Inflação e Selic em 2023 devem definir destino da Bolsa

Para analistas, política fiscal é a chave para o futuro da economia brasileira, e consequentemente, dos investimentos no País

As perspectivas para a Bolsa em 2023 dividem as opiniões de analistas, mas uma coisa é praticamente certa: o destino depende dos caminhos da inflação e da Selic, a taxa básica de juros, no próximo ano. Para especialistas consultados pelo BP Money, muitos fatores estão em jogo para tentar prever os números que ditam a macroeconomia brasileira. Nesta conta, entram a política fiscal do próximo governo, a política monetária do Banco Central (BC), e a situação no exterior. 

Dadas as últimas movimentações sobre o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) e a Selic, as projeções para o próximo ano são, em geral, positivas. Para Frederico Nobre, líder do time de Análise da Warren, um fator que pode impactar positivamente a Bolsa em 2023 é a diminuição do juros.

No entanto, a perspectiva do Banco MUFG Brasil é de manutenção da taxa Selic até a metade de 2023. A partir de agosto, pode-se começar a pensar em uma redução. “No nosso cenário, consideramos que o BC irá trazer a inflação para próximo da meta somente em 2024, porque, se quisesse fazer isso em 2023, teria que continuar a subir os juros, o que teria um impacto negativo sobre a atividade econômica, em um ano em que o PIB deve desacelerar em relação a 2022”, apontou Carlos Pedroso, economista-chefe do banco. 

Neste sentido, a baixa na inflação também impulsionaria a Bolsa, como explicou Paulo Henrique Pereira Balthazar, head de mesa de assessoria trader da InvestSmart XP, ao BP Money. “O prêmio de risco reduzido pode significar, por exemplo, a entrada de investidores estrangeiros, que podem se aproveitar do momento em que a relação preço/lucro da Bolsa se encontra em patamares muito atraentes, bem abaixo do normal”, disse o analista.

O Banco MUFG Brasil também projetou a inflação para 2023. Segundo Pedroso, a perspectiva é de 4,7% no próximo ano, pouco abaixo do teto da meta de 4,75%.

Ainda assim, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) espera que a inflação em 2023 tenha um ritmo de elevação muito próximo do verificado neste ano. A convergência, na visão da associação, só ocorreria em 2024. “Há muita incerteza quanto ao comportamento de algumas variáveis que têm impacto no indicador”, explicou Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, superintendente da assessoria econômica da ABBC.

Além disso, projetando um cenário de simples manutenção do cenário inflacionário e de juros atual, Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, ressaltou que empresas de crescimento tendem a sofrer bastante. “Isto porque para crescer, é necessário emitir títulos de dívida ou tomar financiamentos, o que fica muito caro diante da elevação da taxa de juros”, apontou. 

“Fiscal” é a palavra chave para inflação e Selic em 2023

Dadas as perspectivas para a inflação do MUFG, Pedroso explicou que os aumentos de gastos públicos no próximo, projetados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), devem levar a um aumento de impostos com impacto direto na inflação. Por isso, apesar de se manter otimista, o banco também avalia a possibilidade de uma inflação próxima dos 6%. 

“Por conta do aumento projetado de gastos públicos, o governo deve procurar elevar suas receitas no curto-prazo e para isso tende a retomar o PIS/Cofins e Cide sobre combustíveis que haviam sido zerados, assim como reavaliar a redução/isenção de IPI feita sobre produtos industrializados. O aumento desses impostos têm um impacto direto da ordem de 1,2 ponto percentual, o que elevaria a nossa projeção de inflação para perto de 6%”, explicou o economista. 

O mercado também se apega a essa possibilidade. No entanto, Nobre, da Warren, explicou que, caso o arcabouço fiscal seja menos ruim do que o mercado está projetando, é possível  que o juros comece a cair. “Mesmo assim, não vemos essa possibilidade até o meio do ano que vem, pelo menos”, ressaltou.

Brasil x Mundo

As comparações do Brasil com o mundo não são apenas uma corrida contra um “ciclo econômico negativo”. Para Balthazar, da InvestSmart XP, outro fator que pode influenciar positivamente a Bolsa é uma provável reabertura total da economia chinesa. “Vale ressaltar que cerca de 30% do nosso índice são commodities, que sofrem influência direta da expectativa de atividade econômica mundial, da qual a China responde por grande parte”, apontou.

Olhando para além do Brasil, na visão da Matriz Capital, o Brasil supera países emergentes, como México, Chile e África do Sul. 

Para a ABBC,  o processo de ajuste monetário está mais adiantado quando comparado com as principais economia do mundo. No entanto, dependendo do grau de impacto das variáveis da economia internacional, para Gonçalves, a dinâmica interna poderá ser afetada, “principalmente pelo canal dos prêmios de riscos e termos de troca”, disse.

A Warren também enxerga que o ciclo de alta de juros já se encerrou no Brasil, em um movimento de antecipação na comparação com outros países. “Naturalmente a nossa inflação também caiu mais rápido. Estamos à frente do ciclo econômico de vários países no mundo que ainda estão subindo juros, como EUA e a maioria da Europa”, finalizou o analista. 

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