Análise de especialistas

IPO: como fazer, riscos e desafios do mercado brasileiro

O Brasil vive, atualmente, um longo período sem a realização de IPOs na B3

IPO
Foto: Unsplash

Processo pelo qual uma companhia privada oferece suas ações ao público pela primeira vez e se torna, então, uma empresa de capital aberto na Bolsa de Valores. Esta é a definição de IPO (oferta pública inicial) – citado algumas vezes pela imprensa ao longo das últimas semanas.

Um dos motivos foi devido à declaração da empresária Bianca Andrade – conhecida pelo nome de sua marca, Boca Rosa, – sobre a abertura de capital da empresa a médio prazo para possibilitar a expansão internacional.

Após uma parceria de seis anos com a Payot, Bianca passou a realizar a gestão de forma autônoma e lançou a sua própria marca, a Boca Rosa Beauty, como parte das atividades da holding Boca Rosa Company.

Quem também está de olho no IPO é o PicPay. Fontes disseram à Bloomberg que o app bancário, pertencente à holding da família dos irmãos Batista, contratou o Citigroup para tentar fazer um IPO nos EUA. A empresa já havia tentado o negócio em 2021, mas desistiu.

Ademais, a Cosan (CSAN3) contratou o BofA (Bank of America), JPMorgan Chase (JPMC34) e Citi (CTGP34) para realizar um possível IPO nos EUA de sua subsidiária produtora e distribuidora de lubrificantes, a Moove.

Mas, afinal, o que é preciso para lançar uma oferta pública inicial? Segundo Rodrigo Leite, Professor de Finanças e Controle Gerencial do Coppead/UFRJ, a empresa precisa ter “porte maior”, já que os custos para o processo são elevados.

Além disso, Leite afirmou que é necessário acompanhamento de um banco de investimentos para realizar a parte burocrática da listagem na Bolsa, além de padrões mínimos de governança corporativa e de auditoria.

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, chamou atenção para o fato de que uma abertura de IPO deve ser feita “com muita cautela e planejamento por muitos anos”. Cardozo também destacou que são necessários, ao menos, três anos de balanços auditados por uma empresa externa.

Quais são os riscos ao realizar um IPO?

Apesar de ser uma das formas mais baratas para uma empresa conseguir se captalizar, se comparado a tomar esses recursos junto aos bancos, nem tudo são flores quando se trata de realização de IPO.

Elcio destaca que, caso a empresa não tenha um planejamento bem definido, o mercado pode sancioná-la com desvalorização das ações, diminuindo o seu valor de mercado.

Cassiana Garcia, planejadora financeira CFP e sócia-fundadora da The Hill Capital, também pontuou o risco da exposição pública.

“Essas empresas têm a obrigatoriedade de divulgar todas as informações financeiras e estar aderida a regulamentação da CVM (Comissão de Valores Imobiliários), que faz exigência rigorosas de transparência para a segurança do investidor acionista. Há também possíveis riscos operacionais e de imagem como Governança, reputação e percepção de valor”, afirmou Garcia.

Como está situado o mercado brasileiro?

O Brasil vive, atualmente, um longo período sem a realização de IPOs na B3. O último aconteceu em 2021, da empresa Vittia (VITT3). Apesar disso, comparado aos demais países da América Latina, o país possui um número “relativamente alto” de ofertas públicas iniciais nos últimos 5 anos.

O problema é quando a comparação se estende às demais regiões, como EUA, Reino Unido e China. No país norte-americano, por exemplo, apenas no 1TRI24 foram feitos 48 IPOs.

“Esse fenômeno costuma ocorrer em períodos de instabilidades e incertezas no mercado de ações. A alta inflação e taxas de juros nestes últimos anos afastou as potenciais empresas de realizarem sua abertura de capital na Bolsa de Valores”, explicou Elcio.

Na avaliação de Cassiana, apesar de ter um “potencial significativo”, o mercado brasileiro de IPOs enfrenta desafios distintos em comparação a outros mercados globais.

“Enquanto mercados como os EUA e China oferecem maior volume e liquidez, o Brasil continua a ser uma opção viável para empresas locais e regionais que buscam capital. A chave para o sucesso no mercado de IPOs brasileiro reside na estabilidade econômica, políticas regulatórias favoráveis e um ambiente de negócios que incentive a inovação e o crescimento sustentável”, destacou a especialista.

É devido às adversidades influenciadas por fatores econômicos, políticos e regulatórios que empresas têm, cada vez mais, feito o movimento de abrir IPO no exterior. Em 2021, o número de companhias brasileiras que optaram por fazer a oferta pública inicial em Nova York bateu o recorde.

Elcio Cardozo explica que um dos motivos para esta preferência é o acesso a um mercado mais difundido entre os investidores e a liberdade de escolha entre diversas bolsas de valores. Nos EUA, a maior parte das empresas brasileiras opta pela NYSE ou Nasdaq.

“Além disso, a abertura de capital em bolsas estrangeiras proporciona maior visibilidade global e maiores possibilidades de captação de recursos, tendo em vista a maior difusão do mercado de ações entre os investidores”, completou mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

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