Aponta especialista

Ineficiência fiscal afeta tanto investidores domésticos quanto externos

Corano enfatiza que a reação do mercado ao pacote fiscal já tem mostrado sinais evidentes.

Foto: Canva
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O recente anúncio do pacote fiscal, que tem repercutido negativamente no cenário nacional deve estender os impactos para o cenário internacional. É o que aponta Bruno Corano, economista da Corano Capital, ao BP Money.

Na análise do especialista, a “ineficiência fiscal” afeta tanto os investidores nacionais quanto estrangeiros. 

“Se existe uma sinalização de deterioração nas contas públicas, significa que o país vai assumir maior risco. Isso pressiona o aumento dos juros, ao mesmo tempo em que a moeda se desvaloriza e a inflação tende a subir. O mercado acionário fica prejudicado, e os investidores acabam buscando segurança na renda fixa ou partem para outros mercados devido à incerteza cambial”, explica Corano. 

Para ele, essa situação faz com que tanto investidores nacionais quanto estrangeiros migrem para alternativas menos arriscadas.

No entanto, Corano enfatiza que a reação do mercado ao pacote fiscal já tem mostrado sinais evidentes.

“Sem dúvida, todos os setores são atingidos, mas os mais impactados são aqueles que dependem de produtos, insumos ou matérias-primas cotadas em dólar, como alimentos e equipamentos eletrônicos. Com a alta do dólar, esses setores enfrentam um aumento nos custos, o que pressiona a inflação”, afirma o economista.

Volatilidade ou queda no mercado?

Em relação à possibilidade de maior volatilidade nos mercados, Corano acredita que a situação será mais grave do que uma simples oscilação de preços. 

“Eu não chamaria nem de volatilidade, é queda mesmo. O que estamos vendo é uma desvalorização dos ativos. Quando o mercado sente que as contas públicas não estão em ordem, a fuga de capital é uma consequência natural”, afirma.

Por outro lado, Higor de Lucas Vieira, especialista em investimentos da WIT Invest, traz uma perspectiva mais focada nas potencialidades do pacote fiscal. Vieira vê no plano uma oportunidade para reduzir a desigualdade social, com foco no aumento do consumo interno. 

“O plano visa tributar menos as pessoas que ganham até R$ 5.000, que representam quase 90% da população. Isso pode liberar mais recursos para essas famílias, o que impulsionaria o consumo e, consequentemente, o PIB”, explica Vieira.

No entanto, ele alerta para os efeitos colaterais dessa medida, principalmente em relação à inflação. “Com o aumento da demanda por bens e serviços, os preços tendem a subir, gerando uma pressão inflacionária. Um exemplo simples é o de uma padaria que, ao ter mais clientes, pode optar por aumentar o preço do pão para equilibrar a demanda. Esse efeito de aumento de preços é natural em qualquer economia”, afirma.

A reação do mercado e a fuga de capital

Vieira também reconhece que o mercado financeiro está cauteloso diante das incertezas. “O mercado financeiro tende a ser muito reativo. 

Quando as pessoas percebem um risco, como o aumento da inflação e a desvalorização da moeda, elas começam a se proteger, o que pode resultar em uma fuga de capital, principalmente de investidores estrangeiros”, comenta.

Em relação às possíveis estratégias para conter essa fuga de capital, Corano é claro em sua análise.

“Não há muito o que fazer no curto prazo. Mesmo que os juros sejam elevados, o que não acontece de forma imediata, a única solução eficaz seria o governo anunciar um contingenciamento de gastos concretos. O que vimos até agora não é suficiente para tranquilizar o mercado”, afirma.

Por outro lado, Vieira é mais otimista quanto ao potencial do pacote fiscal. “Embora a reação inicial do mercado seja negativa, acredito que é um começo. Grandes mudanças sempre geram um debate necessário, e o pacote pode ser um ponto de partida para discussões que visem reduzir a desigualdade social. O Congresso tem um papel fundamental nesse processo”, conclui.

A alta do dólar também é uma preocupação para Vieira, que destaca que, com a moeda americana cotada acima de R$ 6,00, o Brasil enfrenta desafios significativos, principalmente no setor do agronegócio e nas indústrias que dependem de insumos importados. 

“Com o dólar alto, os preços de produtos essenciais como tecnologia e alimentos aumentam, o que prejudica o poder de compra dos brasileiros. Isso cria uma tensão entre o aumento do consumo e a manutenção da estabilidade econômica”, diz o especialista.