semelhante e diz que o investimento em small caps é muito mais sobre o negócio das empresas do que “trade” e “market timing” (estratégia de acertar o momento de comprar e vender a ação com lucro no curto prazo). “Acreditamos muito nos negócios das empresas que investimos”, diz.
O gestor da Rio Verde conta que tem alocado recursos em empresas que acredita que são menos vulneráveis em caso de cenário político e econômico mais adverso por período prolongado. Seu estratégia é apostar em modelos de negócios que façam sentido no longo prazo, em um período de três a cinco anos. “Parte grande do portfólio está alocado no setor de infraestrutura, que tem fluxo de caixa previsível e sente pouco a conjuntura da economia. É um segmento que está expansão, independentemente da conjuntura”, diz.